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Fábio Seixas

REPORTAGEM

Texto que relata acontecimentos, baseado em fatos e dados observados ou verificados diretamente pelo jornalista ou obtidos pelo acesso a fontes jornalísticas reconhecidas e confiáveis.

Entenda a novidade apresentada pela Mercedes no Bahrein

Lewis Hamilton testa com o carro da Mercedes, com uma nova lateral, nesta quinta-feira no Bahrein - Mercedes
Lewis Hamilton testa com o carro da Mercedes, com uma nova lateral, nesta quinta-feira no Bahrein Imagem: Mercedes

Colunista do UOL

10/03/2022 16h19

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Vamos direto ao assunto: a Mercedes.

Em janeiro escrevi um post intitulado "Toda a beleza de uma brecha no regulamento". Versava sobre as mudanças da F1 para este ano e trazia declarações de Brawn. O artífice das regras de 2022 falava sobre o esforço para impedir que os atuais projetistas repetissem o que ele fez em 2009: achar uma interpretação do regulamento que significasse vantagem nas pistas.

"Nosso grupo passou algum tempo olhando para pontos sensíveis de diferentes áreas para entender se havíamos deixado algo para trás que permitisse às equipes mexerem no desenho dos carros. Depois, veio uma fase em que tentamos estressar as regras para encontrar brechas", explicou o inglês numa entrevista ao "New York Times". "Mas não posso ter a pretensão de achar que vamos encontrar todas as brechas".

Questionado se esperava o surgimento de um novo "difusor duplo" em 2022, primeiro disse que não. Mas depois lançou: "Nunca se sabe. Ninguém esperava aquilo até que aconteceu".

A versão 2022 pode ter acontecido nesta quinta-feira.

A Mercedes deixou a F1 boquiaberta assim que abriu seus boxes no Bahrein, no primeiro dia da última bateria de testes coletivos da temporada. Como assim? Cadê os sidepods?

Estamos falando das entradas de ar e dos radiadores laterais. Praticamente não aparecem no W13 que foi à pista hoje. O carro é um charuto com asas, suspensões e rodas. O visual é radicalmente diferente do modelo da Ferrari, por exemplo, em que dá pra preparar uma mesa de jantar sobre as laterais.

"Não antecipamos este conceito", disse Brawn, que imagino estar entre o encanto e a decepção. "É uma interpretação muito extrema do regulamento. Inevitavelmente vai haver muito debate sobre isso. É isso o que acontece com novas regras. Por mais que tentemos fechar todos os buracos, e acreditem que foram centenas deles, a inovação na F1 é enorme."

Mas como a Mercedes fez isso? E qual é a vantagem?

O grande objetivo, como sempre, foi reduzir a resistência ao ar. Mas como fazer isso se Regulamento Técnico estipula as dimensões dos mastros de proteção a impactos laterais?

Aí veio a sacada da Mercedes. O regulamento não diz que essas estruturas precisam estar dentro da carenagem. Bingo!

Está vendo a foto abaixo, essas hastes logo atrás das rodas dianteiras, marcadas com círculos vermelhos? São o tal do SIS (Side Impact Structure), a estrutura de proteção a impactos laterais. São quatro hastes, ou mastros, dois de cada lado do carro. Estão lá, dentro das regras.

A carenagem não precisa acompanhá-los.

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O novo design da Mercedes; nos círculos vermelhos, as estruturas de proteção a impactos laterais, agora fora da carenagem
Imagem: Mercedes

Qual é a vantagem? Em tese, o carro terá uma aerodinâmica mais eficiente do que a concorrência. Na prática, ainda temos que ver. Os testes escondem muita coisa, só teremos uma dimensão real da novidade nos primeiros treinos livres da temporada.

Mas vale uma pensata: a Mercedes só mostrou isso hoje, a oito dias da abertura do Mundial. Não há tempo para ninguém copiá-la, pelo menos nas primeiras corridas do ano.

Se tivesse mostrado a novidade em Barcelona, no fim de fevereiro, correria o risco de alertar a concorrência. Isso deve significar que os resultados no túnel de vento foram promissores.

Já escrevi aqui algumas vezes no ano passado, vale reforçar agora: a Mercedes dificilmente erra. Foi cruel, muito cruel.

A polêmica prevista por Brawn, claro, já começou. Horner disse a "Auto, Motor und Sport", da Alemanha, que a inovação parecia ser ilegal. Como ele sabe que nosso carro é ilegal apenas meia hora depois de vê-lo pela primeira vez?", rebateu Wolff.

A Red Bull primeiro negou a declaração do seu chefe, mas depois informou que "oficialmente" não tem comentários a fazer. Ou seja, Horner falou.

Pessoalmente, como escrevi em janeiro, adoro essas coisas. Repito abaixo o que escrevi:

"Amo a competição na pista, os duelos, os carros batendo rodas e trocando tinta. Tenho fascínio pela relação homem-máquina, por essa simbiose tão antinatural, pela busca dos limites de um lado e outro. Curto os grandes personagens, heróis e anti-heróis, seres tão diferentes mas que têm em comum o controle da velocidade.

Mas, ao longo dos anos, aprendi a admirar também o jogo de xadrez, ou a brincadeira de gato e rato, entre os criadores das regras e os engenheiros. É um desafio constante, com doses de provocação e pitadas de transgressão.

E minha torcida, admito, é pelos 'transgressores'. Torço para alguém encontrar uma brecha nas letras do regulamento, ter uma sacada genial, mudar a ordem das coisas, criar uma bagunça no campeonato, fazer as outras correrem atrás."

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Pierre Gasly, da Alpha Tauri, o mais rápido do primeiro dia de testes da Fórmula 1 no Bahrein
Imagem: Mark Thompson/Getty Images/Red Bull

Quinze pilotos foram à pista hoje. O melhor tempo ficou com Gasly, 1min33s902. Para efeito de comparação, a pole do ano passado, de Verstappen, ficou em 1min28s997. Ou seja, ainda há muita margem para evolução.

Sainz, Leclerc, Stroll e Albon completaram o top 5. Hamilton, que andou pela manhã com o W13, ficou com o 11º tempo. Russell, que assumiu o carro à tarde, foi o nono.

Em termos de quilometragem, que importa mais neste momento, a Red Bull foi a equipe que mais andou, 746 km, seguida pela Mercedes, com 660 km.

A Haas andou só à tarde, com Pietro, que completou 254 km. A equipe americana pediu às colegas para fazer uma sessão extra de testes, no domingo pela manhã, já que perdeu metade do dia de hoje por causa de um atraso no voo que levou seus equipamentos para o Bahrein.

Não conseguiu. McLaren, Alpine e Alfa Romeo se opuseram ao pleito.

A F1 não é para os fracos.