Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.
Aos 73 anos, F1 finalmente passou a enxergar o mundo ao redor
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Era uma terça-feira, 11 de setembro de 2001, e eu arrumava a mala para Monza quando surgiram as primeiras imagens de incêndio no World Trade Center. Seria um acidente? Um atentado? Surgiu então a informação da tentativa de ataque ao Pentágono. Atônito como o resto do mundo, vi o segundo avião rasgar a segunda torre de Nova Iorque, tornando-a pó.
Terminei de arrumar a mala, peguei a mochila e o case de equipamentos e fui para o aeroporto ainda meio anestesiado. Eram muitas as perguntas sem resposta, dos importantes reflexos para o mundo às implicações para minha insignificante viagem.
Quem seria capaz de fazer aquilo? Será o começo de uma guerra? Haverá mundo quando eu chegar lá? Os aeroportos estarão funcionando? Meu voo vai ser cancelado?
Eu só tinha uma certeza. O GP da Itália aconteceria.
Três dias depois, 14 de setembro, os carros entraram na pista de Monza para os primeiros treinos livres da 15ª etapa do campeonato. À exceção de homenagens numa equipe ou outra _a Ferrari tirou marcas dos patrocinadores e pintou os bicos de preto_, nada mudou na rotina da categoria. A programação foi mantida.
Foi o primeiro grande evento esportivo no mundo depois do 11 de Setembro. Todos os outros grandes campeonatos e ligas pararam. A Fórmula 1, não.
Mais do que sensações de resiliência e orgulho, a decisão na época trouxe um pouco de vergonha a todos os que estavam lá. Mais uma vez, a F1 mostrava-se insensível, exibia-se como algo superior.
Foi sempre assim. Empáfia. Nariz empinado. Um mundinho à parte.
Um piloto morreu degolado na pista! Sigam com a corrida. Mas tem final de Copa neste dia! Marquem uma corrida. Tem um furacão se aproximando! Mantenham a corrida. A pista tem sérios problemas e os pilotos estão em risco! Façam a corrida. O mundo vai acabar! E daí?
Nas últimas décadas, o emissor das ordens era Ecclestone. Mas, sejamos justos, também era assim antes dele. (Pesquisem GP dos EUA de 1974 ou GP da Espanha de 1975, por exemplo.)
A região da Emília-Romagna sofre com fortes chuvas há dias. Rios transbordaram, nove pessoas morreram, centenas perderam suas casas, cidades ao redor estão alagadas.
É uma calamidade pública. E, no meio de tanta tristeza, resta o alento de ver uma postura mais humana da F1. O paddock alagou? Os acessos estavam complicados? Não tenho dúvidas de que a gestão anterior esperaria a água baixar e que os carros entrariam na pista na sexta-feira.
Nesta quinta, aliás, já há condições de trabalho por lá: as equipes foram autorizadas a entrar no autódromo para desmontar os boxes.
Não sejamos ingênuos. Além das questões práticas, tem também muito de marketing na decisão tomada pela FIA e pela Liberty Media, uma especialista na matéria.
Seja como for, seja pelos motivos que forem, é um conforto constatar que a F1 não se vê mais como um mundo à parte.
Aos 73 anos recém-completados, a categoria enfim baixou o nariz.
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