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Fábio Seixas

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

Agora aposentado, Vettel merece ser reconhecido como um dos maiores da F1

Sebastian Vettel comemora o quarto título na F1, em 2013, com vitória no GP da Índia - Getty Images/Red Bull
Sebastian Vettel comemora o quarto título na F1, em 2013, com vitória no GP da Índia Imagem: Getty Images/Red Bull

Colunista do UOL

20/11/2022 11h46

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Piloto novato tem que chegar chegando, já escrevi algumas vezes aqui. Tem que mostrar serviço logo de cara, virar assunto no paddock, deixar claro que tem algo de especial, que merece um lugar no grid.

Ninguém fez isso tão bem como Vettel.

Eu estava em Istambul, em 2006, quando aquele garoto magricela e desengonçado surgiu. Ele tinha 19 anos, vinha de títulos na Fórmula BMW e na Fórmula 3 europeia, corrida na World Series da Renault e fora alçado ao posto de terceiro piloto da BMW Sauber com a dispensa de Villeneuve na Hungria, a corrida anterior —Kubica, que era o reserva, ganhou a vaga de titular ao lado de Heidfeld.

A equipe suíça, então, colocou o garoto para acelerar nos treinos livres de sexta-feira na Turquia. E fez-se a magia. A F1 fechou aquele dia com um assunto só. Quem é esse moleque?

Em seu primeiro dia na F1, sem nunca ter andado naquele circuito, Vettel foi mais rápido que todo mundo. Terminou a sexta na frente, superando Schumacher, Alonso, Massa, Raikkonen, Button, Rosberg...

Ficou claro que se tratava de um fora de classe, de alguém especial, de "world champion material", como o paddock costuma se referir a potenciais campeões.

No ano seguinte, Vettel ganhou sua primeira chance de disputar um GP. Foi chamado para correr nos EUA, substituindo Kubica, que sofrera um forte acidente no Canadá. Largou em sétimo, terminou em oitavo, marcando o primeiro de seus mais de 3.000 pontos na carreira.

vett1 - Divulgação/Red Bull - Divulgação/Red Bull
O alemão Sebastian Vettel, em 2007, quando disputava a World Series e estreou na F1
Imagem: Divulgação/Red Bull

Foi o derradeiro sinal de que a Red Bull, que já o tinha sob contrato, precisava. Na corrida seguinte, o GP da Hungria de 2007, já era titular da Toro Rosso.

A partir daí, construiu uma das mais vitoriosas carreiras do automobilismo.

É o terceiro piloto da história da F1 com mais vitórias: 53, atrás de Hamilton (103) e Schumacher (91). É o quarto em pole positions: largou 57 vezes na frente, menos apenas do que Hamilton (103), Schumacher (68) e Senna (65). É o quinto em melhores voltas: 38, atrás de Schumacher (77), Hamilton (61), Raikkonen (46) e Prost (41).

E o mais importante: é tetracampeão mundial, igualando Prost. Só perde para os heptas Hamilton e Schumacher e para o penta Fangio.

É essa a turma de Vettel na história da F1: Fangio, Prost, Senna, Schumacher, Hamilton...

Com uma diferença: enquanto acumulava vitórias e títulos, nunca foi reconhecido como um deles.

Durante sua carreira, Vettel sempre teve que lidar com o ceticismo, com aquela ladainha de "com aquele carro, até eu".

Talvez pelo caráter meteórico de sua trajetória: 34 de suas 53 vitórias vieram nos anos do tetra e confundiram-se com o sucesso estrondoso da Red Bull.

Talvez por nunca ter empinado o nariz, nunca ter virado personagem de revistas de celebridades, nunca ter vestido a fantasia de super-herói.

Seu vídeo de despedida, divulgado em junho, é a maior prova disso. Vettel faz questão de explicar que ama o esporte, mas que "há vida fora da pista" e que é um ser humano normal.

"Ser um piloto de corridas nunca foi minha única identidade. Eu acredito muito que nossa identidade está em quem somos e como tratamos os outros, não no que fazemos. Quem sou eu? Eu sou Sebastian, pai de três crianças e casado com uma mulher maravilhosa", diz no vídeo. "Amo a natureza e suas maravilhas. Sou impaciente. Posso ser muito chato. Gosto de chocolate e do cheiro de pão quente. Minha cor favorita é o azul."

De lá pra cá, nessa jornada de despedida, a ficha da F1 caiu. Um dos maiores pilotos de todos os tempos estava se despedindo. E só então a categoria decidiu festejá-lo, GP após GP.

O ápice aconteceu no sábado de Abu Dhabi, com uma corrida pela pista que reuniu funcionários de todas as equipes do grid. Só consegue isso quem é muito querido.

Aos 35, o que ele fará a partir de amanhã? Em princípio, vai tirar um tempo para descansar com a família. E consigo vê-lo nos próximos meses disputando provas festivas aqui e ali e empenhado em causas sociais e ambientais, bandeiras que já levanta com fervor.

Vai voltar para a F1? Hamilton acha que sim. Eu acho que não.

Este livro está fechado.

E colocado na mais alta das prateleiras do esporte a motor.