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Apenas discreto, Schumacher pode perder emprego em Interlagos
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Quase dez anos atrás, escrevi uma coluna na Folha intitulada "O desconhecido Mick Betsch". Começava assim:
"Filho de Schumacher, Mick, 13, virou piloto de kart. Compete na categoria KFJ pela equipe Tony Kart-Vortex e já participou de alguns eventos importantes no esporte.
O bacana vem agora: para evitar os holofotes, corre disfarçado. Usa o sobrenome da mãe.
Sim. Um aspirante à F-1 _como todo garoto que compete no kart_ que poderia usar o sobrenome do maior vencedor de todos os tempos, deixa-o de lado.
Poderia ser o badaladíssimo Mick Schumacher. Preferiu assumir a identidade de Mick Betsch.
Tudo bem que, agora, o segredo tenha ido para o espaço. Aliás, é o tipo de estratégia que não duraria muito tempo _até pelo tamanho dos queixos envolvidos.
Mas o que vale é a intenção. Para Mick, o anonimato deve ter sido bom enquanto durou. Ele deve ter curtido as críticas e os elogios feitos com base apenas na sua pilotagem, não no DNA."
Seguia, então, um paralelo com a nossa cultura. Por aqui, em qualquer atividade, ninguém pensa em deixar de lado o sobrenome famoso. Pelo contrário! É um ativo valioso. Somos o país da carteirada. Se um simples epíteto serve para abrir portas, por que escondê-lo?
Meses depois, o pai de Mick sumiria de cena. O tempo voa: o acidente de esqui do heptacampeão vai completar uma década em dezembro do ano que vem.
Mais uma vez, a discrição deu o tom. É chocante, mas passado tanto tempo pouco se sabe sobre o estado de saúde de um dos maiores esportistas da história. Quem assistiu a "Schumacher", o filme lançado do ano passado, percebe claramente todo o cuidado envolvido, as palavras escolhidas nas entrevistas da família, para que nada de fato fosse revelado.
Assim, discreto, e sem o mentor ao lado, Mick seguiu sua carreira. Pulou para os carros em 2015, fez a escadinha F4-F3-F2, conquistou títulos, credenciou-se para uma vaga na categoria principal, chegou lá no ano passado. O sonho de um dia ser campeão da F1 seguia vivo.
Um sonho que pode ser interrompido neste fim de semana, talvez antes disso. O paddock de Interlagos espera para os próximos dias o anúncio de que o interminável Hulkenberg ocupará a vaga do compatriota na Haas em 2023.
É a última vaga ainda aberta no grid.
Mick não é mau piloto. Foi campeão da F2 há apenas dois anos, superando caras como Tsunoda, Zhou, Ilot, Shwartzman, Drugovich. Colocou Mazepin no bolso na sua temporada de estreia e, neste ano, foi superado pelo experiente Magnusen. Normal. Não foi uma tragédia.
O problema, e aí está uma cruel ironia, talvez seja sua discrição no cockpit. Nos 42 GPs que disputou até agora, Mick foi um piloto discreto, insosso, sem graça. Faltou luz, faltou brilho. Se sair, não fará falta.
Num circuito em que o pai venceu quatro vezes, a última delas há exatos 20 anos, a discrição do filho pode cobrar um preço alto. Correr apagado, evitando os holofotes, não é uma opção na F1.
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