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Fábio Seixas

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

Há 9 anos, Schumacher, heptacampeão da F1, sumia de cena num estalo

Michael Schumacher, heptacampeão da F1, nos tempos de Ferrari - Motorsport Images
Michael Schumacher, heptacampeão da F1, nos tempos de Ferrari Imagem: Motorsport Images

Colunista do UOL

29/12/2022 08h59

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A cabeça numa pedra. E há nove anos, sumiu de cena um dos maiores esportistas do planeta.

Foi tudo muito rápido. E este é um dos pontos da história que chocam até hoje: como uma vida tão densa e uma biografia tão rica podem desaparecer assim, de repente, num estalo.

Era 29 de dezembro de 2013, e Michael Schumacher estava curtindo os últimos dias do ano com a família na estação de esqui de Méribel, nos Alpes franceses.

Tinha ar de celebração. Era a conclusão de um ano diferente, o primeiro de sua aposentadoria definitiva da F1. Foram meses em que ele ficou com a família, pilotou suas motos, jogou futebol, levou Mick para corridas de kart e Gina-Maria para provas de equitação.

O heptacampeão da F1 estava realizando seu velho sonho de viver como uma pessoa comum _dentro das possibilidades, claro. (Em "Schumacher", lançado no ano passado pela Netflix, há uma passagem marcante sobre Spa-91, sua estreia na categoria: mostra que a quinta-feira, véspera do primeiro treino livre, foi o último dia normal na vida daquele jovem alemão.)

Essa busca pelo mundano era um traço marcante do seu jeito de ser. Schumacher era avesso a badalações e raramente levava a família para seu local de trabalho, os autódromos.

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Michael Schumacher com Eddie Jordan no fim de semana de sua estreia na F1, na Bélgica, em 1991
Imagem: Reprodução

Testemunhei dois momentos do alemão tentando ser uma pessoa normal, ambos em Magny-Cours _talvez não tenha sido coincidência, o circuito francês ficava no meio do nada, o público se dispersava e todo mundo se sentia mais à vontade.

A primeira delas foi lá por 2002, 2003. Jornalistas brasileiros organizávamos um churrasco todos os anos numa casa alugada pela turma da Globo nas cercanias do autódromo. O evento foi ganhando dimensão, jornalistas estrangeiros e membros das equipes começaram a aparecer... Então lá estávamos nós, Flavio Gomes e eu, comandando a churrasqueira, quando surgiu Schumacher, pratinho na mão e sorriso no queixo, pedindo umas fatias de linguiça.

A segunda ocasião foi em 2006. Show do Roger Waters ao lado da pista, nada muito grande, quase uma apresentação intimista. Reginaldo Leme, Guilherme Mynssen _então técnico de som da Globo_ e eu estávamos na pequena arquibancada tubular montada para o evento quando reparamos num cara dançando e cantando as músicas à nossa frente. Schumacher.

Entender essa vontade de ser "normal" é fundamental para digerir os últimos nove anos.

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Campos nevados em Méribel, estação de esqui onde Schumacher se acidentou, em 2013
Imagem: Divulgação/Méribel

Ninguém sabia que os Schumacher estavam em Méribel. Só descobrimos quando as primeiras notícias começaram a chegar: o choque da cabeça contra a pedra numa área de transição entre pistas de esqui, danos cerebrais mesmo com o uso de capacete, o helicóptero partindo para o hospital de Grenoble já sob a mira de câmeras de TV do mundo todo.

Hoje sabemos que Schumacher está numa cadeira de rodas, que se comunica com os olhos, que assiste às corridas de F1, que recebe poucas e selecionadas visitas. E só.

Corinna, enfrentando clamores de jornalistas e de fãs, preservou o marido e lhe deu algum sossego.

Uma vida longe dos holofotes, como na quinta-feira 22 de agosto de 1991, antes de acelerar aquela linda Jordan verde pelos sobes-e-desces de Spa-Francorchamps.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL