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FIA recorre a receita antiga para comandar F1
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Michael Masi caiu. Esta é a segunda notícia mais importante da F1 hoje.
A primeira é o retorno da F1 a métodos antigos, a uma receita dos anos 80 e 90 e que tem as digitais de Bernie Ecclestone.
A queda do australiano é o item mais chamativo de um pacote de cinco medidas anunciadas pelo novo presidente da entidade, o emirático Mohammed Ben Sulayem, que recebeu uma herança maldita de Jean Todt: limpar a lambança do último Mundial.
Confirmando uma informação que já circulava pelos bastidores, a FIA esvaziou o poder da função desempenhada por Masi desde 2019 e, antes dele, pelo todo-poderoso Charlie Whitting, morto no início daquele ano.
A partir de agora, dois profissionais se revezarão no papel ao longo das etapas do Mundial: o alemão Niels Wittich, que estava na DTM (o Turismo alemão) em 2021, e o português Eduardo Freitas, há anos diretor de provas do WEC, o Mundial de Endurance.
A FIA informou que oferecerá um novo cargo para Masi na sua estrutura.
A segunda medida é, na minha opinião, mais importante. Porque indica o que vem a seguir. Com um gosto de passado. Evoca uma receita antiga: o trabalho de ambos será supervisionado por Herbie Blash. O que também é uma homenagem aos métodos e à memória de Whitting.
Blash e Whitting trabalharam juntos na Brabham nos tempos de Ecclestone. Sempre foram seus homens de confiança. E assumiram postos de comando na F1 quando o patrão assumiu a categoria.
Blash estava afastado desde 2016, justamente quando era o braço direito de Whitting. Agora retorna com mais força e status de "reserva moral".
Detalhe: a brasileira Fabiana Ecclestone, mulher de Bernie, assumiu como vice-presidente para a América do Sul na chapa do novo presidente da FIA. Coincidência?
A FIA anunciou ainda uma espécie de VAR. E citou a inspiração no seu comunicado oficial. "Criaremos uma sala de Controle de Corrida Virtual, similar ao VAR do futebol. Isso vai ajudar o diretor do GP com a aplicação das regras", informou a nota.
O quarto ponto já era conhecido, já havia sido informado por Ross Brawn em dezembro: as comunicações via rádio entre chefes de equipe e o diretor de prova não serão mais exibidas pela transmissão de TV. Os questionamentos continuarão, mas por um processo "novo, não intrusivo e bem definido".
Por fim, a quinta medida. A FIA colocou o dedo na ferida. A entidade afirmou que vai rever procedimento para carros retardatários atrás do safety car.
Esta foi uma das principais reclamações da Mercedes na origem de todo o imbróglio, o GP de Abu Dhabi, que deu o título mundial a Verstappen.
Hamilton chegou a ter o oitavo título nas mãos até a última volta da corrida, última etapa do ano, mas foi ultrapassado pelo holandês instantes após o safety car sair da pista. O heptacampeão e a Mercedes alegam inconsistência nas decisões de Masi.
No Azerbaijão, em junho, diante de cenário muito parecido _acidente nas últimas voltas_, Masi determinou bandeira vermelha e largada com grid estático. Em Abu Dhabi, a decisão foi por bandeira vermelha e relargada após a saída do safety car.
Além disso, ele ordenou que cinco retardatários saíssem do meio da disputa entre os dois rivais. Outros três retardatários, porém, foram mantidos em suas posições originais, interferindo em disputas no meio do pelotão.
A Mercedes entrou com um recurso contra as decisões do diretor de prova ainda em Abu Dhabi, foi derrotada, e ameaçou apelar. Dias depois, voltou atrás, alegando acreditar nos esforços da FIA para tornar as regras mais claras e o esporte, mais robusto.
Logo ficou claro que a decisão da Mercedes foi resultado de um acordo de bastidores: em troca, a FIA demitiria Masi.
Até que isso acontecesse, Hamilton sumiu do mapa. Foram exatos 55 dias sem postar nada nas redes sociais, o que é significativo para um personagem tão midiático. Puro jogo de pressão para que a FIA cumprisse sua parte no acordo.
Deu certo. Duas semanas atrás, o inglês voltou às redes. Hoje, Masi rodou.
No comunicado da FIA, o presidente Ben Sulayem fala no "início de uma nova era na arbitragem das corridas". Isso é tudo do que a F1 precisa.
Já escrevi isso aqui algumas vezes, desde a primeira encarnação do blog. É inaceitável que um esporte como a F1, com tanta tecnologia embarcada, com tantas megacorporações envolvidas e com tantos fãs mundo afora, tenha um regulamento tão fraco, tão cheio de falhas e aberto a dúvidas e interpretações.
A primeira parte foi feita hoje. É fundamental que a FIA, agora, se dedique a rever as regras. Wittich e Freitas serão apenas os instrumentos para aplicá-las.
Mas gostei. Ben Sulayem atacou os pontos certos.
O primeiro não europeu a comandar a FIA começou bem sua jornada.
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