Texto baseado no relato de acontecimentos, mas contextualizado a partir do conhecimento do jornalista sobre o tema; pode incluir interpretações do jornalista sobre os fatos.
Com estreia de narradora, Globo repara injustiça que cometeu na Rio-2016
A noite desta quarta-feira (10) é histórica para televisão esportiva brasileira, sem dúvida. O Grupo Globo, o maior grupo de comunicação do Brasil, estreou sua primeira narradora de futebol com a transmissão de Moto Club-MA x Botafogo. Renata Silveira, que já teve passagens pela Rádio Globo e Disney, comandou a jornada. Indiretamente, a estreia repara uma injustiça que a própria Globo cometeu em 2016 nos Jogos Olímpicos do Rio de Janeiro.
Renata Silveira é, de fato, a primeira narradora de futebol do Grupo Globo em todos os tempos. E seu feito é histórico. Mas em 2016, Glenda Kozlowski foi escalada pela mesma emissora para ser uma das locutoras de transmissões —com isso, tornou-se a primeira narradora de eventos esportivos da Globo. A ideia era que ela comandasse as competições de ginástica até o final da temporada. Glenda já tinha experiência na modalidade desde 2015 e foi preparada para chegar na Rio 2016 dominando a situação.
De fato, Glenda chegou muito bem. Com um estilo que lembrava Galvão Bueno, a então apresentadora mandou bem e cumpriu o seu papel. Mas muita gente, principalmente nas redes sociais e até parte da imprensa, não gostou de seu desempenho e massacrou Glenda com críticas de forma poucas vezes vista na internet. Alguns a apelidaram de "Galvoa", de forma pejorativa e até preconceituosa. Infelizmente, o comando do Esporte da Globo naquele momento não "segurou a bronca" e substituiu Glenda na função com os Jogos em andamento. A jornalista perdeu espaço nos eventos nos quais estava escalada para o próprio Galvão Bueno e para Cléber Machado.
O que mudou de 2016 para 2021? O primeiro ponto é que evoluímos neste aspecto como sociedade. Mesmo que ainda haja muito em que avançar, as mulheres estão conquistando seu espaço e vão conquistar ainda mais. O segundo ponto é que a Copa do Mundo de 2019, na França, a primeira exibida pela Globo em TV aberta, foi primordial para que se quebrassem paradigmas nesse sentido.
O público assistiu ao futebol feminino de seleções e se perguntou: por que mulheres não estão narrando estas partidas? Era uma pergunta para a qual ainda não se sabia a resposta. O terceiro ponto, e o mais importante, é que o trabalho firme de uma geração de narradoras atrás de seu sonho impressiona. Cito aqui as três expoentes dessa geração: a própria Renata Silveira, Natália Lara (recém-contratada pela Disney) e Isabelly Morais (hoje na Band).
O preconceito ainda não acabou. Muita gente age como se o Brasil de 2016 ainda existisse e como se a pressão pesada feita sobre Glenda pudesse funcionar de novo, ou seja, acreditam que as mulheres perderiam o espaço que conquistaram. Mesmo com uma estreia extremamente segura e tecnicamente perfeita, teve quem criticasse Renata no Twitter. Por sorte, essa gente é uma minoria.
Por sorte, também, a Globo evoluiu e amadureceu a ponto de reparar, mesmo que com cinco anos de atraso, uma injustiça tremenda de 2016. O que vemos hoje, é o ápice de uma história que já vinha sendo construída nos últimos anos pela competência de uma nova geração que não admite injustiças pelo gênero.
Como diz a frase: lugar da mulher é onde ela quiser. Vida longa às narradoras!
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