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Fábio Seixas

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

O que está por trás da "motivação" de Alonso nesta temporada

Fernando Alonso no cockpit do AMR23 durante o fim de semana do GP de Miami - Zak Mauger/Aston Martin
Fernando Alonso no cockpit do AMR23 durante o fim de semana do GP de Miami Imagem: Zak Mauger/Aston Martin

Colunista do UOL

15/05/2023 10h29

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Motivação. Em uma entrevista organizada pela Aston Martin, Alonso usou quatro vezes essa palavra para falar sobre seu momento na F1.

Disse que os dois anos longe da categoria foram revitalizantes, que ajudaram a refrescar sua cabeça e que hoje é feliz em trabalhar. "Aquele tempo me ajudou. Talvez não no estilo de pilotagem, mas mentalmente, na maneira de encarar o trabalho, na motivação", disse.

Repetiu a expressão para explicar seu momento de retorno à categoria, em 2021, e para falar sobre sua idade. Prestes a completar 42 anos, o espanhol é o mais velho piloto do grid e o recordista de participações na F1, com 360 GPs _e contando.

Ênfase assim não acontece por acaso. Alonso, como vem fazendo desde a abertura da temporada, com o primeiro de seus quatro pódios até agora, estava mandando um recado.

A destinatária é a Alpine.

Alonso ainda não engoliu a maneira como foi tratado por Otmar Szafnauer e Laurent Rossi nas negociações para renovação de contrato, em meados do ano passado.

Ele queria três anos a mais na equipe. Os chefes ofereceram um ano, com opção de renovação. Questionado sobre o motivo da contraproposta, Rossi disse que três anos eram muita coisa para um piloto já na casa dos 40.

Um erro crasso de julgamento. Um erro que machucou Alonso e que despertou sua fúria. Um erro que explica por que Alonso fez o que fez ao assinar na surdina com a Aston Martin.

Um erro não só de gestão de pessoas, mas de leitura do mercado. Szafnauer e Rossi imaginaram, naquele momento, que não havia opções para o espanhol. Ferrari, Mercedes e Red Bull estavam com suas duplas fechadas, afinal. O resto, bem, era o resto.

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Fernando Alonso concede entrevista no paddock do circuito de Miami, 5ª etapa da F1
Imagem: Zak Mauger/Aston Martin


O que eles não anteciparam é que qualquer coisa se torna uma opção para quem se sente desrespeitado. Alonso foi conversar com a Aston Martin. E enxergou, ali, uma saída.

E que linda saída... Em cinco GPs, Alonso soma quatro pódio e 75 pontos. Curiosamente, saiu de cada fim de semana até agora com a mesma pontuação: 15. É mais do que tudo o que a Alpine conseguiu no Mundial até agora: 14 pontos _8 de Gasly, 6 de Ocon.

Isso explica, também, o chilique público de Rossi antes de Miami, criticando o "amadorismo" da Alpine e dizendo que haverá "consequências" se as coisas não mudarem rápido.

É o comportamento clássico de gestores que sabem que fizeram uma besteira fenomenal e querem transferir a culpa para os andares de baixo.

É o carro que está jogando Alonso pra frente? O AMR23 é ótimo, claro, mas convém lembrar que Stroll é só o oitavo colocado no campeonato, com 23 pontos. Prefiro acreditar que há mais de piloto do que de máquina na terceira posição de Alonso no Mundial.

"Motivação".

Entre outras interpretações, o Michaelis define como "série de fatores, de natureza afetiva, intelectual ou fisiológica que atuam no indivíduo, determinando-lhe o comportamento".

No caso do Alonso de 2023, isso se encaixa num sinônimo. Vingança.