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Fábio Seixas

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

Pílulas do Dia Seguinte: Ferrari teve foco e calma para planejar 2022

Charles Leclerc e Carlos Sainz, da Ferrari, no pódio do GP do Bahrein, que abriu o Mundial 2022  - Ferrari
Charles Leclerc e Carlos Sainz, da Ferrari, no pódio do GP do Bahrein, que abriu o Mundial 2022 Imagem: Ferrari

Colunista do UOL

21/03/2022 08h05

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A Red Bull nega veementemente que seus pilotos tenham ficado sem combustível, boato que circulou pelo circuito e pelas redes sociais após a abertura do Mundial. Segundo a equipe, tanto Verstappen como Pérez foram vítimas de panes no sistema de bombas que leva a gasolina do tanque para o motor. No sábado, outros times sofreram com isso, tanto que a FIA permitiu que os engenheiros ficassem no parque fechado por uma hora a mais para inspecionar a "bomba primária", peça que é padrão para todo o grid, produzida pela Marelli;

O discurso de Verstappen após sua primeira corrida como campeão e seu "contrato eterno" com a Red Bull vale uma leitura atenta. Porque mostrou, em primeiro lugar, um piloto consciente do prejuízo: "Não havia gasolina indo para o motor, então tudo desligou e só consegui ir rodando até o pitlane. Perder tantos pontos é muito decepcionante. A luta pelo título pode ser muito apertada e esses pontos seriam importantes";

A entrevista mostrou também um piloto em esforço de autoafirmação, mandando recados para o paddock. Ele fez questão de enaltecer a lealdade de seu duelo com Leclerc. "Vocês viram... Na curva 1, eu não arrisquei muito. Depois, tive uma disputa limpa com o Charles. Eu estava feliz com o segundo lugar aqui." Por fim, bateu o pé e não retirou as críticas que fez ao carro durante a prova. Houve um momento em que ele disse que o RB18 estava "todo cagado". "Eu disse o que estava pensando. Eu não estava feliz com que estávamos fazendo, com o equilíbrio do carro e com a estratégia", completou. Em três atos, temos aqui o mais puro suco de Verstappen;

Em tempo, e fechando o capítulo Red Bull: o problema que ele reportava no volante era, na verdade, num dos braços que ligam o sistema de direção às rodas. Houve um dano no segundo pit stop. Em português bem claro: fizeram besteira no pit e amassaram o negócio. O inglês Craig Scarborough, que sabe tudo de engenharia da F1, desenhou e colocou nas redes...

E a Ferrari? A declaração que melhor escancarou a mudança na relação de forças não veio da equipe de Maranello, mas de uma cliente. "A Ferrari hoje tem o melhor motor da F1", disse Steiner, o chefe da Haas, ainda antes da corrida. Da mesma forma, o desempenho das equipes que usam os motores italianos falou tão alto como a dobradinha no pódio. Foram cinco motores Ferrari entre os top 10, e ver Zhou pontuar na estreia, com a Alfa Romeo, deve significar alguma coisa;

Para entender o que aconteceu, temos de voltar alguns meses no calendário. Em agosto, antes do GP da Bélgica, escrevi aqui no blog que a Ferrari estava preparando uma evolução do motor que poderia transformá-la num coringa na disputa então polarizada entre Mercedes e Red Bull. "Este vai ser um passo significativo, assim como um primeiro teste para 2022", dizia Binotto, na ocasião. Mas nem tudo saiu como ele imaginava. A tal evolução demorou mais do que a escuderia previa e só foi colocada em ação no fim da temporada. Não houve tempo de embaralhar as cartas em 2021. Mas em 2022...;

É este o xis da questão. Enquanto Mercedes e Red Bull se engalfinhavam GP após GP no ano passado, com discussões e polêmicas avançando pelos meses seguintes, a Ferrari teve tempo, foco e calma para planejar 2022. Fez a lição de casa direitinho. E o resultado está aí. Noves fora os azares de Verstappen e Pérez na corrida, a escuderia italiana andou consistentemente na frente no Bahrein. A pole de Leclerc no sábado foi inapelável, assim como suas retomadas de liderança nas três vezes em que o holandês o atacou na corrida;

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O holandês Max Verstappen, da Red Bull, ao abandonar o GP do Bahrein, que abriu a temporada
Imagem: Clive Rose - Formula 1

O Regulamento Técnico da F1 prevê o congelamento das especificações dos motores até o fim de 2025. A ideia é controlar gastos em desenvolvimento. Ou seja: Mercedes e Red Bull precisarão ser muito, muito engenhosas para alcançar a Ferrari. Terão de fazer, agora, o que não fizeram no ano passado. Um ponto importante é maximizar o funcionamento das unidades de potência com o novo combustível E10, que leva 10% de etanol;

E a virada do Sainz? Há um ano, ele começava sua vida na Ferrari com uma solução temporária, um tapa-buraco. Nos planos da escuderia, ficaria por lá por dois anos e então seria substituído por Schumacher em 2023. Mas seu desempenho mudou todo o planejamento. O espanhol terminou o Mundial passado em quinto lugar, duas posições à frente de Leclerc. Segundo a "Autosport", sua renovação com a equipe já está encaminhada;

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Integrantes da Haas comemoram os resultados no Bahrein: 5º para Magnussen e 11º para Schumacher
Imagem: Haas

Por outro lado, o caminho de Schumacher pode não ser tão fácil como ele imaginava. Ter Magnussen como companheiro é uma bela oportunidade de aprendizado, mas é também uma comparação que pode arranhar sua imagem. O dinamarquês já teve muitas chances na F1 e nunca brilhou. Perder para Magnussen pode escancarar que o filho do heptacampeão não é, assim, tão especial a ponto de já ter assento garantido numa Ferrari;

Wolff comparou a experiência da Mercedes fim de semana a uma "ilha deserta". A equipe estava isolada na corrida: distante tanto das líderes como dos ataques de quem vinha atrás. As quinta e sexta posições eram a realidade na corrida de ontem. Hamilton não quis falar em sorte do time nas últimas voltas. Preferiu tocar num ponto importante, um velho ditado das corridas: antes de chegar bem, é preciso chegar. E aproveitou para dar uma cutucada nos rivais: "Fizemos um trabalho melhor, temos mais confiabilidade";

Leclerc pode ser campeão mundial? Sim. Tem todas as qualidades para isso.