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Fábio Seixas

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

Pílulas do Dia Seguinte: F1 precisa extinguir besteira de "limite de pista"

Max Verstappen durante o GP da Áustria, em Spielberg, sua 42ª vitória na F1 -  Peter Fox/Getty Images
Max Verstappen durante o GP da Áustria, em Spielberg, sua 42ª vitória na F1 Imagem: Peter Fox/Getty Images

Colunista do UOL

03/07/2023 08h38

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"Isso não é automobilismo". Assim, direto e assertivo, Hamilton definiu o que aconteceu por todo o fim de semana do GP da Áustria com a questão dos limites de pista.

Não, não é mesmo. Aquilo não é automobilismo. E a cronologia da bagunça que tomou conta de Spielberg no fim do domingo reforça esta conclusão;

Verstappen recebeu a bandeirada às 11h25, horário de Brasília. Às 13h14, a Aston Martin entrou com um protesto na FIA alegando que "vários carros não foram penalizados". No mesmo comunicado, a entidade informava ainda que os comissários já estavam cientes de que a torre de controle não tinha conseguido processar todas as infrações e que uma revisão estava em curso. Às 14h49, novo comunicado: a FIA acatava o protesto da equipe inglesa e reforçava que os comissários não haviam sido informados de todas as infrações durante a prova. No paddock, começou a circular um número: eram 1.200 casos a serem analisados;

Às 16h27, a FIA divulgou uma lista de 84 voltas que seriam expurgadas do registro da corrida _além de todas as outras que já tinham sido apagadas durante o GP. Às 16h30, veio uma nova relação, com oito pilotos que seriam punidos por reiteradamente extrapolarem os limites de pista: Sainz, Hamilton, Gasly, Albon, Ocon, Sargeant, De Vries e Tsunoda. Às 16h45, finalmente, foi publicado o resultado oficial da corrida, cheio de mudanças. Já eram 21h45 em Spielberg;

Sim, o resultado do GP só foi definido mais de cinco horas após a bandeirada;

É indefensável. Não é possível que alguém ache que isso está certo. Não é viável imaginar que os novos fãs, a turma que chegou nos últimos anos para acompanhar a categoria, vá gostar desse tipo de coisa, dessa burocracia chata. Os chefes da Liberty devem ter arrancado alguns cabelos enquanto acompanhavam seus parceiros da FIA chafurdarem nesse episódio;

O mais inusitado dessa situação é que ela simplesmente não deveria existir. Sua origem não deveria existir. A FIA inventou um problema para ela mesma, e só o piorou neste ano ao encher aquelas curvas 9 e 10 com câmeras e sensores. "A pior coisa é querer impor um limite policial às regras da física. A solução tem que ser física", me disse ontem um ex-dirigente da F1, grande conhecedor de autódromos mundo afora. Ele tem toda razão;

Wolff foi na mesma linha e deu duas sugestões. "Você pode implantar zebras-salsicha, trazendo riscos de quebras aos carros, ou apenas remover os limites de pistas e deixar os pilotos buscarem as trajetórias mais rápidas", resumiu o austríaco. Simples assim;

Já faz dois anos que escrevo isso, mas infelizmente vou ter que repetir. Já é hora de a F-1 deixar essa chatice de lado e seguir um velho lema do automobilismo: "If it's grey, it's OK!" Algo como "se é cinza, se é asfalto, tá valendo". Se o piloto foi ao limite, mas manteve-se na pista sem levar risco a ninguém, que mal tem?

Tanta xaropada acabou por ofuscar o que Verstappen fez na pista neste domingo. Em Spielberg, o holandês fez uma das maiores exibições da sua carreira. Com direito a uma cereja no bolo: a troca de pneus para cravar a volta mais rápida na linha de chegada;

"Ele tentaria fazer a melhor volta com os pneus velhos, o que talvez fosse mais arriscado. Então resolvemos fazer o que ele queria e deixá-lo feliz", disse Marko, o conselheiro da Red Bull, sobre as preocupações do pit wall. "Para quem estava de fora, pode ter parecido arriscado. Mas para mim, dentro do carro, não havia risco nenhum", arrematou Verstappen;

É um caso para guardar e lembrar. É um retrato de sua obsessão. É um traço comum em todos os grandes campeões: a insatisfação constante, por melhor que pareça o resultado;

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Fernando Alonso, da Aston Martin, quinto colocado no GP da Áustria, nona etapa do Mundial de F1
Imagem: Andy Hone/Aston Martin

Da Red Bull para trás, a situação começa a ficar bem clara: depende do circuito. Há pistas que vão favorecer Ferrari, Mercedes ou Aston Martin. Em alguns lugares, até a McLaren pode se juntar ao grupo. Mas não há nenhum grande destaque nesse melê. Todas estão na mesma, vários degraus abaixo da equipe austríaca. Já está na hora de pensar em 2024;

Em Spielberg, a Red Bull chegou a 10 vitórias consecutivas na F1: uma em 2022, nove nesta temporada. Com mais uma, iguala uma marca mítica: a série da McLaren em 1988, entre os GPs do Brasil e da Bélgica. "Ah, mas não foram numa mesma temporada". Ok. Alguém duvida que Verstappen vença em Silverstone e na Hungria? É só uma questão de tempo...

Há um grande piloto brilhando na Indy. Palou conquistou no domingo sua terceira vitória consecutiva, ampliando sua vantagem no campeonato e rumando para o segundo título. Durante a semana, ele havia declarado mais uma vez seu desejo de correr na F1, "para provar o que posso fazer". O espanhol é melhor do que metade do grid do Mundial. Se eu fosse Marko, já teria mandado uma minuta de contrato para ele;

Tem Silverstone no fim de semana. Que a FIA não estrague tudo.