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Fábio Seixas

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

Fora da gaiola da Red Bull, Gasly poderá mostrar se sabe voar

O francês Pierre Gasly, no fim de semana do GP da Bélgica, em Spa-Francorchamps - Peter Fox/Getty Images
O francês Pierre Gasly, no fim de semana do GP da Bélgica, em Spa-Francorchamps Imagem: Peter Fox/Getty Images

Colunista do UOL

31/08/2022 04h00

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Gasly pode pintar na Alpine em 2023, eis uma das grandes notícias dos últimos dias.

Seria bom para a Alpine. Menos por emular a Renault 100% francesa dos primeiros passos na F1, mais pela competência dos dois pilotos. Ocon e Gasly formariam uma dupla de respeito.

Mas seria melhor ainda para Gasly, que, enfim, se livraria do fardo da Red Bull e teria caminho livre para desenvolver sua carreira.

Sim, pode soar errado usar essa expressão, "fardo", quando foi a empresa de energéticos que o lançou na categoria. Mas o que começou como investimento, aposta, proteção, acabou descambando para outras coisas: controle excessivo, falta de perspectiva, frustração.

Marko, o mentor do programa de desenvolvimento de pilotos da marca, é a cara de tudo isso.

Gasly tinha 17 anos e o título da F-Renault europeia quando entrou para a "família Red Bull". Aos 19, acelerou um F1 pela primeira vez, num teste em Barcelona. Aos 20, tornou-se campeão da GP2. Aos 21, disputou seus primeiros GPs na categoria principal, substituindo Kvyat, escanteado na então Toro Rosso. Aos 22, fez seu primeiro campeonato completo.

Aos 23, chegou ao céu: tornou-se titular da Red Bull. Doze corridas depois, desceu ao inferno. Foi rebaixado, devolvido para a Toro Rosso. Poderia murchar, como aconteceu com tantos outros diante da impaciência e dos demandos de Marko. Mas aí mostrou que é especial.

Em 2020, aos 24, venceu o GP da Itália. Passou a sonhar com a redenção, com a recondução ao time principal. Mas nunca aconteceu. A Red Bull contratou Pérez para 2021 e em maio deste ano renovou com o mexicano até o fim de 2024. Gasly viu-se esquecido pela "família".

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O francês Pierre Gasly no pódio de Monza após vencer o GP da Itália de 2020 pela AlphaTauri
Imagem: Jenifer Lorenzini - Pool/Getty Images

Agora, aos 26, pode ter chegado a hora de sair de casa.

Em entrevista à "Auto Motor und Sport", da Alemanha, Marko revelou que vai liberar o francês do contrato, que só vence no fim do ano que vem.

Não há nenhuma bondade no gesto. O dirigente vê a saída de Gasly apenas como uma oportunidade: trazer para seu lugar um piloto americano competitivo, antiga obsessão da F1 e estratégia da marca para explorar ainda mais um mercado extraordinário.

Já há um escolhido: Colton Herta, piloto da Andretti na Indy e que participou de dois dias de testes com a McLaren em julho, em Portugal.

Há, em princípio, apenas um empecilho para a contratação de Gasly pela Alpine: a relação ruim com Ocon. Os dois cresceram juntos, dividem pistas desde o kart, já foram grandes amigos, só que de alguns anos pra cá não se bicam mais.

Situações assim não são novidade na F1. Dá para contornar.

Ainda mais porque, para os franceses (e os saudosistas), será um prato cheio.

De 1977 a 1982, a Renault foi 100% francesa, com Jabouille, Arnoux e Prost.

Ocon e Gasly talvez nunca se tornem tetracampeões. Mas, embora menos badalados, estão entre os pilotos mais talentosos da atual geração. Ambos já venceram corrida com carros fracos. E ambos acabaram de dar show em Spa. Gasly largou do pit lane e pontuou, chegando em nono. Ocon fez a ultrapassagem mais bonita do ano e cruzou em sétimo.

Por linhas tortas, a Alpine pode escrever uma bela história com eles.