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Fábio Seixas

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

Ferrari perde outra peça importante e lembra reconstrução de 30 anos atrás

Laurent Mekies, diretor de corridas da Ferrari, durante o GP da Austrália - Ferrari
Laurent Mekies, diretor de corridas da Ferrari, durante o GP da Austrália Imagem: Ferrari

Colunista do UOL

26/04/2023 08h25

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Um copo meio cheio é também um copo meio vazio. O mesmo raciocínio, claro, serve para as xícaras de espresso servidas em Maranello.

O fato: às vésperas do GP do Azerbaijão, a Ferrari sofreu uma baixa importante. O francês Laurent Mekies, diretor de corridas, está de saída.

Irá para a AlphaTauri, um retorno a Faenza, já que trabalhou na Minardi e na Toro Rosso até 2014. Ocupará o posto de chefe da equipe no lugar de Franz Tost, que vai se aposentar.

A versão espresso meio vazio é preocupante para os tifosi _embora deliciosa, aliás sempre prefira os cafés curtos quando for à Itália, são uma pancada na boca e um agrado na alma.

Mekies é o personagem mais pesado da Fórmula 1 a sair de Maranello desde que Frédéric Vasseur assumiu o comando da escuderia italiana, na virada do ano. Mas não é o único.

No mês passado, a equipe já havia perdido o engenheiro-chefe David Sanchez, que estava por lá havia dez anos e aceitou proposta da McLaren.

A iminente saída de Mekies, agora, engrossa as suspeitas de clima ruim na Ferrari após a chegada de Vasseur. O novo chefe é conhecido pelo estilo de trabalho linha dura, bem diferente do antecessor, o carismático Mattia Binotto.

(A propósito, é curioso que os dois demissionários sejam franceses. Trabalhar com Vasseur não deve ser fácil...)

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Frédéric Vasseur (à dir.), chefe da Ferrari, com Laurent Mekies, diretor de corridas, no fim de semana do Bahrein
Imagem: Ferrari

A nova baixa não é exatamente uma surpresa. Semanas atrás, a "Auto Motor und Sport", da Alemanha, publicou que Mekies tinha três ofertas na mesa. Na época, Vasseur negou a saída do engenheiro, argumentando que ele seria "um dos pilares do futuro da Ferrari".

"Ficou parecendo discurso de dirigente de futebol garantindo que o técnico está 'prestigiado'. Sabemos onde vai dar", escrevi, aqui. Deu no que deu.

Não deve parar por aí. A imprensa italiana já fala em debandada de profissionais. Vasseur tenta contemporizar. "Essas movimentações acontecem todos os anos em todas as equipes. Pessoas chegam, pessoas vão", afirmou, em meio aos rumores do mês passado.

Mas, não esqueçamos, a xícara de espresso também está meio cheia.

A Ferrari, convenhamos, não foi um modelo de organização nas últimas temporadas. E o Mundial do ano passado foi o melhor _ou pior_ exemplo disso.

Tinha um carro veloz, um piloto com sangue nos olhos, começou o ano com dobradinha, grand chelem, liderança, esperança... Para tudo terminar em desilusão, frustração, baixo astral.

Vasseur certamente não foi contratado para manter tudo como estava.

Chegou para dar um choque de gestão, para promover um rapa, para limpar a área. Como um velho compatriota seu fez 30 anos atrás: Jean Todt.

Tem que morrer pra germinar, ensina Gil, em "Drão".

Vasseur talvez não conheça esses versos, mas é este o espírito.

Acredito mais na versão espresso meio cheio. A Ferrari está em reconstrução.