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Fábio Seixas

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

Pílulas do Dia Seguinte: na 10ª vitória de Verstappen, a notícia foi Herta

Christian Horner (à dir.) e Helmut Marko, os comandantes da Red Bull, na celebração da vitória de Verstappen em Zandvoort  - Mark Thompson/Getty Images
Christian Horner (à dir.) e Helmut Marko, os comandantes da Red Bull, na celebração da vitória de Verstappen em Zandvoort Imagem: Mark Thompson/Getty Images

Colunista do UOL

05/09/2022 08h34

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Vitória de Verstappen não é mais novidade. A grande notícia do GP da Holanda veio minutos depois da corrida, ainda no paddock de Zandvoort. Horner e Marko deixaram a discrição de lado e agora já falam publicamente em colocar Herta na AlphaTari no ano que vem;

Começou com Horner, o chefe da Red Bull. Na transmissão da Sky F1, da Inglaterra, ele foi questionado sobre a saída de Gasly para a Alpine e se esse movimento estaria condicionado à chegada do americano. "Este é o ponto chave", respondeu. "Não vamos substituir Gasly a não ser que tenhamos alguém que nos deixe empolgados. Ele [Gasly] é um piloto da Red Bull emprestado para a AlphaTauri. Há muitas peças se movendo agora e estamos acompanhando tudo com atenção. Vamos ver como tudo isso se resolve."

Logo depois, foi a vez de Marko falar. E ir um passo além. "Tudo já está certo com as partes envolvidas. Agora só precisamos de uma resposta da FIA, e acho que vem antes de Monza", declarou o austríaco, comandante da academia de pilotos da Red Bull;

A tal "resposta" da FIA tem nome: superlicença. Aos 22 anos, fazendo sua quarta temporada completa na Indy, o americano hoje tem apenas 32 dos 40 pontos exigidos pelo sistema da entidade para correr na F1. A Red Bull está tentando abrir uma exceção. Faria todo sentido;

Em cenários como este, é sempre aconselhável recorrer ao conceito do "espírito da lei". Por que a superlicença foi criada? Para criar algum controle, para impedir que qualquer pé de breque arrume uma vaga na F1. Claramente não é o caso de Herta. O garoto já disputou 64 provas na Indy, com nove pole e sete vitórias. Foi terceiro colocado no campeonato de 2020, quinto no ano passado. É pior do que Mazepin?

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O americano Colton Herta comemora vitória na etapa de St. Petersburg da Indy em 2021
Imagem: IndyCar

Quando estreou na F1, aos 17 anos, Verstappen tinha no currículo apenas 46 provas com monopostos. Nunca correu na F2 (ou GP2, na época). Pulou direto da F3. Um motor de Indy tem aproximadamente o dobro de potência... Também lembro da estreia de Raikkonen, em 2001. Ele deu um salto ainda maior, da F-Renault direto para a F1. A Sauber, na época, conseguiu uma exceção da FIA: o finlandês correria as primeiras corridas "sob observação". Se fizesse alguma bobagem, estaria fora. Não fez. Venceu 21 GPs, foi campeão mundial e encerrou a carreira 20 anos depois, recordista de corridas na história da categoria;"

Se o bom senso prevalecer, Herta ganhará a superlicença logo. Se não acontecer, aí a Liberty deve entrar em campo. Porque, para a empresa que gere os negócios da F1, é extremamente importante ter um americano no grid. Mais do que isso, até: é um sonho virando realidade;

escrevi sobre isso algumas vezes: a conquista dos EUA e de seu mercado é um dos grandes feitos da Liberty Media. Mas não dá relaxar, para dormir sobre os louros da glória. O país receberá três GPs em 2023 e é preciso seguir ativando a categoria por lá. Quer maneira melhor de fazer isso do que com um ídolo local? O californiano Herta é a resposta para a Liberty;

Curiosamente, Domenicali por ora diz que "regras devem ser respeitadas" e que é contra a FIA abrir uma exceção para o americano. Certamente há alguma jogada aí. Vou acionar os perdigueiros e volto aqui para contar;

Herta é também a resposta para a Red Bull. Os EUA, maior mercado global da marca e num momento de paixão com a F1, não têm um piloto no grid desde 2015. Preciso desenhar?

Ah, sim. Teve GP da Holanda...

Verstappen tem hoje o melhor carro da F1 e está no pico da forma. Isso já seria suficiente para conquistar o bicampeonato. Mas a concorrência teima, GP após GP, em facilitar sua vida;

Já fica difícil encontrar adjetivos para definir o que a Ferrari está fazendo nesta temporada. Binotto e sua trupe se superam a cada corrida. Esquecer um pneu é algo... ridículo, infame demais. "Aconteceu. Não deveria ter acontecido. Há muitas coisas que precisamos resolver. Essa é fácil. Fico mais preocupado com a velocidade do nosso carro", disse o italiano;

Há uma recorrência nos erros da Ferrari. São todos frutos de desorganização, de bagunça. Binotto diz que o problema de Sainz foi gerado por uma "chamada em cima da hora" para os boxes. Em maio, Leclerc sofreu do mesmo mal em Mônaco. Já faz mais de três meses;

E a Mercedes? Wolff contou que conversou a sós com Hamilton após a corrida. "Eu disse pra ele olhar para os pontos positivos deste fim de semana. Um segundo e um quarto lugares... Sim, o que aconteceu foi chato, mas fizemos uma boa corrida", disse o dirigente;

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O heptacampeão Lewis Hamilton, quarto colocado no GP da Holanda, em Zandvoort
Imagem: Mercedes

Segundo Wolff, a decisão de manter o heptacampeão com pneus médios no fim da prova não foi um erro. Foi caso pensado. A ideia era deixar seus pilotos com estratégias diferentes para maximizar as chances contra Verstappen. "O piloto está sozinho no cockpit e não sabe de tudo o que está acontecendo. As emoções são fortes, sabemos. Mas preferimos assumir o risco";

Há pouco mais de um mês, após a vitória de Verstappen em Budapeste, escrevi aqui sobre Hannah Schmitz. A estrategista da Red Bull é um dos pontos fortes da equipe nesta temporada. Pois ontem ela brilhou de novo: pensou rápido e chamou o holandês para os boxes, decisão corajosa, mas de quem confia muito no que está fazendo. Deu lindamente certo;

Aos 24 anos, Verstappen se tornou o mais jovem piloto a atingir 30 vitórias. Antes dele, o mais precoce era Vettel, aos 26. Faltam sete GPs para o fim da temporada. No atual ritmo, o holandês vai superar Mansell (31) e Alonso (32) logo. E, em 2023, deixará Senna (41) para trás;

Repito o que postei depois de Spa: acho que o bi vem em Suzuka;

Drugovich deve ser campeão mais cedo. O brasileiro venceu em Zandvoort, abriu 69 pontos para Pourchaire e possivelmente será campeão no próximo fim de semana, na Itália. Até por constrangimento, começo a achar que a F1 vai abrir alguma porta para ele, como piloto reserva. Pega mal para toda a estrutura de formação da FIA ver um campeão tão forte da Fórmula 2 sem nenhum "prêmio" além de troféus e tapinhas nas costas.