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Chineses criam clube em Barcelona e projetam ascensão recorde até a elite
Os olhos do empresário Dong Ren brilham quando ele responde qual é o principal objetivo do Internacional Barcelona.
"Oportunidade. Nós queremos dar oportunidade a jovens jogadores", responde o chinês, com um inglês perfeito de quem estudou no Reino Unido, trabalhou no futebol inglês e agora se vê diante do maior projeto da carreira como dirigente esportivo.
Dong é o presidente do Internacional Barcelona, um clube criado totalmente do zero, na capital catalã, e que tem um plano audacioso: chegar à elite do futebol espanhol em uma década.
A partir de setembro, o clube começará sua história na Quarta Catalana, a última divisão do futebol regional. Será o primeiro degrau de uma escada que, na melhor das hipóteses, levaria a equipe à primeira divisão em nove anos.
Depois das quatro divisões catalãs, todas amadoras, a escada tem mais três divisões espanholas e só então as duas divisões de La Liga, a primeira e a segunda. Jamais um clube que tenha saído da quarta divisão regional chegou à elite.
Por enquanto, o Inter Barcelona é um clube de dimensões modestas. O escritório do clube está em um coworking em um edifício na Avenida Diagonal, uma das mais famosas de Barcelona. A equipe também não tem um campo próprio e tem utilizado o Nou Sardenya, estádio do Club Esportiu Europa, para fazer peneiras de jogadores e definir o elenco da primeira temporada.
"A ideia é termos dois elencos. Um time A, para disputar os campeonatos e um time B para jogar amistosos e competições de categorias de base", explica Dong Ren ao UOL. O clube tem planos de começar um time feminino em curto prazo, mas ainda não há uma data concreta.
O foco, no momento, é em fechar o elenco da temporada de estreia. Mais de 500 jogadores já se inscreveram para as peneiras do clube e mais de 100 já puderam ser observados pelo diretor esportivo David Karanka e pelo treinador Daniel Tortolero.
Os dois são nomes conhecidos no futebol espanhol. Karanka, de 45 anos, foi jogador do Athletic Club de Bilbao e do Sporting de Gijón, além de ter sido auxiliar técnico do irmão Aitor Karanka, no Birmingham City. Tortolero, por sua vez, jogou nas categorias de base do Barcelona e da seleção espanhola.
A comissão técnica profissional e a capacidade de avaliação e de captação de novos talentos colocam o Inter Barcelona como candidato claro a subir rapidamente os primeiros degraus da pirâmide do futebol espanhol. O presidente evita qualquer discurso mais otimista. "Sabemos que no futebol é impossível fazer esse tipo de previsão. É claro que nós queremos subir uma divisão por ano, mas sabemos que não é fácil", afirma.
"Queremos ter uma identidade"
Dentre todos os caminhos para ter um clube na primeira divisão, o mais difícil é começar do zero, como o Internacional Barcelona. Seria mais fácil, por exemplo, comprar um clube mais tradicional e que se encontra em situação financeira ruim, mas em uma divisão mais alta.
"Concordo que é mais fácil. Mas, se fizéssemos isso, jamais construiremos a nossa identidade própria. E nós queremos ter uma identidade", explica Dong Ren. A opção por Barcelona também foi estudada: é uma cidade grande, com grande cultura futebolística, mas com espaço para mais times grandes na elite.
"Londres tem o Chelsea, o Arsenal, o Tottenham, o Crystal Palace, o Fulham. Barcelona tem o Barça e o Espanyol, que agora caiu para a segunda divisão. É uma cidade muito cosmopolita, com gente do mundo todo. Por isso escolhemos esse nome: Internacional Barcelona", explica.
Para definir o público-alvo, ele pergunta à reportagem: "Você é torcedor do Barcelona?". Diante da resposta negativa, o chinês sorri e arremata. "Então você é o perfil do torcedor que estamos procurando".
Hotel, oito campos e R$ 210 milhões
Se o início do clube é modesto, os planos para a década que deve separar o Internacional Barcelona dos grandes jogos são ousados.
O projeto é financiado pela Jinheng Capital, da China, que já aprovou um investimento de 40 milhões de euros (cerca de R$ 210 milhões) para a construção de um centro de treinamento com hotel-concentração, oito campos e uma estrutura semelhante à dos maiores times da primeira divisão espanhola.
"Nossa ideia é que clubes de outros países possam vir fazer a pré-temporada em Barcelona e usar nossas instalações. Isso é uma outra parte do nosso negócio", afirma Dong Ren. Nos próximos meses, o clube quer definir onde será construído o CT, que também deve ter um estádio de pequeno porte, que será sede dos jogos nas temporadas iniciais.
A ideia de "dar oportunidade a jovens jogadores", que move o "Inter Barça" --como o clube quer ficar conhecido-- também tem relação com o negócio do clube. A ideia é formar (ou descobrir) jovens jogadores, dar a oportunidade a eles e poder vendê-los para clubes maiores. Assim, o clube ganha fôlego para manter os investimentos e aumentá-los à medida que sobe a pirâmide de divisões que o separa da elite.
"Nossa meta é ser como o Borussia Dortmund nesse sentido: encontrar jovens, aproveitá-los por uma ou duas temporadas e vendê-los por ótimos valores", resume Dong.
A referência ao clube alemão não é aleatória: em 2020, quando o Borussia Dortmund pagou 11 milhões de euros por Jude Bellingham, Dong Ren era o presidente do Birmingham, clube da segunda divisão inglesa que vendeu o jogador, então com 17 anos. O valor era considerado muito alto na época, mas a aposta se pagou três anos depois: no mês passado, o Dortmund vendeu Bellingham por 120 milhões para o Real Madrid.
"É exatamente isso que queremos. Eu conheci de perto o trabalho do Dortmund com os jovens. Eles são um modelo a seguir", avalia o presente do Inter Barcelona.
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