Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.
Equipe 50% feminina na F1 é ideia espetacular e que deve ser levada a sério
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Sempre que alguém surge com uma ideia "diferente demais", convém pesquisar o seu passado. Se esse alguém já emplacou outros projetos inovadores, merece uma atenção extra.
Em 1999 a F1 foi chacoalhada por uma equipe "diferente demais".
Pra começar, a British American Racing extrapolava o patrocínio tabagista: era propriedade de uma gigante do setor, a British American Tobacco. Naquele primeiro ano, tentou correr com dois carros levando cores e marcas diferentes. Proibida pela FIA, criou uma solução histórica: um layout de um lado, outro layout do outro e o desenho de um zíper no bico, separando-os.
Seu pessoal também era todo meio malucão. A começar pelo primeiro piloto: Jacques Villeneuve. O canadense deixou a Williams, onde tinha sido campeão dois anos antes, pelo sonho de uma equipe em que teria mais ingerência. Pudera. O criador e chefe da BAR era Craig Pollock, seu ex-professor de educação física e seu empresário desde os tempos da Indy.
A BAR comprou a estrutura decadente da Tyrrell, à beira de desaparecer, e transformou-a.
É verdade que nunca se tornou a equipe vitoriosa sonhada pelo canadense, mas também é fato que mudou de patamar. Foram 117 GPs, 2 poles, 15 pódios, 227 pontos conquistados.
A BAR se transformou em Honda, que virou Brawn, que foi comprada pela Mercedes, a equipe com o domínio mais duradouro da história da F1 _oito Mundiais seguidos de 2014 a 2021.
Nesses anos todos, pouco ouvimos falar sobre Pollock. Sumiu de cena, foi tocar outros negócios. A hibernação terminou nesta semana. Ele voltou com força total no noticiário.
O motivo? Uma ideia "diferente demais".
O executivo anunciou que vai participar do processo de concorrência aberto pela FIA para atrair novas equipes à F1 a partir de 2026. O projeto seria bancado com dinheiro saudita.
Agora vem a novidade: seu plano é lançar a primeira equipe da categoria em que 50% dos funcionários serão homens e 50% serão mulheres. Já tem até nome "Fórmula Equal".
"Isso seria extremamente difícil de implantar numa equipe já existente. Mas é muito mais fácil a partir de uma folha em branco", disse Pollock, à CNN. "Nossa ambição é criar oportunidades e caminhos para as mulheres na categoria que é o topo do esporte a motor", completou.
(Sim, é irônico que os recursos venham de um país que até 2017 proibia mulheres no volante. Por outro lado, pode ser um sinal de boa vontade, um aceno para benvindas mudanças.)
Há outras três candidatas no "processo de manifestação de interesse" aberto pela FIA: a Andretti, a Hitech e a Panthera. O prazo para inscrições termina em 30 de abril.
Nenhuma, porém, traz tanto apelo midiático quanto a "Fórmula Equal". Os sauditas estão num claro processo de "rebranding" do país, e sabemos que dinheiro não é exatamente um problema para eles.
Pode ser só uma bravata de Pollock? Pode. Já vimos muitos anúncios não concretizados na F1. Já teve até equipe que viajou para GPs e nunca correu. Mas seu passado recomenda olhar para a ideia com um pouco de carinho.
E, cá entre nós, seria espetacular ver acontecer.
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