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Fábio Seixas

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

Ricciardo e o montinho que o aguarda em Spa

Daniel Ricciardo, da McLaren, dá autógrafos na chegada ao circuito de Spielberg para o GP da Áustria, no mês passado - Joerg Mitter/Red Bull Content Pool
Daniel Ricciardo, da McLaren, dá autógrafos na chegada ao circuito de Spielberg para o GP da Áustria, no mês passado Imagem: Joerg Mitter/Red Bull Content Pool

Colunista do UOL

24/08/2022 09h33

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Onde está a notícia na F1? Para quem está no paddock, é fácil dizer.

É só buscar, numa rápida passada de olhos, o montinho de repórteres, cinegrafistas e fotógrafos. É uma cena clássica. O motorhome (ou escritório) mais agitado é o local da notícia.

Jamais vou esquecer do fim de campeonato em 1999. Irvine venceu na Malásia, mas foi desclassificado por uma irregularidade nos defletores. Isso daria o título antecipado a Hakkinen. A Ferrari recorreu, e passamos horas circulando pelo paddock de Sepang tentando entender o imbróglio. Até que a escuderia italiana chamou uma entrevista coletiva.

O problema: a sala da equipe, montada com estruturas provisórias e modulares, não devia ter mais do que 20 m². Era decisão de título mundial. Todos os repórteres precisavam ouvir o que Todt e Brawn tinham a dizer. Acho que dá para imaginar a confusão, não?

(No fim a FIA absolveu a Ferrari, a decisão foi para o Japão e Hakkinen conquistou o bi.)

Outro momento que não esqueço aconteceu meses seguintes, no primeiro GP Brasil de Barrichello pela Ferrari. Interlagos estava em êxtase, com as arquibancadas tremulando bandeiras vermelhas, vibrando com a esperança de um novo herói brasileiro na F1.

Barrichello largou em quarto e fez um início de corrida incrível. Venceu um duelo com Coulthard na segunda volta, passou Hakkinen no S do Senna na 15ª e assumiu a liderança quando Schumacher entrou para seu primeiro pit. Interlagos explodiu em comemoração.

largada - Reprodução - Reprodução
A largada do GP Brasil de 2000, com Hakkinen na pole e Barrichello na quarta posição do grid
Imagem: Reprodução

Na 22ª volta, Barrichello fez seu primeiro pit. Cinco voltas depois, retornou aos boxes, arrastando a Ferrari número 4, vítima de um problema hidráulico. Abandonou o GP.

O fundo dos boxes da Ferrari virou uma cena de guerra, misturando repórteres estrangeiros de egos transcontinentais à toda imprensa brasileira que queria ouvir o piloto ao vivo, em primeira mão. Em meio àquela balbúrdia estava o Salvatore, o simpático e gigantesco segurança ferrarista, um armário, que também não deve esquecer daquele domingo.

Quando a estrela do dia enfim apareceu, o empurra-empurra foi tanto que as paredes (também provisórias, também modulares) dos boxes da Ferrari caíram. E aí brilhou um veterano: Wanderley Nogueira, da rádio Jovem Pan, sacou seu microfone e fez as perguntas para Barrichello com toda a calma do mundo, como se não houvesse ninguém ali ao lado. Instalou-se o silêncio e todos o ouviram. Foi uma aula para este então jovem repórter.

Presenciei também bolinhos de repórteres em datas comemorativas e episódios mais alegres: aniversários de pilotos, contratações, recordes quebrados, capacetes revelados...

Paddocks normalmente são grandes corredores, a bagunça é facilmente localizável.

Por que todas essas digressões?

Porque não é difícil imaginar onde estará o amontoado de repórteres quando os pilotos começarem a chegar a Spa-Francorchamps, na quinta-feira.

Ricciardo, agora à procura de emprego, que se prepare.