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Fábio Seixas

REPORTAGEM

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Trinta anos depois, um campeão da F1 pode correr na Indy: Raikkonen

Kimi Raikkonen, em agosto, quando disputou uma corrida da Nascar  - Sean Gardner/Getty Images
Kimi Raikkonen, em agosto, quando disputou uma corrida da Nascar Imagem: Sean Gardner/Getty Images

Colunista do UOL

04/10/2022 10h09

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Trinta anos depois, a Indy pode voltar a receber um campeão da F1. Aos 42 anos, Kimi Raikkonen está em conversas avançadas com a Ganassi para correr a próxima temporada.

A ideia é que o finlandês divida o carro com Jimmie Johnson, 47, lenda da Nascar, que no ano passado fez a transição para os monopostos. O americano correrá nos ovais, enquanto Raikkonen disputará as provas nos circuitos mistos. Cada um na sua especialidade, portanto.

Quem está fazendo a ponte é um personagem com trânsito nas duas categorias, o sul-africano Anton Stipinovich. Ele é ex-engenheiro de McLaren, Ferrari e Red Bull e, desde 2008, comanda a empresa líder do mercado de simuladores profissionais de corrida.

Baseada em Miami, a AllinSports produz equipamentos de ponta usados por pilotos e equipes do mundo todo.

Raikkonen está disposto a cruzar o Atlântico e já sentiu um gostinho do automobilismo americano: em agosto, participou como convidado de uma prova da Nascar em Watkins Glen _largou em 27º, chegou a andar em oitavo, mas foi tocado numa relargada e acabou no muro.

Por enquanto enfrenta resistência da mulher, Minttu, com quem tem dois filhos. Mas a Ganassi está confiante em contar com ele em 2023.

Se acontecer, será a primeira vez em 30 anos que um ex-campeão da F1 disputa a temporada da Indy. O último foi Nigel Mansell, em 1993. Alonso correu em Indianápolis em 2017 e 2020, mas ficou só nisso, não chegou a abraçar a categoria.

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Nigel Mansell com o carro da Newman-Haas em 1993, ano em que se sagrou campeão da Indy
Imagem: Reprodução

Dispensado pela Williams após conquistar o título de 1992, o inglês foi encontrar abrigo na Indy, numa das principais equipes da época, a Newman-Haas. Chegou e conquistou: venceu cinco corridas, cravou sete poles, foi terceiro nas 500 Milhas de Indianápolis e levou o título.

Não repetiu o desempenho no ano seguinte, até por um desejo latente de retornar à F1. Deu certo, em parte. Correu quatro GPs pela Williams no fim daquela temporada, venceu o controverso GP da Austrália _primeiro título de Schumacher, após aquela batida com Hill_ e assinou com a McLaren para 1995, cheio de esperanças de disputar o título.

Aí tudo deu errado. O inglês simplesmente não cabia no cockpit do MP4-10, e a equipe precisou fazer uma nova versão do carro para ele. Mansell só foi estrear na terceira etapa, em Ímola. Foi décimo, duas voltas atrás do vencedor, Schumacher. Duas semanas depois, em Barcelona, abandonou a corrida na 19ª volta dizendo que o carro era inguiável. Foi demitido.

Raikkonen parece estar mais bem resolvido. Com 349 GPs nas costas e o título de 2007 na estante, encerrou seu ciclo na F1. Aliás, já saiu e já voltou. Não o vejo fazendo a mesma coisa de novo. Mas também não o vejo em casa, jogando videogame e cuidando das plantas.

Pilotos são bichos estranhos. Cresceram em pistas de corridas, não conseguem ficar muito tempo longe do habitat. E o finlandês, particularmente, é daqueles talentos natos, com gasolina nas veias. É compreensível que tenha se animado com a oferta da Ganassi.

Johnson é parecido. Heptacampeão da Nascar, um recorde, poderia muito bem estar no sofá de casa ou num cabine de transmissão. Só que não. Quis desafiar a si mesmo e experimentar um sonho antigo: correr de monopostos.

jimmie2 - Joe Skibinski/IndyCar - Joe Skibinski/IndyCar
Jimmie Johnson cumprimenta fãs no fim de semana da 2ª etapa da Indy no misto de Indianápolis
Imagem: Joe Skibinski/IndyCar

Estreou na Indy no ano passado e foi o 26º no campeonato, com 108 pontos. Fez, curiosamente, o esquema oposto do planejado para 2023. Correu apenas nos mistos, deixando os ovais para Tony Kanaan.

Neste ano foi o 21º, com 214 pontos, correndo em todas as pistas do calendário. Mas seguiu com dificuldades nos mistos. É aí que entra Raikkonen.

Fui ouvir um especialista em Indy: Gefferson Kern, narrador da TV Cultura, maior revelação da narração de corridas no Brasil nos últimos anos.

"Seria espetacular ver Kimi na Indy, a fonte de diversão mais veloz do mundo para uma série de pilotos, entre eles egressos da Fórmula 1, de Nigel Mansell a Romain Grosjean, que chegou em 2021 e se reinventou na carreira", disse.

"O problema reside nos ovais. Não é qualquer um que tem coragem de andar acima de 350 km/h e sempre a 15 metros do muro. Kimi pode assinar para fazer só os mistos, mas se visitar as 500 Milhas de Indianápolis e vir as arquibancadas com mais de 300 mil pessoas no dia da corrida, vai querer pular no carro na mesma hora, tal qual foi com JJ e Grosjean. E aí seria um passo para correr os outros ovais. Indianápolis é a alegria dos racers, mas o terror de suas famílias, que temem um acidente grave. Neste confronto, geralmente é a natureza de competidor que vence", completou.

Torço para que aconteça. É sempre legal ver pilotos cruzando o Atlântico, numa direção ou outra.

"Desbravar" é o verbo. Outro que pode ser usado é "amar".

Johnson e Raikkonen amam o que fazem e não precisam mais provar nada pra ninguém. A Ganassi pode ter uma chance de ouro de reunir duas lendas.

Seria bom pra todo mundo. Principalmente para quem, jornalista ou torcedor, também ama esse troço chamado esporte a motor.