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Binotto, Todt e o sumiço da 'mentalidade vencedora' da Ferrari
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Coube ao chefe da Ferrari exteriorizar um pensamento que já passou pela cabeça de todo fã de F1 nesta temporada: a "mentalidade vencedora" dos anos Schumacher faz muita falta.
Binotto participou de um evento da "Gazzetta dello Sport" no fim de semana em Trento, Norte da Itália. E, talvez por estar entre amigos —o jornal e a escuderia pertencem ao Grupo Fiat—, abriu-se mais do que o normal, foi além das respostas protocolares de fins de semana de GPs.
"Eu digo e repito: temos a melhor dupla da F1. Trabalhamos muito bem juntos. A maneira como um contribui com o outro ajuda muito no nosso crescimento. Quando nos reunimos às sextas e sábados, após os treinos, há uma troca aberta, sincera. Ambos sabem que precisamos melhorar o carro e o time como um todo para vencer os outros", declarou o italiano.
Ele também elogiou o carro, destacou a reação ferrarista neste ano após algumas temporadas complicadas, mas avaliou que ainda falta algo: "Prometemos que voltaríamos a ser competitivos e cumprimos a promessa. Mas entre ter carro e pilotos de alto desempenho e materializar essas situações no campeonato mundial, ainda há um passo a ser dado".
A pergunta ficou quicando. O que falta, então?
"Aquela mentalidade vencedora dos anos Schumacher, que nos impulsionava a fazer melhor depois de cada vitória", definiu.
É difícil colocar em palavras, mas Binotto sabe do que está falando. Ele chegou a Maranello em 1995. Viu o alemão desembarcar por lá no ano seguinte e testemunhou uma transformação radical: em três temporadas, a Ferrari foi de comédia pastelão a equipe dominante da F1.
De 1999 a 2004, foram seis Mundiais de Construtores e cinco títulos para Schumacher. Recordes atrás de recordes. E, por muitas vezes, para quem acompanhava aquilo de perto, vinha a sensação de que aquele era um império indestrutível, que o domínio seria eterno.
Não era, claro. Hegemonias vêm e vão na F1, a história mostra isso. Mas impressiona que todo aquele conhecimento adquirido, toda aquela cultura organizacional, todo aquele espírito vencedor, tenham ido para o ralo. Não sobrou nada. A Ferrari de hoje lembra muito mais aquela bagunça dos anos 80 e 90 do que o paradigma construído no início do século.
Se você acha que estou exagerando, vale dar uma olhada no vídeo logo abaixo, uma cena que faz aniversário exatamente nesta segunda-feira. GP da Europa, Nurburging, 26 de setembro de 1999. A vitória foi de Herbert, da Stewart. Com Schumacher fora de combate após quebrar a perna em Silverstone, Irvine tornou-se o protagonista ferrarista na luta pelo título.
Era a antepenúltima etapa do campeonato, ele e Hakkinen estavam empatados na liderança do Mundial, com 60 pontos. Na 21ª volta, a Ferrari fez isso aí com o irlandês. Ele despencou de 4º para 13º. Terminou em 7º, numa época em que só os seis primeiros pontuavam. O rival foi o 5º colocado.
No fim do ano, o finlandês sagrou-se campeão com dois pontos de vantagem.
Mecânico ferrarista esquecendo pneu? Sim. Essas coisas aconteciam antes da fileira de títulos de Schumacher e voltaram a acontecer agora.
Não é possível que Binotto não faça uma autocrítica.
Em tempo: Todt, regente de todo aquele dream team montado pela Ferrari, também participou do evento da "Gazzetta". Disse que não se sentia à vontade para dar conselhos a Binotto... Mas é claro que acabou dando.
"A Ferrari construiu um grande carro, o que significa que trabalhou bem. Mas ainda falta alguma coisa, porque para vencer é preciso chegar ao topo em todos os aspectos. É importante entender de onde vem o erro. Se você costuma cometer os mesmos erros, isso significa que há algo a mudar", disse o francês, que deixou a FIA na virada do ano.
"Muy amigo", diria o personagem Gardelón, do saudoso Jô Soares...
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