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F-1 chega à Arábia Saudita incomodada com questões sobre direitos humanos
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Pisar em território inexplorado não é exatamente uma novidade para a F-1. Só neste século, a categoria correu em dez países onde nunca havia estado: Turquia, Rússia, Bahrein, China, Coreia do Sul, Índia, Singapura, Emirados Árabes Unidos, Azerbaijão e Qatar.
Mas desta vez há algo diferente no ar. A expectativa em torno dos próximos dias e do GP que vem pela frente é incomum, tem um quê de tensão e extrapola o esporte. A Arábia Saudita será o 35º país a receber uma etapa em 72 anos de Mundial. E o mais controverso.
Desde que foi anunciada no calendário, em novembro do ano passado, a corrida tem sido alvo de organizações defensoras dos direitos humanos e entrou na pauta das conversas no paddock. Muita gente na categoria está preocupada sobre como será esta semana.
A ONG Human Rights Watch, por exemplo, defende que a realização do GP deveria estar condicionada à libertação de mulheres que desafiaram a proibição de dirigir no país.
"A F-1 é mais um evento esportivo de uma série crescente na Arábia Saudita que aparentemente tem como objetivo encobrir os sérios abusos contra os direitos humanos que são praticados no país", escreveu a entidade.
Só em 2018 o governo saudita permitiu que mulheres dirigissem carros, mas, segundo a ONG, ativistas do movimento que lutou por essa conquista permanecem presas até hoje.
Esta é apenas uma das incontáveis denúncias de abusos cometidos pela ditadura saudita, sempre em destaque nas listas de violações de direitos básicos publicadas mundo afora.
A Arábia Saudita, por exemplo, aparece em 156º lugar entre 167 países do Ranking da Democracia, produzido anualmente pelo grupo que publica o jornal "The Economist", na Inglaterra. Já o Índice da Liberdade, produzido por entidades dos EUA, do Canadá e da Alemanha, deu a pior nota possível à situação vivida pela população do país: "não livre".
Nada disso é novidade. Assim como não é o envolvimento dos sauditas com a F-1, diga-se.
Anteontem mesmo festejamos a vida de Frank Williams, um herói do esporte. Pois parte do sucesso de sua equipe foi bancado por empresas sauditas, na virada dos anos 70 para os 80.
Pegue uma foto do primeiro título da Williams, com Alan Jones. Está lá, na lateral do carro: Bin Laden. Trata-se da construtora da família do terrorista que chocaria o mundo 20 anos atrás.
Quer outro exemplo? A McLaren teve como principal acionista, por anos e anos, o empresário Mansour Ojjeh, nascido na Arábia Saudita, morto em junho deste ano.
As novidades que agitam o paddock são duas.
A primeira, viajar para um país com leis tão restritivas. Meses atrás, equipes e jornalistas chegaram a receber um "código de condutas e vestimentas" para o GP. As regras proibiam o uso de saias e shorts, por exemplo. O documento foi revogado no fim do mês passado, após gerar desconforto nas equipes e muitas críticas da imprensa.
A segunda novidade é um alento: o engajamento de alguns pilotos, Vettel e Hamilton à frente, em causas humanitárias.
Neste ano, ambos já usaram capacetes com as cores do arco-íris para denunciar perseguições aos LGBTQIA+ em países que receberam etapas do Mundial: o alemão na Hungria, o inglês no Qatar.
No fim de semana de Losail, Vettel foi questionado por repórteres se estava ansioso por correr na Arábia Saudita. Respondeu, primeiro, de forma lacônica: "Não". Após algum titubeio, completou: "Não sei... É uma pista nova, vamos ver".
Já Hamilton, que correu e venceu a última etapa do Mundial com seu capacete colorido, deu a entender que pode repetir o gesto no próximo fim de semana.
Em Losail, ao explicar sua manifestação, o inglês afirmou que havia meses vinha pensando nas questões levantadas pelas três últimas corridas do ano. Ou seja, não deve se calar na Arábia Saudita e em Abu Dhabi.
Como as autoridades sauditas vão se comportar diante de uma manifestação por direitos humanos é uma incógnita. Como a F-1 orientou os pilotos a agir é uma história ainda a ser apurada.
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