Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.
Como a Mercedes mudou de opinião em apenas 7 dias
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Russell estava fazendo seu aquecimento para o GP do Canadá e um câmera o flagrou dando saltos para o alto. "É assim que você se aquece?", alguém perguntou. "Estou me preparando para as quicadas do carro", respondeu o piloto, com a fina ironia do humor britânico.
Irônica, também, é a posição da Mercedes no caso. A equipe passou meses reclamando do regulamento, das instabilidades do carro, do "porposing", as batidas contra o asfalto. O tom subiu em Baku, com as dores de Hamilton ao deixar o cockpit. Mas, agora que a FIA resolveu agir, Wollf e sua turma deram um passo para trás, na linha do "veja bem, não é pra tanto".
Após a corrida do Azerbaijão, no dia 12, o dirigente disse o seguinte: "Estamos há dois meses tentando resolver o porpoising e não conseguimos". Ele alertou para os níveis dos impactos sofridos pelos pilotos. "São 6G de carga vertical. Não é mais muscular, dói nos ossos."
Uma semana depois, milagrosamente, os problemas sumiram... e aqui a ironia é minha.
"O porpoising, como fenômeno aerodinâmico, está solucionado. A questão agora está mais no comportamento mecânico dos carros. São muito duros. Fica ruim para atacar as zebras, para enfrentar as ondulações", declarou o mesmo Wolff, em Montréal, no último domingo, dia 19.
O que aconteceu entre uma declaração e outra?
A Diretiva Técnica #39, da FIA, emitida na quinta-feira, dia 16. Após pressão de equipe e pilotos, a entidade máxima do automobilismo anunciou que vai "definir uma métrica, baseada na aceleração vertical dos carros" e então estabelecer um limite para as oscilações a cada GP.
A informação que circulou em Montréal é que a FIA pretende elevar em 10 mm a altura dos carros que estiverem acima desse limite de oscilações. Carros mais altos podem até balançar menos, mas são menos velozes. E isso é tudo o que a Mercedes não quer.
Em suma, o remédio revelou-se pior do que a doença. Daí a mudança repentina de discurso.
Talvez seja tarde demais para a Mercedes. Representantes técnicos das equipes foram convocados para uma reunião com a FIA nesta semana para discutir a aplicação da diretiva.
Engenheiros vão analisar dados coletados no Canadá e definir uma métrica tolerável para as oscilações. Segundo o comunicado emitido pela FIA na última quinta, a mudança será implantada ainda nesta temporada, no "médio prazo".
O maior receio de Wolff é perder o embalo que, aparentemente, começou no último fim de semana. Hamilton foi terceiro colocado, seu segundo pódio no ano, e Russell ficou em quarto, mantendo sua impressionante marca de terminar todas os GPs da temporada no top 5.
"O potencial está lá. Eu e a equipe estamos esperançosos", disse o heptacampeão no Canadá.
A próxima etapa do Mundial será em Silverstone, iniciando uma série de sete corridas em autódromos. Pisos mais regulares, em tese, tornarão as quicadas menos violentas. Mas caso continuem e ultrapassem o limite estipulado, a Mercedes pode ter que levantar seus carros.
E aí, boa parte do trabalho feito até agora irá pelo ralo...
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