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Fábio Seixas

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

Pílulas do Dia Seguinte: Verstappen transformou raiva em exibição de gala

Max Verstappen no pódio do GP de Miami após sua 3ª vitória no ano - Chris Graythen/Getty Images
Max Verstappen no pódio do GP de Miami após sua 3ª vitória no ano Imagem: Chris Graythen/Getty Images

Colunista do UOL

08/05/2023 08h36

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Pérez fez seu pit stop na 20ª volta do GP de Miami. Tirou os pneus médios, colocou duros novos. Verstappen tinha os duros desde a largada. Descontada a 21ª volta, de retorno à pista, começou a virar tempos mais rápidos do que o companheiro, o que era lógico. Mas eis que, na 27ª, Verstappen fez um tempo melhor. Repetiu a façanha na 30ª. Na 31ª, tirou 0s484. Foram mais 0s090 na 32ª. Mais 0s310 na 33ª. E assim foi, volta após a volta a partir de então...

Verstappen, em Miami fez algo de que só os grandes são capazes. Sem outra opção, dobrou os números, transformou o improvável em mais uma vitória. Lembrou Schumacher vencendo em Magny-Cours com quatro pit stops em 2004 e Senna ganhando em Interlagos em 1993 com um carro tão inferior aos Williams. No domingo de Miami, o holandês contrariou a lógica;

Cercado por pilotos com compostos médios, Pérez não tinha outra escolha a não ser largar com o mesmo tipo de pneu. Já Verstappen tinha que tentar algo diferente. Largar com os médios significaria estar no mesmo bolo. Sua chance de vencer era largar com os duros e extrair deles o máximo desempenho pelo maior tempo possível. Para isso, precisaria ser agressivo e, ao mesmo tempo, cerebral. Segundo Horner, as simulações da Red Bull mostravam que a estratégia de Pérez era 3 segundos mais rápida ao longo de todo o GP;

Verstappen largou com esse número na cabeça: 3 segundos. Era essa sua meta, era esse o número que precisava dobrar, mesmo largando em nono e precisando enfrentar tráfego enquanto o companheiro pilotava com vento na cara. Quando assumiu o segundo lugar, na 15ª volta, estava 3s7 atrás. Quando finalmente fez seu pit, na 45ª, estava 18s3 na frente. Retornou à pista 0s7 atrás, ultrapassou o companheiro na 48ª, venceu com 5s7 de vantagem;

O nome disso é exibição de gala. E por trás dela, havia um sentimento de raiva interna;

"Acho que o desempenho seria similar mesmo que ele estivesse em outra estratégia. Ele estava frustrado com o erro na classificação e por não ter conseguido consertar aquilo em tempo", explicou Horner. "Mas ele estava confiante e resolveu tentar uma estratégia ligeiramente diferente. Discutimos o prós e contras e decidimos dar-lhe a chance de tentar";

Pérez parecia ter sido nocauteado ao fim da corrida: "A performance dele hoje foi inalcançável para mim e preciso entender o motivo". Não havia muito mais o que dizer;

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Comemoração da Red Bull após a quarta dobradinha em cinco etapas na temporada da F1
Imagem: Rudy Carezzevoli/Getty Images

A Red Bull conquistou 224 dos 235 pontos disponíveis no campeonato até agora, ou 95,3%. Foi impecável em Miami, assim como na Arábia Saudita. No Bahrein, deixou escapar o ponto da melhor volta. Na Austrália, Pérez foi só o quinto. No Azerbaijão, Verstappen foi terceiro na corrida sprint e, no GP, a melhor volta foi para Russell. Foram esses os únicos pecados da equipe austríaca em 2023, dá para lembrar de cabeça. É um desempenho assustador;

"Melhor do resto" pelo quarto GP em cinco etapas, Alonso foi a atração do pódio. Brincou, dançou, mostrou uma leveza impensável no Alonso de anos atrás. A idade fez bem a ele;

Seria cômico para a Mercedes se não fosse trágico. Quarto colocado, atrás de Alonso, Russell entrou pelo rádio em certo momento e disparou: "Quem é aquele na frente do Fernando? Estamos tão perto assim do Pérez?" A resposta foi desoladora. "Não. Desculpa. É o Sargeant";

Depois de ensaiar uma melhora no campeonato, a Mercedes voltou a fazer um GP apagado. Agora, suas esperanças se voltam para Ímola, no dia 21, com a estreia de um pacote aerodinâmico que vai incluir novos sidepods, assoalho e suspensão dianteira;

E a Ferrari? O sinal de alerta já acendeu por lá há algum tempo, e agora os pilotos já falam sem constrangimentos sobre os problemas do F175. "Temos muito trabalho a fazer. Nosso carro é muito sensível. Quanto tudo está bem, nas condições ideais, a sensação é boa. Mas quando algo dá errado, fica impossível de pilotar", disse Leclerc. "Hoje estava assim: batendo no chão, escorregando, vibrando nas curvas, horrível..."

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Carlos Sainz e Charles Leclerc, pilotos da Ferrari, conversam após o GP de Miami
Imagem: Reprodução/F1TV

Fico imaginando o velho Enzo Ferrari ouvindo um piloto falar assim de uma de suas máquinas;

Norris foi 17º. Piastri terminou em 19º. A McLaren anunciou ontem que Gil de Ferran está de volta para ajudar na gestão da equipe. O brasileiro vai ter muito trabalho;

Aliás, já podemos chamar McLaren e Williams de ex-equipes grandes?

Foi apenas o 13º GP da história sem nenhum abandono. Há uma curiosidade sobre essa estatística, que evidencia o quanto os carros e circuitos de hoje são mais confiáveis. A F1 começou em 1950. Levou 11 anos para a primeira corrida sem abandono: o GP da Holanda de 1961. Depois disso, houve um hiato de 44 anos, até o GP dos EUA de 2005 _uma aberração, porque 14 pilotos não largaram. De qualquer forma, naquele mesmo ano, em Monza, a marca foi alcançada de novo. De lá pra cá, houve outros 10 GPs sem nenhuma quebra ou acidente.