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Fábio Seixas

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

A falta que Lauda faz

Niki Lauda, em Silverstone, antes do GP da Inglaterra de 2017 - Simon Galloway/Mercedes
Niki Lauda, em Silverstone, antes do GP da Inglaterra de 2017 Imagem: Simon Galloway/Mercedes

Colunista do UOL

15/03/2023 09h52

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Seria assim... Lauda só precisaria chegar em Hamilton e dizer: "Quer ouvir sobre dificuldades?"

E ele nem precisaria sacar sua melhor carta, a quase-morte de 1976.

Poderia começar falando sobre dois anos antes, por exemplo, seu início na Ferrari com um carro que quebrava muito e que só lhe deu o quarto lugar no campeonato.

Poderia lembrar de sua péssima relação com Reutemann em 1977 e o fato de ter precisado contratar seguranças em Monza para protegê-lo dos tifosi furiosos com suas críticas à equipe.

Poderia comentar das duas temporadas problemáticas na Brabham, testando e sofrendo com trapizongas aerodinâmicas, a ponto de um dia interromper um treino e comunicar ao então chefe, Ecclestone, que não queria mais aquela loucura de ficar rodando em círculos.

Poderia, vejam só, resgatar as memórias de 1983, quando também enfrentou uma queda de braço com a direção técnica da sua equipe. Na ocasião, depois de muita discussão, convenceu a McLaren a construir um novo carro para receber os motores TAG-Porsche.

Poderia detalhar como foi sua última temporada na F1, 1985. O título do ano anterior não ajudou em nada. Colecionou abandonos: foram 11 em 14 etapas, desempenho que o convenceu a se aposentar das pistas novamente, desta vez de forma definitiva.

Poderia listar os amigos que viu morrer em pistas mundo afora, numa época em que os pilotos viajavam para os GPs sem saber se voltariam para casa: Williamson, Cevert, Peterson, Villeneuve... A insegurança rondava o esporte, e os dirigentes não estavam nem aí pra isso.

Poderia recordar das encrencas que precisou resolver estando do outro lado do balcão, como dirigente, situação que viveu na Ferrari e na Jaguar e que não deixou saudades.

Poderia em algum momento falar de dificuldades fora das pistas: dos problemas de relacionamento com o pai, do financiamento kamikaze para começar a correr, da quebradeira na sua empresa de aviação que o forçou a engolir o orgulho e voltar para a F1...

lauda11 - Steve Etherington/Mercedes - Steve Etherington/Mercedes
Lewis Hamilton e Niki Lauda na semana do GP de Mônaco de 2018
Imagem: Steve Etherington/Mercedes

Hamilton também não teve um início fácil. Seu pai precisou acumular empregos para pagar seus primeiros anos no kart e ele sabia que ficaria pelo caminho se não vencesse desde cedo.

Mas ouvir um veterano com tanta história para contar só poderia fazer bem.

É o tipo de conversa que faz cair a ficha. Seus problemas não são inéditos. Alguém já os viveu antes. Melhor: alguém já os resolveu antes e está ali para te contar como fez.

Lauda, é bom lembrar, teve papel fundamental na missão de convencer Hamilton a sair da McLaren e se juntar à Mercedes a partir de 2013.

Em 2020, quando sua morte completou um ano, o inglês o homenageou e, entre outras coisas, escreveu que o austríaco ensinou a liderar uma equipe.

Ah, a falta que Lauda faz...