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Quem é a estrategista da Red Bull que está dando nós na Ferrari
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Depois de dias de calor em Budapeste, o tempo virou no domingo. O céu ficou nublado, e o vento, mais forte. Quando os pilotos se dirigiam para o grid, começou a garoar. As conversas pelo rádio ficaram intensas. Com qual pneu largar? Verstappen sairia em décimo num circuito em que ultrapassar é uma façanha. Formava-se o cenário de um GP difícil para ele.
Duas horas depois, estava no pódio, festejando a 8ª vitória em 13 GPs no ano.
Um resultado construído no cockpit e no pit wall. Uma história escrita a quatro mãos. Pelo piloto, que fez uma das melhores corridas da sua carreira. E por uma personagem que ganha cada vez mais protagonismo: Hannah Schmitz, engenheira-chefe de estratégias da Red Bull.
"A calma dela é insana", definiu o holandês após a corrida, ainda um pouco incrédulo com a vitória. Ele nunca havia vencido uma corrida na categoria saindo tão detrás do grid.
O reconhecimento do campeão reverberou. Hannah foi a entrevistada de ontem no "Any Driven Monday", da Sky Sports, da Inglaterra. Falou sobre aquele momento tenso antes do GP e relevou os bastidores para as decisões que construíram uma vitória tão improvável.
"Como ele estava largando naquela posição, nosso plano original era de uma estratégia clássica. Ele largaria com pneus duros e ficaria mais tempo na pista para ganhar posições, já que é difícil ultrapassar na Hungria. Mas as condições mudaram, ficou mais frio, havia uma chuva fina, e a caminho do grid os dois pilotos relataram pouca aderência mesmo com pneus macios. Então tivemos uma conversa e resolvemos largar com os macios", explicou.
Foi o início de mais um nó estratégico na Ferrari, algo que está se tornando especialidade da casa.
Inglesa, engenheira mecânica formada em Cambridge, Hannah construiu sua carreira na Red Bull. Entrou como estagiária, em 2009, e foi ganhando espaço no time de engenheiros responsáveis por processar e analisar dados para tomadas de decisões. Cresceu lá dentro.
Hoje, reveza-se com Will Courtenay, diretor de estratégias, seu chefe direto: quando um está no pit wall, o outro está no centro de operações da sede da equipe, em Milton Keynes, local que mais parece uma sala de lançamento de foguetes da Nasa. "Ouvimos os rádios de todas as equipes, temos imagens de todas as câmeras on-board, recebemos todas as informações de telemetria dos carros em tempo real. É como estar no circuito", conta a engenheira.
Mas Hannah prefere os fins de semana em que faz as malas e vai para a beira da pista. Mesmo que isso signifique ficar longe dos dois filhos. A adrenalina e a pressão são diferentes.
"É incrivelmente estimulante. Você fica ali, sentada na ponta de um banquinho, e tem uma fração de segundo para tomar uma decisão. Daí, você precisa esperar uns 20 segundos para ver se aquilo vai dar algum resultado. É pouco tempo, mas pode parecer uma eternidade."
Budapeste não foi a primeira vez em que ela recebeu os créditos por uma vitória improvável.
Era Hannah no pit wall de Mônaco, em maio, quando Pérez venceu fazendo três pit stops enquanto a Ferrari se embananava nas estratégias. "A equipe toda foi excepcional. Mas, se vencemos, foi por causa de Hannah", disse na ocasião Helmut Marko, o conselheiro da Red Bull, um sujeito não muito afeito a elogios públicos.
Bem antes disso, há quase três anos, veio aquele que ela considera seu maior momento de glória até hoje. E foi no Brasil. Em 2019, Hannah foi mandada pela equipe ao pódio para receber o troféu pela vitória de Verstappen em Interlagos. Foi dela a decisão de fazer três pit stops naquela corrida, mesmo que isso significasse a perda momentânea da liderança.
"Foi um momento muito especial. Eu tinha acabado de voltar ao trabalho após ter meu primeiro filho, então foi uma sensação muito boa. Pude provar que ainda estava lá e que conseguia fazer bem meu trabalho. Foi uma experiência incrível", relata.
A engenheira espera que os holofotes de agora abram as portas para mais mulheres na F1. Fascinada por carros desde a infância, apaixonada por F1, ela diz que foi preciso vencer resistências nos seus primeiros anos na equipe. "No começo, muita gente acha que você não tem a confiança necessária. E, como estrategista, você precisa dizer a muitas dessas pessoas o que é preciso fazer. Infelizmente, como mulher, isso foi mais difícil."
Não deve demorar para que ela suba ao pódio de novo. Quando acontecer, duas crianças vibrarão na Inglaterra e mais gente ao redor do mundo saberá de quem se trata.
A F1, esporte com raízes tão machistas, está mudando para melhor.
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