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Narrador pede desculpas por fala racista em jogo: "Sei da responsabilidade"
Narrador da transmissão de Napoli-SC x Bahia pelo Brasileirão Feminino ontem (25), quando acabou proferindo comentários racistas sobre o cabelo de zagueiras do Bahia, o narrador Paulo Cesar Ferrarin pediu desculpas para as jogadoras, no jogo exibido pela plataforma MyCujoo. O profissional ainda contou que ficou triste em ver seu nome envolvido em um caso desta natureza, por ser negro.
"Primeiramente, eu gostaria de pedir desculpas a todos, mesmo sabendo que as palavras proferidas não voltam. Mas podem me dar mais sensibilidade para evoluir como profissional e ser humano. Entendo que houve uma falta justamente disso", afirmou Ferrarin em conversa para a coluna na tarde desta segunda (26).
"Em que pese eu jamais tenha proferido uma palavra ou gesto depreciativo antes, me vi no centro de uma discussão e isso me deixou chocado justamente por ser tudo o que sempre lutei contra", pontuou o narrador. "Sei da responsabilidade que tenho por ser afrodescendente, um dos poucos em atividade em Santa Catarina e já por ter várias vezes sofrido no Brasil e fora do país", completou.
Em comunicados divulgados ontem, a CBF e o MyCujoo lamentaram a atitude dos jornalistas envolvidos na transmissão. Ambos foram afastados. No episódio, o comentarista Edson Florão destacou os "cabelos exóticos" das jogadoras do time visitante e fez uma comparação das atletas com a cantora Margareth Menezes. Minutos depois, o narrador Paulo Cezar Ferrarin defendeu o comentário do colega após questionamento de um espectador, falando que era muito "mimimi".
"Acaba tendo que rifar a bola, facilitando especialmente o sistema defensivo da equipe do Bahia, que está aí com a sua vantagem de estatura, com esses cabelos exóticos, pelo menos uma meia dúzia. A Aline tem o cabelo mais exótico me parece dessa equipe do Bahia", falou Florão. As atletas em questão são negras.
Depois, Ferrarin completou: "Verdade. Eu estava até brincando com esses cabelos, parecia a Margareth Menezes. (...) Grande abraço aqui para o Paulo (o espectador que reclamou). Oh, Paulo, que isso. A gente falou inclusive, estamos aqui com o pessoal do Bahia, das aparências. Se o Paulo achar que é um comentário xenofóbico comparar as artistas, que são maravilhosas, que a gente falou da Margareth Menezes, poderíamos citar alguém... a Daniela Mercury, outros tantos", disse Ferrarin na transmissão. "Paulão, você está fora da realidade. Elogiar os artistas da Bahia para você.... Realmente é muito mimimi, meu amigo. A gente está elogiando", concluiu.
"Voltar a transmitir futebol feminino não depende de mim", diz narrador
Sobre o afastamento, Ferrareis concordou: "Com relação ao MyCujoo e à CBF, entendo que houve um procedimento padrão de uma plataforma mundial, que trabalha única e exclusivamente com o intuito de divulgar o futebol, principalmente o feminino, e dá visibilidade maior aos talentos que até pouco tempo ninguém conhecia. A CBF fez o que uma entidade deve fazer, ela é a organizadora da competição."
Para finalizar, o profissional pediu desculpas novamente sobre o que aconteceu: "Novamente peço desculpas a todos e agradeço pela confiança que sempre me foi depositada. Voltar a transmitir o futebol feminino não depende de mim, precisa ser melhor analisado, discutido, dar tempo ao tempo. O certo é que essas palavras proferidas na transmissão nem de longe demonstram o que eu penso, e não podem apagar tudo o que tivemos o prazer de realizar até hoje, junto com outros profissionais. Estou orando para Deus e o que ele me reservou, Papai do Céu saberá o que é melhor para todos."
A coluna também procurou o comentarista Edson Florão. Até o fechamento da reportagem, não houve resposta.
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