Texto baseado no relato de acontecimentos, mas contextualizado a partir do conhecimento do jornalista sobre o tema; pode incluir interpretações do jornalista sobre os fatos.
Modelo de negócio do Estadual do Rio deixa clubes insatisfeitos
Os clubes que disputaram o Campeonato Carioca 2021 estão decepcionados com o modelo de negócio deste ano do Estadual do Rio. A avaliação nos bastidores é que o acordo só foi bom para o Flamengo, pela força de sua torcida, e para a Sportsview, agência comandada por Marcelo Campos Pinto, ex-diretor da Globo.
Os times pequenos são os que mais reclamam. Muitos não puderam honrar seus compromissos pela falta de arrecadação com o pay-per-view, e com o modelo de pagamento feito pela Record. A coluna teve acesso a um documento, usado em um processo trabalhista do Botafogo, que mostra que a emissora só efetuou pagamento de cotas na última sexta-feira (20).
O valor que a Record pagou aos times grandes é bem pequeno: R$ 288 mil, dividido em duas parcelas - uma paga na semana passada de R$ 72 mil, e outra, de R$ 216 mil, que será depositado no mês de junho. Ou seja, para todos os times gigantes do Rio, a Record pagará R$ 1,152 milhão. Já os pequenos ficarão com R$ 147 mil cada, um valor irrisório. Para efeitos de comparação, a Globo pagava em 2020 cerca de R$ 15 milhões para cada clube grande. Os pequenos recebiam R$ 3 milhões cada.
No pay-per-view, a coluna apurou que o número de assinantes chegou a 200 mil, com 90 mil deles assinando diretamente com clubes. O problema é que a grande maioria dessas assinaturas foram da torcida do Flamengo - a projeção do clube é receber R$ 16 milhões com o Carioca neste ano. Vasco, Botafogo e Fluminense apenas R$ 2 milhões com ganhos de assinatura. Os clubes pequenos ficaram apenas com R$ 500 mil.
A Record pagou R$ 11 milhões pelos direitos de transmissão dos times, mas cerca de R$ 6 milhões foram destinados à Sportsview, valor destinado à produção de todos os jogos do Campeonato Carioca no pay-per-view. A Ferj ficou com 10% do total - cerca de R$ 1,1 milhão. Para os clubes, como noticiou o colunista Rodrigo Mattos, restaram cerca de R$ 3 milhões.
Falando na Sportsview, os times menores, principalmente, estão revoltados, porque na negociação foi vendido que o atual modelo seria inovador, o que não corresponde à avaliação feita por eles atualmente. Porém, todos os clubes do Rio aprovaram o acordo por unanimidade antes do início do torneio.
A Sportsview recebeu também uma comissão 8% de tudo que foi arrecadado com as vendas dos direitos de transmissão para emissoras e operadoras de TV por assinatura. Somando o que Sky, Claro, Vivo e Record investiram, a competição faturou cerca de R$ 20 milhões. O valor decepcionou os clubes.
Clubes se incomodaram com falta de venda publicitária
Outra crítica dos clubes é relacionada à publicidade e aos naming rights, cujo dinheiro das vendas seria dividido com os clubes. Nenhuma marca anunciou no torneio nem em suas transmissões.
Por fim, há outras críticas sobre a gestão do dinheiro de produção feito pela Sportsview. As queixas principais são pela falta de resultados nas redes sociais e uma programação feita para o canal pay-per-view do Carioca que era pouco vista pelo público.
Na visão dos clubes descontentes, o único que conseguiu certo faturamento foi o Flamengo, por causa da força de sua torcida e da FlaTV. O pay-per-view próprio de Vasco, Fluminense, Botafogo e de todos os times pequenos não foram rentáveis e o resultado não foi o esperado por ninguém.
Para o ano que vem, os clubes sinalizam o desejo de rediscutir pontos do contrato, se a Sportsview e a Ferj desejarem e reconhecerem os pontos negativos da experiência. O objetivo é que o acordo fique mais vantajoso para todos na próxima temporada.
Abaixo, o posicionamento da Sportsview. A Record não respondeu o contato feito por e-mail nesta terça (25). Assim que o faça, a reportagem será atualizada.
Sportsview esclarece pontos sobre o Cariocão 21
O jornalismo independente e responsável, pautado pela ética na condução da pesquisa dos fatos e que traz a posição de todas as partes que são objeto da matéria, se constitui num dos principais pilares de qualquer regime democrático.
A matéria hoje publicada neste blog pelo jornalista Gabriel Vaquer sobre o Cariocão 21 peca pela pobreza na pesquisa dos fatos e fere o princípio da imparcialidade, pois à Sportsview não foi dada a oportunidade de se pronunciar.
