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Fábio Seixas

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

FIA fecha acordo com a Red Bull e inaugura a punição "vamos ver"

Christian Horner, chefe da Red Bull - Clive Mason/Getty Images
Christian Horner, chefe da Red Bull Imagem: Clive Mason/Getty Images

Colunista do UOL

28/10/2022 11h06

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A Red Bull admitiu a culpa no estouro do teto orçamentário da F1 em 2021. Pagará uma multa de US$ 7 milhões à FIA, cerca de R$ 37 milhões, e perderá 10% do tempo de uso do túnel de vento para desenvolver seu próximo carro.

Era o caminho mais curto, era a solução esperada, era a pena menos dolorida.

O anúncio foi feito pela FIA nesta sexta-feira, no circuito Hermanos Rodriguez, onde a F1 iniciará os treinos para o GP do México, antepenúltima etapa do Mundial.

A entidade informou que a equipe ultrapassou em US$ 1,8 milhão o teto estipulado para 2021. Em sua defesa, a Red Bull apontou 13 motivos para o estouro, em itens como previdência privada, pagamentos de impostos e uso das unidades de potência.

A Aston Martin deve cumprir uma punição ainda mais branda. A equipe inglesa cometeu apenas um erro processual no preenchimento de seu relatório para a FIA.

Perder tempo em túnel de vento não é uma punição leve num esporte tão dependente da aerodinâmica. Um corte de 10% não é desprezível. Mas é uma pena pouco palpável, difícil de dimensionar para a grande massa de público que está chegando à categoria.

Mais do que isso: não pune imediatamente a Red Bull. O tamanho do prejuízo, ninguém sabe ainda. Vai depender de o quanto suas rivais avançarem com os carros da próxima temporada.

É este o principal ponto de críticas no paddock.

A Red Bull passeou em 2022, conquistou os dois Mundiais com antecedência, Verstappen está prestes a bater o recorde de vitórias num ano... Quanto dessa vantagem veio do estouro do teto em 2021? Será que essa gordura não é suficiente para mantê-la na frente em 2023?

A FIA inaugurou a punição "vamos ver". E abriu um precedente arriscado, que pode desmoralizar uma das novidades mais badaladas do regulamento da F1.

Antigo pleito de equipes médias, pequenas e de montadoras aspirantes à F1, o teto orçamentário foi inaugurado no ano passado. Em 2021, nenhum time poderia gastar mais de US$ 145 milhões, cerca de R$ 755 milhões em valores atuais. Entram nessa contabilidade quase todos os custos das equipes, com pouquíssimas exceções: gastos com marketing e com planos de saúde, além de salários dos pilotos e de outros três altos funcionários.

A equipe que é pega na malha fina tem duas opções: admitir que errou e aceitar a pena imposta pela FIA ou desafiar a auditoria da entidade e mergulhar num processo que pode ser longo e, em tese, resultar numa punição mais severa.

As penas previstas no primeiro caso, o acordo com a Gestão de Teto Orçamentário da FIA, são multa, reprimenda, exclusão de sessões livres ou classificatórias e imposição de limites para estudos aerodinâmicos e outros testes. É o que chamamos de Termo de Ajuste de Conduta.
Foi este o caminho escolhido pela Red Bull.

A segunda opção seria mais desgastante, com potencial para se tornar uma novela arrastada.

A equipe poderia apelar, o que promoveria a estreia de mais um órgão da FIA, o Painel de Julgamento do Teto Orçamentário, com 6 a 12 membros indicados pela Assembleia Geral.

Uma audiência seria marcada, e a equipe apresentaria suas alegações, buscando a maioria dos votos para ser absolvida. Caso perdesse, poderia ainda recorrer à Corte de Apelações. Todo esse processo poderia levar meses.

Agora é esperar as reações do paddock. Dirigentes rivais falarão em desmoralização das regras e insinuarão que estourar o teto é um bom negócio.

Como vai ser daqui pra frente? Alguém vai se esforçar para controlar os gastos?

É, FIA... "Vamos ver".