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Futebol pelo mundo

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Pouca torcida, interino e clima de férias: seleção não empolga Barcelona

Torcedores da seleção brasileira em frente ao CT do Espanyol - Thiago Arantes/UOL
Torcedores da seleção brasileira em frente ao CT do Espanyol Imagem: Thiago Arantes/UOL
Thiago Arantes

Colunista do UOL, em Barcelona

16/06/2023 04h00

Um grupo de meia dúzia de torcedores brasileiros acompanha o movimento na entrada da Cidade Esportiva Dani Jarque, o centro de treinamentos do Espanyol, na tarde de quinta-feira.

Eles estarão no estádio RCDE, às 16h30 de sábado (horário de Brasília), para o amistoso contra Guiné. São todos brasileiros que vivem em Barcelona e compraram ingressos no setor mais barato do estádio, a 28 euros (R$ 147). "Achei o preço bom", diz uma delas; "pra ver um jogo do Barcelona é muito mais que isso", acrescenta outro.

O grupo de torcedores empolgados é exceção. Em quase uma semana de Barcelona, a seleção brasileira não passa nem perto de arrastar multidões, como já fez em outros tempos. A sensação, acompanhando o movimento nos treinos e no hotel, é de desinteresse pela presença da única pentacampeã do mundo.

A venda de ingressos vai em ritmo bem mais lento que em duelos recentes da seleção. Em setembro do ano passado, o Brasil enfrentou Gana e Tunísia, ambas na França, na reta final de preparação para a Copa-2022. Tanto o Stade Océane quanto o Parc des Princes tiveram ingressos esgotados com dias de antecedência.

Para o duelo de sábado, o RCDE Stadium (também conhecido como Cornellà-El Prat) tinha mais de 6 mil ingressos disponíveis na noite de quinta, a 48 horas da bola rolar. Para uma região que se apaixonou pelo futebol de brasileiros como Evaristo, Romário, Ronaldo, Rivaldo, Ronaldinho e Neymar, é estranho pensar que um jogo num estádio de 40 mil pessoas pode não encher.

Porém, há motivos para a pouca badalação. A lista passa por fatores como a irrelevância da partida, a falta de um treinador definitivo, a época do ano, a decepção pós-Copa do Mundo, a falta de jogadores identificados com os clubes locais (Neymar e Raphinha, por exemplo) e até os lugares escolhidos para treinos e jogos na cidade de Barcelona.

Irrelevância da partida: os jogos amistosos já não costumam emocionar muito a torcida, e neste caso ainda menos. A seleção de Guiné é apenas a 79ª colocada no Ranking da Fifa; o Brasil ocupa a terceira colocação. Além disso, não há nenhuma competição oficial de tiro curto no horizonte. Os próximos jogos oficiais são válidos pelas Eliminatórias para a Copa-2026, com suas 18 rodadas.

Treinador interino: a falta de um comandante definitivo para a seleção cria uma sensação de que os jogos têm menos importância. A seleção parece em uma fase de transição, não se sabe bem para quê. Em Marrocos, em março, essa impressão acabou diluída porque a equipe do interino Ramon Menezes enfrentou os anfitriões, que encheram o Estádio Ibn Batuta, em Tânger.

Clima de férias: a data também não ajuda. Na Europa, a temporada acaba depois da final da Champions League. Os jogadores que atuam no continente interromperam as férias para disputar os amistosos. O atacante Rodrygo chegou a brincar antes de uma entrevista coletiva, quando foi questionado se poderia responder perguntas em espanhol. "Estou de férias, não falo espanhol", disse, antes de aceitar respondê-las.

Decepção pós-Copa: a queda nas quartas de final do Mundial-2022, diante da Croácia, mexeu no termômetro de popularidade da seleção com os torcedores brasileiros e estrangeiros. Uma boa medida é a imprensa estrangeira: os jornalistas (na grande maioria espanhóis) que se credenciaram para o amistoso contra Guiné praticamente ignoram a partida; as perguntas são, quase invariavelmente, sobre o Barcelona e o Real Madrid.

Falta de identificação: em uma cidade em que mais de 75% da população torce pelo Barcelona, é normal que as relações com o clube azul e grená ditem o interesse pelo evento. Das passagens anteriores da seleção pela cidade, duas foram em amistosos contra o próprio Barcelona, três contra a seleção da Catalunha e duas na Copa do Mundo de 1982. A situação poderia mudar se jogadores mais identificados com o Barcelona fossem convocados: Neymar, lesionado, e Raphinha são dois exemplos. Por outro lado, as duas maiores estrelas da equipe são referências no Real Madrid: Vini Jr. e Rodrygo.

Logística: a Cidade Esportiva Dani Jarque (onde a seleção treinou de segunda a quinta) e o Estádio RCDE, palco do treino de sexta e da partida de sábado, são afastados das áreas mais centrais ou turísticas de Barcelona, onde a presença da equipe poderia causar mais alvoroço. A presença da seleção brasileira no Camp Nou, casa do Barcelona, teria um outro impacto na cidade; mas as reformas do estádio inviabilizaram qualquer plano nesse sentido.