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Fábio Seixas

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

Há mesmo tantos países na fila para receber uma etapa da Fórmula 1?

Fernando Alonso, que aproveitou o domingo de folga na Fórmula 1 para velejar - Reprodução/Instagram
Fernando Alonso, que aproveitou o domingo de folga na Fórmula 1 para velejar Imagem: Reprodução/Instagram

Colunista do UOL

17/04/2023 09h51

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Segunda-feira, 17 de abril de 2023. Este post era para ser um "Pílulas do Dia Seguinte" do GP da China. Ou da Turquia. Ou de Portugal.

Não é. Porque não teve corrida. Nenhum circuito tapou o buraco aberto por Xangai. A Fórmula 1 ganhou inesperadas _e estranhas_ quatro semanas de férias no início do campeonato.

Norris, Leclerc e Gasly passaram o domingo nas tribunas do Masters de Montecarlo acompanhando a vitória de Rublev sobre Rune. Alonso preferiu velejar. Sainz foi jogar golfe. Bottas escolheu pedalar. Verstappen ficou em casa, no simulador de corridas.

Mas, ué, não há uma lista enorme de países implorando por uma corrida?

O discurso de Domenicali, o homem-forte da Liberty Media, é este. E é repetido à exaustão, sempre que surge um microfone à sua frente. No fim de semana, teve de novo. A Sky Sports, da Inglaterra, levou ao ar uma entrevista com o executivo, gravada na Austrália, em que ele bate e rebate na tecla da "fila de países candidatos a um GP".

Falou em correr na África, pressionou circuitos tradicionais, comentou sobre Ásia, disse haver mais promotores dos EUA interessados numa etapa. Em todas as situações, fez jogo duro.

"Queremos 100% correr na África do Sul, mas temos que evitar ir pra lá um ano e depois esquecer. Precisamos do parceiro certo, de um plano de médio prazo. Estamos trabalhando, tentando encontrar a melhor solução para o esporte e para o país", afirmou o italiano.

gaslye - Reprodução/Instagram - Reprodução/Instagram
Pierre Gasly, Charles e Arthur Leclerc cumprimentam Andrey Rublev após o título em Montecarlo
Imagem: Reprodução/Instagram

Questionado sobre quais países estão na tal fila, contou ter sido procurado por promotores asiáticos e americanos, mas disse não ver grandes chances num futuro próximo: "Há interesse de países do leste asiático e de mais gente nos EUA. No momento temos três corridas lá, não vejo como isso aumentar nos próximos anos. O mais importante é que um GP precisa ter personalidade. Queremos que as cidades vivam o evento. Essa é a mágica da F1".

Deu uma cutucada em circuitos antigos, sugerindo que tradição não garante data no calendário. Usou o GP da Itália como exemplo. "Quando 'história' é algo apenas conectado ao passado, temos um problema. Mas se essa 'história' é um valor, se você está empenhado em desenvolver o esporte olhando para o futuro, o peso é maior. Monza é um lugar incrível, mas nossa obrigação é fazê-los investir em infraestrutura, em serviço para os fãs."

Por fim, disse que uma corrida de rua em Londres seria "espetacular". No mês passado, jornais ingleses revelaram planos para um GP na região das docas, onde já corre a Fórmula E.

O Vietnã estaria na lista sul-asiática. A imprensa local relatou que Domenicali esteve em Hanói na viagem de volta da Austrália. E no ano passado surgiu uma história sobre um GP do Caribe, em Barranquilla, na Colômbia. O italiano deu uma passadinha por lá após a corrida do México.

O que há de concreto nesses planos? E o que é apenas cortina de fumaça para valorizar o produto, criar dificuldades e vender facilidades cobrando taxas cada vez altas dos promotores?

Se há tantos países na fila para receber um GP, por que não houve nenhuma substituição para a China?

O buraco no calendário dá uma dica.

Domenicali está cumprindo muito bem o papel dele. Mas há muita lábia de vendedor nisso tudo.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL