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Fábio Seixas

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

Comportamento de Alonso é a grande chance de Drugovich

Fernando Alonso antes do GP da Itália, em Monza, no último domingo - Alpine
Fernando Alonso antes do GP da Itália, em Monza, no último domingo Imagem: Alpine

Colunista do UOL

16/09/2022 11h29

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Alonso estreou na F1 em 2001, pela Minardi. Era um garoto, tinha 19 anos e sua curta passagem por lá foi meticulosamente planejada por seu empresário, Briatore, dono de parte da equipe. O passo seguinte fazia parte do planejamento: o espanhol passou 2002 como piloto de testes da Renault, onde o mesmo Briatore, vejam só, era o chefão _com duplo sentido.

Em 2003, assumiu como titular, ao lado de Trulli. E então, com um carro bom e a rodagem adquirida na temporada anterior, mostrou todo seu talento, batendo recordes de precocidade em sequência. Os títulos vieram em 2005 e 2006, com shows de pilotagem.

E então começa uma história de recorrência em que vale prestar atenção.

Em outubro de 2006, Alonso reuniu-se às escondidas com Dennis, chefe da McLaren, em Suzuka. Ambos concordaram com um contrato de três anos. O espanhol chocou a cúpula da Renault _menos Briatore, claro, que sempre sabe de tudo. Saiu mal da equipe francesa.

Na McLaren, viveu tempos infernais. Entrou numa guerra suja contra Hamilton, com baixaria dos dois lados, e foi pivô de um escândalo de espionagem. Os três anos viraram um, e a McLaren vetou que ele fosse para um time de ponta. Voltou para Renault. Saiu mal de Woking.

A segunda passagem pela Renault não foi menos controversa. No GP de Singapura, Alonso, Nelsinho e seu empresário/chefe de equipe colocaram em prática a manobra mais podre da história da F1, um escândalo que só veio à tona no ano seguinte. Briatore foi banido do paddock _para voltar logo depois_ e Alonso mais uma vez saiu mal da equipe francesa.

A Ferrari seria a próxima parada. Tudo começou bem por lá, mas sua trajetória em Maranello coincidiu com os anos mágicos de Vettel na Red Bull. O espanhol foi três vezes vice do alemão. Em 2014, começou a criticar publicamente o carro italiano. Em Maranello, isso é pior do que xingar a mãe. A relação foi piorando, piorando. Saiu ao fim do quinto ano, uma despedida fria.

Mas o tempo cura tudo, ainda mais num ambiente pragmático como o da F1: Alonso voltou à McLaren em 2015. Viveu três anos difíceis com a Honda, e a foto de Interlagos que virou meme é a melhor representação daquele período. Em 2018, a McLaren passou a usar motor Renault, mas as coisas não melhoraram muito. Chateado, criticando a falta de desenvolvimento do carro e sem grandes opções no mercado, saiu da categoria ao fim do ano.

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Fernando Alonso durante a sessão classificatória para o GP Brasil de 2015
Imagem: Reprodução

Foram dois anos longe da F1, divertindo-se no endurance e na Indy. Voltou à F1 mais leve, menos carrancudo, mais divertido. Escrevi uma quase ode a isso no blog, inclusive. Está aqui.

Mas conhece a fábula do escorpião e do sapo? Pois é, algumas coisas nunca mudam...

À Renault (Alpine), que sempre lhe deu a mão, ele pagou com traição. Depois de duas temporadas por lá, costurou às escondidas sua ida para a Aston Martin, numa manobra arquitetada por Briatore que também tirou Piastri das mãos dos franceses.

Perceberam o padrão? Alonso continua picando o sapo. Segue aprontando. Excepcional piloto, é um cara complicadíssimo nos bastidores.

Seu contrato com a Aston Martin é de dois anos, com possibilidade de extensão por mais um. Pode ser que ele cumpra tudo direitinho, sem problemas. O histórico indica outro caminho.

No comportamento de Alonso pode estar a grande chance de Drugovich.