Luta de Alonso para provar vitalidade é trama central da nova novela da F1

A Alpine anunciou, Piastri desmentiu, a disputa deve seguir para a FIA, há chances de o imbróglio acabar na Justiça, personagens sairão chamuscados.

A nova novela da F1 resgata o título de um clássico da Globo nos anos 90: "Fera Ferida". No caso, Alonso. No centro da trama, uma questão de idade.

O espanhol é hoje o piloto mais velho do grid. Fez 41 anos na sexta passada. Considera estar no pico da forma, pilotando 100%, com lenha pra queimar por mais algumas temporadas. A Alpine teve dúvidas e preferiu não se comprometer com um contrato longo.

Feriu a fera. Deu no que deu.

"Isso aqui não é a Volta da França ou a Olimpíada ou o futebol, em que o atleta vive o auge aos 23 anos. Hoje, pilotando com apenas uma mão, eu venceria o Fernando Alonso de 23", disse o espanhol no ano passado, quando retornou à F1 após zanzar por outras categorias em 2019 e 2020. "No esporte a motor, não vale a lógica de o quanto mais jovem, mais rápido você é".

Em junho, festejado por conquistar um inesperado segundo lugar no grid de Montréal, voltou a bater na tecla do etarismo: "No ano passado eu tive um desempenho razoável. Foi ok, mas não 100%. Agora sinto que estou 100%. Acredito que posso conseguir mais alguns resultados surpreendentes, e esse tipo de coisa sempre foi uma marca da minha carreira".

É uma bandeira hoje inglória na F1. Desde a virada do século, quando Button estreou pela Williams fazendo barulho, as equipes vêm buscando pilotos cada vez mais jovens, de preferência formados em suas academias de desenvolvimento. Não por coincidência, os quatro pilotos mais jovens a correr na categoria estrearam nos últimos anos.

O recordista é o grande exemplo desta linha de pensamento: Verstappen era um adolescente quando disputou seu primeiro GP. Tinha 17 anos. Tornou-se campeão com 24, caminha para ser bi aos 25 e tem boas chances de acumular títulos nas próximas temporadas.

O próprio Alonso estreou com 19 e tornou-se bicampeão com 25. Vettel também estreou com 19 e foi bi aos 24, recorde que vai durar algum tempo.

As vagas no grid, porém, são limitadas. E, para enorme parte do paddock, apostar em novos Verstappens vale mais do que seguir com veteranos. Szafnauer, chefe da Alpine, é desses.

"Oferecemos a ele um contrato de um ano, com possibilidade de extensão por mais uma temporada. E dissemos: 'Fernando, se daqui a um ano você estiver pilotando no mesmo nível de hoje, é claro que vamos te manter'. Poderia ter funcionado", explicou o dirigente.

"Mas acho que ele buscava algo mais concreto, que não dependesse da performance. Queria ficar por mais tempo. E este foi o ponto crucial. Oferecemos um ano mais um. Ele queria dois anos mais um ou três anos mais um ou três anos direto", completou o dirigente.

Com o orgulho ferido, Alonso foi buscar opções no mercado. E encontrou abrigo na Aston Martin, que perderia Vettel e viu nele a solução para seguir com seu projeto de crescimento.

De quebra, a equipe inglesa se vingaria de Szafnauer, que saiu de lá em janeiro, criticando-a publicamente.

Por isso, o anúncio da contratação de Alonso só veio na segunda-feira, 1º de agosto, um dia após o prazo para a equipe francesa exercer a opção contratual sobre Piastri.

Foi um plano calculado, maquiavélico. Não acontece só em novela...

O novo contrato do espanhol é por uma temporada, com possibilidade de chegar a três. Ano a ano, haverá discussões e decisões de parte a parte. Provavelmente há cláusulas de performance envolvidas.

Alonso só conseguirá levá-lo ao fim se obtiver resultados. Se tudo correr como ele espera, correrá até os 44 anos. E terá provado um ponto.