Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.
A Fórmula 1 tornou-se uma vitrine estreita do que é o automobilismo
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Giovinazzi deixou a F1 em 2021 pela porta dos fundos. Após três temporadas na Alfa Romeo, o italiano perdeu a vaga para Zhou. A ambição da equipe e da categoria pelo mercado chinês falou mais alto do que o apoio da Ferrari.
Em 2022, vagou como um zumbi pela Fórmula E. Não se adaptou. Era figura frequente na última fila. Foi o único piloto titular a fechar o ano com zero ponto. Estava sempre chocho, com o olhar perdido. Tornou-se um trapo humano.
Nada a ver com o homem poderoso, emocionado, chorando de felicidade, que comemorou no domingo um feito histórico nas 24 Horas de Le Mans.
Dividindo o carro com o inglês James Calado e com o compatriota Alessandro Pier Guidi, Giovinazzi conquistou a décima vitória da Ferrari numa das maiores provas do planeta, a primeira em La Sarthe desde 1965.
"Estamos orgulhosos. É ainda mais especial para mim e para Alessandro. Pilotamos este carro pela primeira vez em julho. Conquistar esse resultado depois de menos de um ano é absolutamente fantástico", disse, exultante. "Quando você é criança, sempre vê algumas corridas especiais: Le Mans, Indianápolis e, no meu caso, a Fórmula 1 em Monza... Vencer aqui era um dos meus sonhos. Hoje se tornou realidade", completou.
Um piloto rejeitado pela F1 no topo do mundo.
Pouco mais de um ano atrás, houve um caso bem parecido.
Ericsson deixou a F1 em 2018 pela porta dos fundos. Após quatro temporadas por Caterham e Sauber/Alfa Romeo, o sueco perdeu a vaga para... Giovinazzi. O desconto no fornecimento de motores Ferrari falou mais alto que os patrocinadores suecos que ele levava para a equipe.
Em 2019 atravessou o Atlântico e foi para a Indy. Patinou no início, mas engatou uma curva de aprendizado, especialmente nos ovais. Foi 17º colocado no seu primeiro ano por lá. Ficou em 12º no seguinte. Foi 6º no terceiro ano, com duas vitórias. Tornou-se um bom coadjuvante.
Até que, no ano passado, conquistou a glória eterna. Venceu as 500 Milhas de Indianápolis, outra perna da Tríplice Coroa do automobilismo, ao lado de Le Mans e de Mônaco. Sua surpreendente vitória foi um choque e provocou uma enorme discussão no automobilismo.
Como assim? Como um "underdog", um rejeitado pela F1, ganha em Indianápolis? O nível da Indy é tão baixo? Qualquer um chega lá e ganha sua prova mais importante? Como assim?
A vitória de Giovinazzi é maravilhosa, entre outros motivos, porque encerra essa discussão.
(Ou alguém vai contestar o alto nível do grid de Le Mans, os investimentos de montadoras como Toyota, Porsche e Peugeot, a preparação intensa para esses únicos dias no ano?)
O grid da F1 é uma vitrine. Que, como toda vitrine, tem um pouco de tudo: pilotos geniais, coadjuvantes úteis, jovens promissores e até quem só está ali por circunstâncias políticas ou financeiras.
Mas, com apenas 20 vagas há anos, tornou-se uma vitrine estreita, limitada, parca até. Uma vitrine fechada em si mesma, em que ninguém se desafia a olhar para os lados.
(Nem sempre foi assim. Um exemplo: em 1973, última vez em que havia corrido Le Mans, a Ferrari foi segunda colocada com Pace e Merzario, que disputavam a F1.)
É preciso abrir os olhos, ampliar os horizontes, livrar-se dos antolhos. Há tanta vida lá fora...
Giovinazzi e Ericsson que o digam.
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