Texto baseado no relato de acontecimentos, mas contextualizado a partir do conhecimento do jornalista sobre o tema; pode incluir interpretações do jornalista sobre os fatos.
Não foi só dinheiro: por que dona da F-1 decidiu não renovar com a Globo
A saída definitiva da Globo após 40 anos na Fórmula 1 passa muito mais pelo relacionamento desgastado da emissora com a Liberty Media, dona da categoria, do que por qualquer outra coisa. A prova disso é que o modelo negociado com a Band, que deve confirmar nos próximos dias ser a nova casa da categoria até 2022, é uma sociedade onde se divide lucros arrecadados no mercado publicitário.
Desde que comprou a categoria em 2016 por US$ 8,5 bilhões (R$ 45,7 bilhões na cotação atual), a Liberty nunca foi a maior fã da forma como a Globo tratava a categoria nos últimos anos. A falta de exibição em TV aberta dos treinos oficiais nas manhãs de sábado, cortes do pódio com transmissão restrita para a internet e algumas corridas cortadas por bater de frente com o horário do futebol sempre foram alvos de crítica.
A Globo até queria renovar com a Fórmula 1. O campeonato mundial de pilotos sempre foi uma de suas bandeiras e lhe rendia ótimo faturamento, mesmo não tendo mais a audiência de outrora. E a emissora foi generosa para os tempos de pandemia do novo coronavírus: manteve uma proposta de US$ 10 milhões por ano (R$ 53,7 milhões) quando começou a renegociar pela segunda vez a questão, em novembro de 2020. Antes da pandemia, a Globo havia oferecido US$ 20 milhões (R$ 107.4 milhões). Mesmo assim, a Liberty não quis por desacordos.
O principal deles era o streaming F1 TV Pro. A Globo não aceitava fechar contrato com a Liberty lançando seu próprio serviço para transmitir as corridas no Brasil. Quem é fã de carteirinha da categoria sabe que o Pro já está em diversos países e que o Brasil só estava fora justamente por esse acordo comercial com a maior emissora do país. A Liberty, por sua vez, não queria abrir mão desse lançamento para 2021.
Ex-diretor da Globo ajudou Band a negociar com a F-1
Mas a Liberty nunca quis sair da TV aberta. Hoje, a F-1 tem poucas TVs abertas exibindo corridas no mundo. O Brasil é o segundo maior mercado de alcance de público da categoria, perdendo apenas para a China por causa do número de habitantes do país. Estar na TV aberta brasileira influencia na hora de fechar as contas da categoria no fim do ano.
A Band veio como uma alternativa perfeita. E a ajuda nesse contato veio de alguém que era da Globo até bem recentemente. O principal pivô da negociação entre Band e Liberty Media foi Jayme Brito. Durante muitos anos, ele foi o produtor executivo da Fórmula 1 na emissora. Residente em Mônaco, Brito auxiliava a Globo em transmissões, principalmente na questão técnica. Ele também fazia a intermediação entre a TV e os donos da Fórmula 1 para as renovações de contrato.
No meio do ano passado, a Globo comunicou ao executivo que não pretendia mais contar com os seus serviços após 2020 e não renovaria seu contrato, mesmo se renovasse os direitos de transmissão. Já Mariana Becker ficaria se a Fórmula 1 fosse renovada - o que não aconteceu. A jornalista é esposa de Jayme Brito.
Desligado da Globo, o executivo intermediou a negociação entre Band e Liberty Media. Nos bastidores, sua atuação nas transmissões para a emissora paulista já é dada como certa, assim como a participação de Mariana Becker.
No fim das contas, a Liberty Media vai conseguir o que quer: uma TV aberta com as corridas e streaming próprio no Brasil. Para a Globo, é a perda de uma bandeira e de um pacote comercial de quase R$ 500 milhões ao ano. Os americanos, no fim, venceram a batalha.
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