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Com GP em Las Vegas, F1 realiza obsessão de décadas
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Ao anunciar o GP de Las Vegas, executivos da Liberty devem ter reclinado suas cadeiras, cruzados os pés sobre as mesas e apreciado, por alguns instantes, o doce sabor da vitória.
Historicamente um território impenetrável para a F1, os EUA terão três etapas por, pelo menos, três anos seguidos. O país está conquistado. É a realização de uma antiga obsessão que os antecessores da Liberty, com Ecclestone à frente, tentaram, tentaram, mas jamais conseguiram.
Nos anos 50, quando a F1 foi criada, a solução criada foi incorporar as 500 Milhas de Indianápolis ao calendário. Nunca deu certo. Eram poucos os pilotos e equipes que se aventuravam a cruzar o Atlântico para correr uma prova tão única, tão perigosa e que requeria um carro tão diferente. Era mais fácil ignorá-la e deixar aqueles pontos para os americanos.
Pelos anos seguintes, pistas como Riverside e Sebring receberam GPs, mas foi Watkins Glen, no Estado de Nova York, que conseguiu dar algum respiro à categoria. Foi o melhor momento da F1 por lá, com corridas memoráveis como a primeira vitória de Emerson, em 1970, resultado que deu o título a Rindt, ex-companheiro de Lotus _único campeão póstumo da F1.
A partir dos anos 80, a história da F1 nos EUA tornou-se errática. A categoria pipocou por circuitos como Phoenix, Dallas, Long Beach e Detroit. Correu até mesmo em Las Vegas, em 1981 e 1982 _o primeiro título de Piquet foi celebrado lá. Eram todos circuitos de rua, e o plano era claro: já que as pessoas não vêm até a gente, vamos levar as corridas até elas.
Nada disso foi suficiente para tocar o coração do público americano e, por quase toda a década de 90, entre 1991 e 1999, os EUA ficaram fora do calendário. Foram os anos de "boom" da Indy, movimento que culminou com sua própria divisão, e de forte crescimento midiático da Nascar.
Ecclestone, então o homem forte da F1, não se conformava em deixar de lado um mercado daquele tamanho. Então deu mais uma tacada.
Em 2000 a F1 anunciou mais uma tentativa: correr em Indianápolis, num circuito misto que aproveitava partes do superoval. Quando o público americano começava a gostar daquele negócio, veio o fiasco de 2005: com um problema na construção dos pneus, a Michelin orientou suas equipes a não largar. A corrida aconteceu com apenas seis carros, o que resultou no único pódio da carreira do português Tiago Monteiro, da Jordan _à frente, como de hábito naquela temporada, Schumacher e Barrichello, da Ferrari. Um vexame.
A F1 deixou os EUA de novo em 2008 e só retornou em 2012, para o Circuito das Américas, no Texas, um empreendimento com visão global: mirava também a MotoGP e outras categorias internacionais. Não foi um sucesso estrondoso de público nos primeiros anos, mas estava lá, fazendo seu papel, ocupando o território. Foi, enfim, algum alento para Ecclestone.
Tudo ganhou um novo significado há pouco mais de cinco anos. A Liberty, um grupo americano de mídia, comprou a F1 e, como seria lógico, olhou para seu próprio umbigo, para seu quintal.
O que os americanos fizeram de diferente foi sacar uma carta da manga. A carta do entretenimento, produto que eles fazem como ninguém. "Drive To Survive", produzido em conjunto com a Netflix, conquistou o mundo, mas teve especial efeito sobre o público jovem dos EUA.
A prova final de que a Liberty precisava veio na corrida de Austin do ano passado: 400 mil pessoas nos três dias de evento, recorde histórico. Pronto! Os EUA estão conquistados!
Agora é o momento de expandir.
Daqui a 40 dias a F1 estará em Miami, para a estreia de um circuito montado nos arredores do estádio do Dolphins. E, em novembro de 2023, correrá nas ruas de Las Vegas. O contrato é de três anos.
O pacote de entretenimento será completo: prova noturna, num sábado, em meio às luzes dos cassinos, no fim de semana de Ação de Graças, no horário nobre da TV americana. Mais: o país passa a ter uma prova na costa leste, outra no centro do país e mais uma na costa oeste. Parece jogo de WAR.
É legal ver mais um circuito de rua no calendário? Não. A F1 precisa do mercado dos EUA? Sim. A F1 vai querer fazer o mesmo na China? Com certeza. Pode se preparar.
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