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Fábio Seixas

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

Hamilton sobe o tom e usa renovação para cobrar mudanças na Mercedes

Lewis Hamilton, da Mercedes, no circuito de Sakhir, que abriu a temporada da Fórmula 1  - Steve Etherington/Mercedes
Lewis Hamilton, da Mercedes, no circuito de Sakhir, que abriu a temporada da Fórmula 1 Imagem: Steve Etherington/Mercedes

Colunista do UOL

08/03/2023 12h17

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"No ano passado eu expliquei para eles quais eram os problemas do carro. Eu já pilotei tantos carros na vida... Eu sei do que um carro precisa e do que não precisa. Acho que é uma questão de assumir responsabilidades, de chegar e dizer 'ei, sabe, a gente não te ouviu, o carro não está como queríamos e temos muito trabalho a fazer'."

E assim, numa entrevista à BBC, Hamilton deixou claro seu estado de espírito com a Mercedes.

A paciência acabou.

A gota d'água não foi nem a quinta posição no GP do Bahrein, no domingo. Esse tipo de resultado pode acontecer com qualquer um num dia ruim, é do jogo. Foi o comportamento do W14, que minou qualquer esperança de Hamilton de lutar pelo oitavo título mundial.

Não deve ser agradável descobrir, na sexta-feira da primeira etapa do campeonato, que os próximos meses serão um suplício. Deve ser irritante constatar que suas sugestões foram solenemente ignoradas. Deve trazer um sentimento de impotência perceber as pessoas ao seu redor insistindo num erro flagrante: no caso, o tal conceito "zeropod".

Por isso, também, a outra frase de Hamilton que ganhou repercussão após o GP. Questionado sobre onde a Mercedes errou, o heptacampeão foi direto e reto: "Doze meses atrás."

Relatei aqui, na semana passada, que os problemas com o W14 haviam congelado as conversas de renovação de contrato do inglês com equipe. Sobre a busca da Mercedes por uma reação, escrevi: "O caminho, tudo indica, será mais longo, mais pedregoso, mais cansativo. E Hamilton talvez não esteja disposto a percorrê-lo."

Tudo aconteceu muito rápido.

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Lewis Hamilton concede entrevista durante o fim de semana do GP do Bahrein
Imagem: Jiri Krenek/Mercedes

Em menos de uma semana, o que era zunzunzum de paddock ganhou outra dimensão. Hamilton soltou o verbo, e Wolff já teve que responder perguntas sobre um eventual substituto de seu primeiro piloto no ano que vem.

Hamilton pode parar no fim da temporada? Pode, claro. É um dos maiores da história, já ganhou tudo o que tinha de ganhar, está bilionário, pode buscar novos desafios no mundo da moda e das artes, como já declarou desejar, ou mergulhar ainda mais em seus projetos sociais.

Ou será que ele está seguindo a receita da última renovação?

Não faz muito tempo... No meio de 2021, ele entrou numa queda de braço com a Mercedes: cobrava atualizações do carro, enquanto a equipe preferia focar nas mudanças do Regulamento Técnico e preparar o modelo de 2022.

O inglês insistiu, pressionou, esperneou, ameaçou jogar tudo pro alto até conseguir o que queria.

Saberemos a resposta nos próximos meses.

Mas há um ponto fundamental nessa discussão: em 2021, a pressão deu certo. Ele teve um carro competitivo até a última etapa do campeonato.

Agora, o buraco é muito mais embaixo.