Topo

Fábio Seixas

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

Ferrari, a adversária que todo mundo queria ter

Charles Leclerc, da Ferrari, lamenta problema no carro e abandono de prova - Reprodução Web: // LLUIS GENE / AFP
Charles Leclerc, da Ferrari, lamenta problema no carro e abandono de prova Imagem: Reprodução Web: // LLUIS GENE / AFP

Colunista do UOL

12/06/2022 09h38

Receba os novos posts desta coluna no seu e-mail

Email inválido

GP do Azerbaijão, 20ª das 51 voltas. Leclerc liderava, mas com pneus mais usados que seus adversários diretos. Engenheiros faziam projeções, as conversas pelo rádio se intensificavam, a oitava etapa do Mundial desenhava um duelo acirrado pela vitória no seu trecho final.

Mas veio a fumaça. Mais uma vez saindo da traseira da Ferrari #16.

Largando da pole position pelo quarto GP consecutivo, o piloto monegasco sentiu a vitória escapar de suas mãos pela quarta vez seguida. Pior: viu Verstappen ganhar mais uma e ampliar sua vantagem na liderança do campeonato.

Não foi só Leclerc. Sainz também abandonou. A Ferrari é a adversária que todo mundo queria ter.

lec11 - Reprodução/F1TV - Reprodução/F1TV
Charles Leclerc abandona o GP do Azerbaijão com fumaça saindo da sua Ferrari
Imagem: Reprodução/F1TV

É a quinta vitória de Verstappen em oito etapas nesta temporada, a primeira em Baku, a 25ª da carreira. Iguala, assim, duas lendas do automobilismo: Lauda e Clark.

Pérez foi o segundo colocado, a terceira dobradinha da Red Bull no ano. Russell, heroico numa Mercedes que pulava o tempo todo, completou o pódio no Azerbaijão.

A corrida aconteceu numa bela tarde de domingo em Baku, 26°C no ar, 48°C no asfalto.

Pérez brilhou na largada. Pisou fundo, colocou por dentro, assumiu a liderança na primeira curva. Verstappen até tentou aproveitar o embalo, mas teve de aliviar e manteve-se em terceiro. Mais atrás, Vettel passou Tsunoda e assumiu a oitava posição.

O top 10 no fim da primeira volta tinha Pérez, Leclerc, Verstappen, Sainz, Russell, Gasly, Hamilton, Vettel, Tsunoda e Alonso.

A Red Bull tinha carros mais rápidos na reta, a mais longa da F1. Pérez tratou, então, de começar a abrir vantagem. Já Verstappen fazia de tudo para se aproximar de Leclerc e tentar impedir que o companheiro sumisse lá na frente.

Na quinta volta, o mexicano tinha 2s2 para o monegasco, que vinha com o holandês na cola, a 0s6 e pressionando. O duelo Leclerc x Verstappen tornou-se a grande atração da corrida.

A Red Bull encostava na grande reta, mas a Ferrari ganhava algum respiro nos trechos mais sinuosos. Assim seguiu o baile até a nona volta.

Foi quando Sainz encostou na área de escape da curva 4, com problema hidráulico. Bandeira amarela. E aí muita gente aproveitou para ir aos boxes e trocar pneus médios pelos duros.

Leclerc foi o primeiro, mas a Ferrari se atrapalhou no pit e ele perdeu tempo. Na turma da frente, Russell, Gasly, Vettel e Hamilton também entraram para trocar pneus.

Verstappen, não. Ficou na pista e assumiu o segundo lugar. Sua missão era clara: reduzir ao máximo a vantagem do companheiro. E, para isso, contou com os chefes no pit wall.

Na 13ª volta, Pérez tinha 1s3. Na 14ª, 1s2. Na 15ª, Verstappen encostou e passou.

max1 - Reprodução/F1TV - Reprodução/F1TV
Max Verstappen (à dir.) ultrapassa o companheiro Sergio Pérez no GP do Azerbaijão, em Baku
Imagem: Reprodução/F1TV

Fácil demais, não? Tirar tanto tempo em uma volta não é normal. Instantes depois veio a explicação, a mensagem da Red Bull pelo rádio: "Sem briga". Mais claro impossível.

Se o sonho de vitória de Pérez já estava abalado, acabou de vez duas voltas depois, quando ele foi para o pit. A equipe se atrapalhou na troca dos pneus, levou 5s7 para colocar o carro no chão. Verstappen entrou na 19ª e contou com trabalho muito mais eficiente: 3s5.

Com as paradas da Red Bull, a liderança voltou para Leclerc.

Na 20ª volta, o monegasco tinha 12s8 para Verstappen, mas com pneus nove voltas mais usados. Por quanto tempo aguentariam? Quem teria acertado na estratégia?

Os engenheiros se debruçavam nas contas quando veio a fumaça.

Leclerc apontou na reta com problemas na unidade de potência, fumaça branca saindo da Ferrari, arrastando-se para os boxes. Acabava assim mais um domingo em que largou na pole, feliz da vida, e terminou decepcionado, vendo o Mundial escorrer pelos dedos.

lecler - Reprodução/F1TV - Reprodução/F1TV
Charles Leclerc retorna aos boxes da Ferrari após abandonar o GP do Azerbaijão
Imagem: Reprodução/F1TV

"A gente ainda não sabe o que foi. Perdi a potência, mas foi diferente da outra vez", disse Leclerc à repórter Mariana Becker, da Band. "Foi um dia ruim para a Ferrari, mas também um dia para ficarmos juntos", completou Sainz, também desolado.

A corrida virou um passeio para a Red Bull. A ponto de o engenheiro ter de entrar no pelo rádio e pedir para Verstappen não forçar tanto o ritmo.

Na 33ª volta, algum agito. Magnussen parou, outro motor Ferrari indo pro espaço.

O safety car virtual foi acionado e os líderes aproveitaram para fazer um segundo pit stop de segurança. A vantagem era tão boa que Verstappen, Pérez e Russell mantiveram suas posições.

O fim da prova foi no ritmo de "tragam os carros com tranquilidade até o fim".

A maior emoção ficou por conta dos ataques de Hamilton sobre Gasly. Depois de algum tempo colocando de lado, incomodando, cutucando, o inglês ganhou a quarta posição na abertura da 44ª volta. Aplausos para o heptacampeão, que chegou ao circuito com fortes dores nas costas provocadas pelas quicadas do W13 contra o asfalto.

(Instantes depois, a transmissão da F1 mostrou mecânicos da Ferrari já desmontando o pit wall. Melancólico...)

Com o resultado, Verstappen vai a 150 pontos no Mundial. Pérez é o novo vice-líder, com 129. Leclerc, que comandou o início do campeonato, é só o terceiro colocado agora, estancado nos 116.

No Mundial de Construtores, a Red Bull disparou na frente: 279 contra 199 da escuderia italiana.

"Tivemos um ritmo incrível no carro. Talvez também um pouco de sorte, com aquele abandono, mas de qualquer forma acho que poderia ter lutado com ele", disse Verstappen.

O bicampeonato parece cada vez mais claro. Graças a ele, graças à Red Bull. E graças à Ferrari.