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Destaque do Francês mora com família cigana e leva atum enlatado para hotel
Um Renault Scénic para num semáforo vermelho, a caminho do Stade de la Mosson, em Montpellier, sul da França. Enquanto o veículo faz barulho, com o escapamento arrastando no chão, um dos ocupantes aperta o play. A trilha sonora é a mesma de sempre: Gipsy Kings, grupo cigano fundado na França no fim dos anos 1970 e que ganhou o mundo com refrões como este:
"Volare oh, oh
Cantare oh, oh
Nel blu, dipinto di blu
Felice di stare lassù"
Chegar aos jogos do time em um carro barulhento e ouvindo música cigana é apenas uma das histórias de Téji Savanier, o meio-campista com mais gols da Liga Francesa na temporada 2022-23. Mas o Scénic e os Gipsy Kings ajudam a entender muito do maestro do Montpellier, um dos jogadores mais peculiares do futebol europeu.
Savanier é tão diferente do protótipo das estrelas da Ligue 1 — como Messi, Neymar e Mbappé — que é difícil saber por onde começar a lista de características únicas do francês, de 31 anos.
Antes, porém, é preciso fazer justiça e dizer que o Renault Scénic com o escapamento solto não era dele: o dono é um amigo do atacante Andy Delort, colega de Savanier desde a infância e parceiro no Montpellier. Delort ia aos jogos no carro, por superstição. Um dia deu uma carona para Savanier e os dois fizeram a jogada de um gol. Virou tradição.
Na temporada 2022-23, Delort jogou emprestado ao Nantes. Sem o Scénic, não foi bem: passou em branco em 12 jogos da liga. Savanier, por sua vez, marcou 12 gols no torneio. Um recorde na carreira do meio-campista, que, se quisesse, já poderia estar longe do segundo escalão do futebol francês.
"Depois de uma temporada na Ligue 1, o Milan veio atrás de mim. Eu disse que não queria ir. Meu empresário falou que eu sou louco. Eu sou, mesmo! Meu sonho era jogar em La Mosson, vestir a camisa do Montpellier e jogar com minha família vendo. Eu queria olhar para as arquibancadas e ver todos eles lá. Eu sou a pessoa mais feliz do mundo aqui", disse Savanier ao podcast Hors Terrain, no ano passado.
A conexão de Savanier com a cidade e a família vem do berço: ele nasceu em Gély, bairro de classe média baixa da periferia da cidade e até hoje mora por lá, com a família de origem romena e cigana. Formado na base do Montpellier, ele nunca quis deixar a cidade; quando foi emprestado pelo clube — sempre para cidades próximas — levou a mãe para morar com ele.
A fama de jogador de futebol da primeira divisão e de membro da seleção olímpica da França nos Jogos de Tóquio não mudou o jeito de ser do motorzinho do time local, que se inspira em Marco Verratti, do PSG. "As crianças me olham como se eu fosse Jesus, mas eu continuo sendo o ciganinho do bairro", disse em entrevista à FranceBleu, em 2021.
Na época, uma padaria de Gély havia pintado recentemente um painel em homenagem ao morador famoso. "Eu morria de vergonha no início", afirmou. Depois, o ídolo local foi se acostumando com a ideia. "Tenho orgulho, porque até os mais velhos vêm tirar foto comigo".
O jeito humilde e a simplicidade de Savanier também se medem em gestos de diferentes magnitudes, dos mais simples aos mais complexos. Comecemos pelo fim: quando voltou de uma passagem pelo Nîmes, o meio-campista levou para o bairro uma BMW que tinha comprado na cidade.
"Todo mundo me enchia o saco e dizia: troque de carro, você tem outra imagem, você é isso, você é aquilo. Eu respondia que não, que estava bem com meu carro. Bem, no final, eu os ouvi, acabei trocando", contou à FranceBleu.
Outro exemplo, bem mais simples, vai na bagagem do jogador a cada partida como visitante. Ele sempre leva latas de atum para os hotéis. "Eu como o tempo todo. Todo mundo me provoca com isso. Mas eu realmente gosto do meu atum enlatado".
Com o fim da Ligue 1 se aproximando e as especulações do mercado aumentando, Savanier pode entrar novamente na mira de outros times. Em entrevistas recentes, ele disse que se vê mais preparado para deixar o clube, a cidade e a casa da família.
"Na época [da proposta do Milan] eu só conseguia me ver em Montpellier, hoje já consigo pensar em outros campeonatos, buscar algo diferente", afirma. Por enquanto, as possibilidades são pequenas: o contrato com o Montpellier vai até 2026.
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