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Fábio Seixas

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

Quando a F1 nos faz pessoas piores

Oscar Piastri, piloto reserva da Alpine, no grid do GP de Mônaco, em maio deste ano  - Twitter/Oscar Piastri
Oscar Piastri, piloto reserva da Alpine, no grid do GP de Mônaco, em maio deste ano Imagem: Twitter/Oscar Piastri

Colunista do UOL

05/08/2022 12h58

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Há exatos 12 dias, em 24 de julho, a F1 correu sua 12ª etapa, o GP da França. No grid, o alemão Andreas Seidl, chefe da McLaren, estava facinho para dar entrevistas. Quando isso acontece, é por um motivo: a equipe quer que ele fale.

Ou melhor: quer que ele responda à pergunta que todos sabem que será feita.

A pergunta naquele dia era sobre Ricciardo. Um a um, repórteres de TVs do mundo todo passavam pelo dirigente e o questionavam sobre a situação do australiano. "Posso confirmar que vai estar conosco em 2023", dizia repetidamente, como numa linha de produção.

Só eu ouvi essa resposta duas vezes. Para a F1TV. E para a colega Mariana Becker, da Band.

Seis dias depois, na noite de 30 de julho, o mesmo Seidl estava com Piastri em Budapeste assinando contrato. O novato australiano vai correr em 2023 na vaga do compatriota.

Ou acreditamos que uma negociação de contrato para um piloto promissor estrear na F1 levou menos de uma semana ou concluímos que Seidl mentiu. Fico com a segunda opção.

Acontece de tempos em tempos: a F1 joga na nossa cara que palavras valem pouco, que toda entrevista guarda uma segunda intenção, que nada é por acaso. Ou, velho ditado do paddock, que os contratos na categoria existem para serem rasgados.

Mas por que Seidl mentiu? Ou, para usar o eufemismo, qual foi o motivo da dissimulação?

Vale recuperar a cronologia do caso.

É fato que Ricciardo faz uma porcaria de temporada. Após 13 etapas, é só o 12º no campeonato, com 19 pontos, enquanto Norris aparece em sétimo, com 76. Já foram oito corridas sem pontuar, e o melhor resultado foi um sexto lugar, em Melbourne, em abril.

As críticas surgiram, cresceram, viraram uma bola de neve. Diante de rumores que indicavam sua saída ao fim do ano, Ricciardo foi às redes sociais no dia 13 de julho desmenti-los.

"Há muitos rumores circulando sobre meu futuro na Fórmula 1, mas quero que vocês ouçam de mim. Tenho compromisso com a McLaren até o fim de 2023 e não estou deixando o esporte. Sei que não está sendo fácil... Mas quem quer facilidades? Estou trabalhando feito um louco com a equipe para melhorar esse carro e colocá-lo de volta às primeiras posições, onde é seu lugar. Eu quero isso mais do que nunca", escreveu.

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O australiano Daniel Ricciardo, da McLaren, antes do GP da Hungria, no domingo passado
Imagem: McLaren

Veio o GP da França, no dia 24, e Ricciardo ficou em nono. No dia 28, Vettel anunciou a aposentadoria _a Aston Martin já estava acertada com Alonso sem que a Alpine soubesse. Na noite de 30, como a Alpine não definia seu futuro, Piastri assinou com a McLaren para correr em 2023. No dia 1º, a Aston Martin anunciou Alonso. No dia 2, a Alpine anunciou Piastri, que logo foi para as redes negar qualquer contrato com a equipe francesa para o ano que vem.

O roteiro acima traz duas traições. Em ambas, a vítima foi a Alpine. E Ricciardo, neste momento, está sobrando.

Seidl mentiu para não atiçar os franceses a assinarem um novo acordo com Piastri. Por isso ele foi colocado no grid em Paul Ricard. Para isso "prestigiou" Ricciardo nas entrevistas.

Tudo um jogo. É preciso desconfiar sempre, de tudo e de todos.

Como disse o amigo Pedro Bassan, dando um tapinha nas minhas costas aos descermos do avião após nossa última cobertura de Mundial, "a F1 nos faz pessoas piores".