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Liberty critica "mordaça" na F1, e presidente da FIA começa a sair de cena
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A corda esticou ainda mais. E já dá sinais de que vai romper do lado da FIA.
CEO da Fórmula 1, homem forte da Liberty Media, Stefano Domenicali concedeu entrevista ao "Guardian", da Inglaterra, e foi peremptório ao falar sobre liberdade de expressão dos pilotos.
Em uma sucessão de declarações, foi frontalmente contra a posição do presidente da federação, Mohammed Ben Sulayem, e deixou claro mais uma enorme rusga na relação, um racha talvez incontornável.
A diplomacia de meses atrás definitivamente foi para o espaço.
"A F1 nunca vai colocar mordaça em ninguém", disse o italiano. "Todos têm algo a dizer, então o melhor é que sejamos uma plataforma para que eles se expressem da melhor forma possível. Temos uma enorme oportunidade por causa da nossa condição de ser um esporte cada vez mais global, multicultural e com multiplicidade de valores."
Continuou: "Estamos falando sobre 20 pilotos, 10 equipes e muitos patrocinadores. Eles têm diferentes ideias e visões. Eu não posso dizer que uma está certa e outra está errada. O correto a fazer é dar a eles o espaço para discuti-las de maneira aberta. Não vamos mudar essa maneira de conduzir o esporte. Esse tem que ser um dos nossos pilares: dar a todos a chance de falar, nunca num tom agressivo ou ofensivo, sempre com respeito."
Domenicali disse, ainda, que está discutindo o caso com os pilotos.
"Conversamos sobre o assunto no ano passado. Precisamos ter um diálogo construtivo. Estamos monitorando a situação, mantendo-os informados, fazendo reuniões com a GPDA... Atletas podem ser muito emotivos e apaixonados sobre alguns temas e precisam discuti-los com pessoas em quem confiam. Estamos falando sobre uma regra, e o órgão regulador é a FIA. Acredito que a FIA vai esclarecer o que foi dito em termos de respeitar os espaços para essas manifestações".
Por fim, dá uma dica sobre como o imbróglio deve se resolver. "Estou certo de que a FIA vai se alinhar com a nossa visão já que se trata de uma federação olímpica, com protocolos a seguir."
Sim, a FIA é filiada ao Comitê Olímpico Internacional. E a frase de Domenicali evoca a polêmica Regra 50, que garante liberdade de expressão aos atletas olímpicos, mas que veta manifestações em situações específicas, como áreas de competição e cerimônias de pódio.
Na visão da Liberty, é o modelo a ser seguido: Hamilton e seus colegas podem falar o que quiserem, mas não durante protocolos oficiais da F1.
O presidente da FIA queria mais. E atuou nos bastidores para isso.
No final do ano passado, a entidade incluiu um artigo no seu Código Esportivo Internacional estabelecendo como infração "manifestações políticas, religiosas e pessoais ou comentários notadamente contrários ao princípio geral de neutralidade promovido pelo estatuto da FIA, a não ser com autorização por escrito da federação". O nome disso é mordaça.
A entrevista de Domenicali é mais um capítulo na conturbada relação entre FIA e Liberty Media.
Federação esportiva e dona dos direitos comerciais da categoria têm visões diferentes sobre vários assuntos sensíveis: políticas inclusivas, número de GPs e de sprint races, gestão do Regulamento Esportivo, divisão de receitas, eletrificação dos motores, entrada de novas equipes...
Como pano de fundo, há um choque de dois mundos. De um lado, a Liberty tenta transformar a F1 num esporte mais empolgante, mais próximo do entretenimento que é a marca das ligas americana. De outro está a FIA, com sua visão eurocêntrica, muitas vezes arrogante, avessa a grandes novidades e desde 2022 comandada por um emirático com impulsos autoritários.
A corda está prestes a romper, escrevi ali no início.
O "Daily Mail", da Inglaterra, teve acesso a uma carta enviada por Ben Sulayem a chefes de equipes na noite da última segunda-feira. No texto, ele diz ter completado a primeira fase de seu trabalho como presidente da entidade: montar uma equipe executiva para comandar a F1.
A partir de agora, diz na carta, começar a se afastar do dia a dia do esporte. "Nikolas [Tombazis, ex-Ferrari, hoje diretor de monopostos da FIA] passará a ser o contato de vocês, enquanto estarei focado em assuntos mais estratégicos", escreveu.
Ben Sulayem, se o ego permitir, passará a ser uma rainha da Inglaterra.
A F1 agradece.
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