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Gabriel Vaquer

ANÁLISE

Texto baseado no relato de acontecimentos, mas contextualizado a partir do conhecimento do jornalista sobre o tema; pode incluir interpretações do jornalista sobre os fatos.

Opinião: Record voltou ao esporte como resposta a Libertadores no SBT

Pedro, do Flamengo, e Matheus Ferraz, do Fluminense, disputam bola na final do último Carioca - Thiago Ribeiro/AGIF
Pedro, do Flamengo, e Matheus Ferraz, do Fluminense, disputam bola na final do último Carioca Imagem: Thiago Ribeiro/AGIF

14/02/2021 13h42

O público fã de futebol foi pego de surpresa quando a Federação de Futebol do Rio de Janeiro (Ferj) aprovou proposta de R$ 11 milhões da Record pelos direitos de transmissão do Campeonato Carioca em TV aberta até 2022. A emissora de Edir Macedo não vinha demostrando interesse em eventos esportivos nos últimos anos, mas agora voltou ao mercado como resposta ao SBT. Seu maior concorrente no Ibope, o canal de Sílvio Santos tem os direitos da Libertadores desde o ano passado.

A afirmação não é apenas opinião do colunista. A Record não investia em eventos esportivos desde que perdeu a disputa pelos direitos de transmissão do Campeonato Brasileiro de 2011. Suas últimas aquisições foram em 2019: os Jogos Pan-Americanos e a International Champions Cup, torneio de pré-temporada dos clubes europeus.

Porém, a emissora abriu mão dos dois eventos em 2020. Também tirou do ar seu esportivo semanal, o "Esporte Fantástico". Sua equipe passou a trabalhar nos noticiosos do canal. O narrador Lucas Pereira, contratado para ser o principal nome do canal nos Jogos Olímpicos de 2012, passou a realizar matérias policiais para programas como o "Fala Brasil".

Outros dois acontecimentos importantes do ano passado reforçam a tese. Quando a Globo rescindiu contrato com a Ferj, após o Flamengo usar a MP do Mandante para exibir partidas no YouTube, a Record foi procurada pelo Rubro-Negro para exibir a final contra o Fluminense, mas a emissora disse "não". Resultado: a decisão foi para o SBT e mostrou que futebol dá resultado.

Logo depois, a mesma Globo rompeu contrato com a Conmebol pela Libertadores da América. A IMG, responsável pela venda do evento, abordou todas as emissoras para negociar. A Record descartou a compra de bate pronto. O SBT, já ciente da audiência e do faturamento de um jogo de futebol ao vivo, fez a proposta e levou o principal torneio continental até 2022. Resultado: índice histórico na final entre Palmeiras x Santos, com direito a várias ações comerciais.

Funcionários e pessoas ligadas ao mercado publicitário sempre diziam que a desculpa da Record para não investir na modalidade era que "futebol não vendia". A emissora entendia que não era possível faturar com cotas publicitárias. Mas o pacote comercial mais valioso da televisão brasileira é o dos campeonatos exibidos pela Globo. Em 2020, o SBT conseguiu pagar o valor anual da Libertadores (15 milhões de dólares, cerca de R$ 80,5 milhões do câmbio) só com patrocínios e ainda lucrar.

Por isso, é possível dizer que o SBT mostrou à Record que futebol dá dinheiro e audiência e fez a concorrente se mexer. O movimento foi liderado pelo departamento comercial do canal de Edir Macedo no Rio, que fez um trabalho de convencimento junto à diretoria da emissora. Os profissionais sabiam que o concorrente teria um novo trunfo de audiência e faturamento se mais uma vez adquirisse os direitos do Carioca.

Assim, além de reforçar sua grade, a Record dá uma resposta ao SBT ao fechar com o estadual. Não é uma volta ao esporte com força. O "Esporte Fantástico", por exemplo, segue sem previsão alguma de retornar. O Carioca é só uma cartada na disputa pelo segundo lugar no Ibope contra o canal de Sílvio Santos.