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Decisões sobre racismo contra Vini Jr serão tomadas apenas por brancos
A imagem de Vini Jr. com o dedo apontado para um torcedor na arquibancada do Estádio Mestalla, em Valência, no dia 21 de maio, correu o mundo como símbolo da luta contra o racismo no futebol. O brasileiro recebeu mensagens de solidariedade dos companheiros, de rivais, de atletas de outros esportes, de políticos e personalidades.
Mas, se olharmos para quem pode atuar diretamente no caso, Vini Jr. está sozinho. Em toda a cadeia de poderes que tomará as decisões sobre denúncias, punições ao clube, prisão de torcedores ou mudanças nas leis, não há um único negro.
Na quinta-feira (25), o presidente de La Liga, Javier Tebas, foi perguntado se a entidade tinha funcionários negros, e quantos eram eles. O questionamento, feito pelo jornalista brasileiro João Venturi, deixou o dirigente desconfortável.
"Nós não contamos, isso sim que seria? Posso assegurar que temos, porque eu viajo muito. Em Angola temos um negro trabalhando? É que não contamos. Seria incrível que tivéssemos essa estatística. Nós contamos por sexo. Eu sei que há gente asiática. Se eu contasse, você diria que sou um racista", respondeu.
O organograma de La Liga, publicado no site da entidade, mostra 18 funcionários em cargos de direção, todos brancos. Dos 77 trabalhadores que aparecem no arquivo, apenas uma é negra -ela ocupa um cargo na área de inovação tecnológica.
La Liga é a entidade que faz as denúncias de casos de racismo ocorridos nos jogos das duas principais divisões da Espanha. O processo é gerenciado pela Direção de Integridade e Segurança (DIS), que tem quatro funcionários, todos homens e brancos.
O mesmo se observa na administração da Federação Espanhola de Futebol (RFEF). Na segunda-feira, um dia depois dos insultos a Vini Jr. em Valência, o presidente da entidade, Luis Rubiales, fez um discurso duro.
"A primeira coisa é reconhecer que temos um problema em nosso país. É um problema sério que mancha também toda uma equipe, toda uma torcida, todo um clube, todo um país", disse o dirigente.
A RFEF, que tem poder sobre os árbitros que atuam na Espanha, deve tomar decisões importantes na próxima semana com respeito a protocolos e futuros procedimentos em casos similares. As decisões, no entanto, serão tomadas apenas por brancos. Entre o presidente, o secretário-geral e os vice-presidentes, a entidade tem 12 funcionários -11 homens e uma mulher- nenhum negro.
Na quarta-feira, uma foto da área presidencial do Real Madrid também chamou a atenção por um motivo parecido. Vini Jr. assistiu o duelo contra o Rayo Vallecano ao lado do mandatário do clube, Florentino Pérez. Ao lado do jogador, estavam convidados e membros da diretoria. O único negro era o ex-jogador Roberto Carlos, que exerce o cargo de embaixador do clube.
De acordo com o site oficial do Real Madrid, a cúpula de administração do clube tem 17 pessoas, incluindo o presidente, vice-presidentes e membros do conselho administrativo. São 16 homens e uma mulher, todos brancos.
Na segunda-feira (22), o Real Madrid levou o caso de racismo contra Vini Jr. ao Ministério Público Espanhol. No site da entidade, há 54 procuradores, nenhum deles negros.
O órgão governamental responsável por lidar com casos de racismo no território espanhol é a Comissão Estatal contra a Violência, o Racismo, a Xenofobia e a Intolerância, ligada ao Conselho Superior de Esportes. O grupo que toma as decisões também não tem integrantes negros.
De acordo com o Instituto Nacional de Estatística da Espanha, há 2,4% de população negra no país.
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