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Futebol pelo mundo

REPORTAGEM

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Há dois anos, Eriksen enganou a morte; hoje, tenta salvar orgulho do United

Eriksen, jogador do Manchester United - Ash Donelon/Manchester United via Getty Images
Eriksen, jogador do Manchester United Imagem: Ash Donelon/Manchester United via Getty Images
Thiago Arantes

Colunista do UOL, em Barcelona

03/06/2023 04h00

Christian Eriksen não demorou para assistir às imagens do dia em que o mundo temeu pelo pior. Já nos primeiros dias de recuperação, ainda no hospital em Copenhague, ele assistiu ao vídeo no qual desmaiava em campo, em 12 de junho de 2021.

O meio-campista teve uma parada cardíaca no duelo da sua Dinamarca com a Finlândia, pela Eurocopa. O coração parou de bater por 5 minutos. Eriksen enganou a morte, e quis entender como tudo aconteceu. "Eu vi várias vezes. Vi já nos dias seguintes. São muitas emoções, mas quando eu vejo, tento não pensar muito".

Quase dois anos depois, o dinamarquês veste a camisa do Manchester United e pode ajudar o time mais vencedor da Inglaterra a manter um dos grandes orgulhos de sua torcida: ser o único da Premier League a ter conquistado a tríplice coroa.

Na temporada 1998-99, os Red Devils venceram a Premier League, a Copa da Inglaterra e a Champions League. Era o time de Ryan Giggs, Paul Scholes, David Beckham e Roy Keane.

Este ano, o arquirrival Manchester City pode repetir o feito: já levou a Premier League e é favorito na final da Champions League diante da Internazionale, no dia 10 de junho. A disputa pelo título da Copa da Inglaterra, a competição mais antiga do futebol, acontece neste sábado, às 11h (horário de Brasília). Pela primeira vez em 146 edições do torneio, Manchester United e Manchester City se enfrentam na decisão.

"É claro que queremos vencer porque é um título importante. Mas o fato de ser contra eles também torna a partida especial", disse Eriksen ao UOL em Paris, no início de maio, durante a entrega do Prêmio Laureus. Ele foi premiado pelo "Retorno do Ano", como reconhecimento à sua volta aos campos, pelo Brentford, em fevereiro de 2022.

O incidente que marcou a carreira e a vida de Eriksen rendeu homenagens, prêmios e uma nova oportunidade no futebol. Ele afirma, contudo, que o prêmio principal foi outro. "Para mim foi muito importante voltar a ser pai, namorado. Isso foi mais importante que voltar ao futebol".

O retorno à Premier League — onde ele já havia brilhado no Tottenham — só aconteceu por causa da legislação italiana, que não permite que um jogador dispute partidas com um desfibrilador interno, como o usado pelo dinamarquês. A Inter, clube de Eriksen na época, teve de rescindir o contrato. O Brentford abriu as portas para a volta aos gramados; o bom desempenho pelo time das Abelhas chamou a atenção do Manchester United.

"O que me fez voltar foi o amor pelo futebol. Eu queria mostrar que poderia voltar. Mas precisava falar com minha família antes. Falei que queria retomar minha carreira, e eles me apoiaram", explica.

O duelo deste sábado será o último jogo do United em uma temporada marcada pela reformulação. Com o técnico holandês Eric Ten Hag e reforços que mudaram a cara do time, como Casemiro e Lisandro Martínez, os Red Devils conquistaram a Copa da Liga Inglesa, em fevereiro, e terminaram na terceira posição na Premier League, garantindo um lugar na Champions League.

Para Eriksen, a primeira temporada completa depois do retorno também foi boa: com 8 assistências em 28 jogos, ele foi o líder da estatística do time na Premier League, ao lado de Bruno Fernandes, que disputou nove partidas a mais.

Os números do dinamarquês poderiam ser ainda melhores, não fosse uma lesão no tornozelo esquerdo, que o tirou de combate por cerca de dois meses. Perder a parte decisiva da temporada poderia ter deixado o meio-campista frustrado.

Mas, segundo o próprio Eriksen, quem viu a morte de perto tem outra maneira de encarar a vida. "O que eu aprendi foi: aproveite enquanto você está e curta o que vier pela frente".

Pela frente, neste sábado, ele tem a chance de manter o maior orgulho do Manchester United.