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Fábio Seixas

REPORTAGEM

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Fórmula 1 busca solução para carros pararem de pular

Charles Leclerc, um dos pilotos que sofreram com o sobe-e-desce dos carros de F1 nos testes em Barcelona - Ferrari
Charles Leclerc, um dos pilotos que sofreram com o sobe-e-desce dos carros de F1 nos testes em Barcelona Imagem: Ferrari

Colunista do UOL

04/03/2022 04h00

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A duas semanas do primeiro treino livre do Mundial, engenheiros da F1 quebram a cabeça para tentar resolver um problema tão desconfortável quanto perigoso e que remete ao fim dos anos 70, início dos 80.

A volta do efeito-solo fez ressurgir um efeito colateral: carros que pulam. Ou, já explicando melhor, assoalhos que batem e rebatem no asfalto, num sobe-e-desce veloz e bizarro.

Este vídeo aqui, divulgado pela própria F1 na semana passada, ilustra bem a situação. A imagem da Ferrari de Leclerc, aos 39 segundos, é impressionante...

Responsável por uma revolução na F1 entre o fim dos anos 70 e o início dos 80, o efeito-solo usa o assoalho do carro como um componente aerodinâmico. Seu funcionamento é baseado no efeito Venturi: o assoalho opera como um funil, com entrada de ar ampla e saída estreita. Na prática, isso pressiona o carro contra o solo, em tese tornando-o mais estável.

O sistema estava banido da categoria desde 1982. Voltou agora como solução para um velho sonho dos dirigentes: proporcionar mais ultrapassagens, melhorar o espetáculo dos GPs. O efeito-solo permite reduzir a importância dos aerofólios. Asas menores causam menos turbulência e, portanto, facilitam a aproximação entre adversários nas corridas.

A teoria é muito bonita. Mas a prática, até agora, aponta para outro caminho.

Antes de tudo, vale lembrar o porquê do banimento do sistema nos anos 80. O ajuste da altura do assoalho em relação ao solo é muito delicado, uma sintonia fina. As velocidades em curva aumentam. Mas se algo errado acontece com as laterais do carro, que retêm o ar, tudo pode sair do controle. É uma mistura indesejável.

O período em que o efeito-solo vigorou foi marcado por muitos acidentes graves, alguns com mortes. Não eram raros também casos de quebras de suspensão que não aguentavam tantos baques contra o asfalto.

O caso de Patrick Depailler exemplifica o cenário descrito acima. No dia 1º de agosto de 1980 ele estava testando em Hockenheim, enfrentou uma quebra de suspensão e perdeu o controle na Ostkurve, a 270 km/h. Sua Alfa Romeo se arrebentou no guard rail. Ele morreu ali mesmo.

Mas por que tanto pula-pula? Em entrevista ao site "Racecar Engineering", Jody Egginton, diretor técnico da AlphaTauri, explica o fenômeno.

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Jody Egginton (no centro, de máscara preta), diretor técnico da AlphaTauri, nos testes em Barcelona
Imagem: Peter Fox/Getty Images/Red Bul

"Quanto mais próximo o assoalho estiver do chão, melhor é o funcionamento do efeito-solo. Há um benefício aerodinâmico claro nisso. Então, claro, todos tentam explorar isso. Ao mesmo tempo, mais proximidade do solo aumenta o risco de choques no asfalto", explica.

Segundo ele, quando o choque acontece, o efeito-solo é anulado. O carro volta para a altura normal. E então o processo recomeça. É um ciclo.

Em Barcelona, nos testes da semana passada, a cena foi frequente: carros subindo e descendo, batendo no solo, pilotos reclamando.

Agora na Alfa Romeo, Bottas classificou a experiência de "desconfortável". "É complicado. Afeta o controle do carro. Ao longo de uma corrida, pode causar quebras", disse.

Diretor da GPDA, a associação dos pilotos, Russell, agora na Mercedes, afirmou estar preocupado. "Se não controlarmos isso, pode ser perigoso. Vamos ver como será no Bahrein. Espero que até lá as equipes encontrem soluções para o problema".

A volta de outro velho sistema, a suspensão ativa, é apontada por muitos como uma saída. Mas a medida implicaria novos investimentos para as equipes num cenário em que respeitar o teto de custos é uma das grandes dificuldades para cumprir a temporada.

O jeito, por enquanto, é esperar os testes da semana que vem no Bahrein, entre os dias 10 e 12. A equipe que encontrar uma solução pode até não estar na frente da folha de tempos. Mas seus pilotos certamente estarão muito mais tranquilos.