Assim, no exercício do democrático instituto do direito de resposta, a empresa apresenta números e dados que permitem uma melhor contextualização dos fatos.
Do contrato com os clubes
As condições do contrato de prestação de serviços firmado entre a Sportsview, a Federação de Futebol do Estado do Rio de Janeiro (Ferj) e os clubes que disputaram o Cariocão 21 foram discutidas durante dois meses entre os clubes.
Finalmente, em 28 de janeiro deste ano, o contrato foi assinado. Nele constam, dentre outras condições ajustadas entre os clubes, o formato de disputa, os custos de produção e a forma de repartição das receitas.
O orçamento de produção, no valor de R$ 6 milhões, que inclui a transmissão de 78 jogos, um programa de lançamento digital do campeonato, o desenvolvimento de todo o grafismo, custos de distribuição por satélite, operação de um teleporto, entre outros pontos, foi apresentado aos clubes de forma detalhada em reunião realizada na Ferj e aprovado por unanimidade.
Todos os contratos relativos à produção são firmados pela Ferj, que é a entidade que organiza e promove o campeonato. A Sportview é responsável pelo trabalho de criação e desenvolvimento de toda a produção, o que inclui o gerenciamento do pagamento dos custos.
Importante pontuar que a remuneração da Sportsview se limita ao percentual de 8% sobre o valor das receitas geradas pela competição. A empresa nada recebe, portanto, pelo trabalho de gerenciamento da produção do conteúdo audiovisual do Cariocão 21. Além disso, a Sportview arca com os custos de produção das redes sociais do campeonato.
Das receitas do Cariocão 21
Durante os meses de janeiro e fevereiro deste ano, a Sportview conduziu uma licitação entre as redes de TV aberta Globo, SBT, Record e Band, bem como negociou a venda do pay per view do campeonato com Claro, Sky, Vivo e prestadores de serviço de OTT para a distribuição do CariocaPlay.
A Globo apresentou uma proposta condicional: ofereceu R$ 45 milhões por todos os direitos de transmissão do campeonato desde que os clubes e a Ferj desistissem, sem nenhuma contrapartida de pagamento, da ação que movem contra ela em razão da rescisão unilateral do contrato de transmissão, que teria vigência até 2024, rescisão esta levada a efeito ano passado, antes da Sportsview trabalhar com a Ferj.
Os clubes, em reunião realizada na Ferj, rejeitaram a proposta da emissora por unanimidade. Sentença proferida na semana passada, da qual cabe recurso, condenou a Globo a pagar uma indenização de R$ 156 milhões aos clubes e à Ferj em razão da rescisão unilateral do contrato. Tal decisão endossa a avaliação dos clubes de que aceitar a proposta de compra dos direitos de transmissão do Cariocão 21 condicionada à desistência da ação não fazia sentido.
Tendo a proposta da Globo sido recusada, a Sportsview deu seguimento à concorrência, e os direitos de transmissão por TV aberta foram adquiridos pela Record TV pelo prazo de 2 anos.
A negociação conduzida pela agência para a distribuição do pay per view pela Claro, SKY e Vivo trouxe um enorme ganho para os clubes. Agora, ganham 53% do valor pago pelo consumidor final ao invés dos 38% que recebiam quando a venda era feita através do Premiere. Um incremento de 40% em suas receitas.
Os clubes também passaram a vender o pay per view diretamente para os seus torcedores, um pleito antigo que foi atendido graças ao modelo de distribuição proposto pela Sportsview, que nada ganha sobre os valores auferidos diretamente pelos clubes através de seus aplicativos de OTT.
Do resultado financeiro
Muito embora ainda não tenhamos os números finais, podemos dizer que somadas as quantias relativas à venda dos direitos de TV aberta e as geradas pelas vendas do pay per view através dos clubes e da Claro, Sky e Vivo, o Cariocão 21 produziu uma receita líquida de impostos diretos da ordem de R$ 30 milhões.
A exiguidade de tempo, tivemos apenas 45 dias para se produzir os jogos e fazer a comercialização dos direitos de transmissão, bem como o fato do mercado publicitário decidir a aplicação das verbas nos meses de setembro a novembro de cada ano, dificultaram sobremaneira o desenvolvimento e venda de outros produtos.
Sempre se pode fazer melhor. Temos a convicção de que para a temporada de 2022, com o tempo para planejamento e comercialização que todas as demais competições dispõem, o Cariocão 22 será capaz gerar receitas substancialmente maiores.
Por fim, cumpre observar que não nos incumbe deliberar ou comentar as decisões dos clubes e da Ferj sobre a repartição dos custos e das receitas da competição.
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