Helio de La Peña

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Opinião

Depois do 'cagadaço' no Rio Sena, lembrei que já nadei contra um cocô

Começou a olimpíada. E você? Preparado para passar três semanas sentado na frente da TV?

Até 11 de agosto, vamos acompanhar o maior evento esportivo do planeta. Paramos para assistir às mais diversas modalidades esportivas. O público tem o maior estímulo para o sedentarismo. Somos convidados a passar horas largados no sofá acompanhando modalidades que não damos a menor atenção fora dos Jogos.

Quantos já foram assistir a uma partida de badminton?

Quem costuma acompanhar as competições de marcha atlética?

Mas basta começar uma Olimpíada e nos tornamos especialistas em todos os esportes.

Duas modalidades olímpicas estreiam em Paris: a escalada esportiva* e o breaking.

A gente costuma estranhar quando uma nova modalidade é introduzida nos Jogos.

Assim foi com o skate e o surf. Diziam: "Isso não é esporte, é passatempo de vagabundo".

E agora, as novidades da vez.

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Confesso que fiquei surpreso com a escalada. Quantos talentos desperdiçados nas festinhas de aniversário quando meus filhos eram crianças? As mães, preocupadas, gritavam: "Se ocê não descer daí agora eu vou subir e vou te meter a chinela!"

Deviam ter estimulado. Aquela criançada toda podia hoje estar em Paris sendo esperança de medalhas pra gente.

Também não me habituei com o fato de que breaking é esporte.

Será que Michael Jackson seria medalha de ouro com seu moonwalk?

E o hip-hop? E e o grafite? Quando vão ser reconhecidos?

Brincadeiras à parte, tenho dificuldade de acompanhar esportes cuja avaliação é subjetiva, ao contrário de uma corrida ou de um basquete, em que mesmo quem não é especialista em reforma tributária ou guerra da Ucrânia consegue saber quem ganhou.

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Outros esportes, como salto ornamental, são plasticamente lindos de se ver, mas, salvo um erro grosseiro que resulte numa barrigada de piscina de clube num domingo, fica complicado afirmar quem foi o melhor.

Me sinto como numa degustação de vinho. Acabo escolhendo um, aleatoriamente, pra falar mal e fingir que não sou um completo ignorante.

O Brasil investe pouco em esportes. Educação física é tratada com desprezo nas escolas. Mas quando chega a Olimpíada, temos esperança de recorde de medalhas. Dessa vez a responsabilidade é maior das mulheres, pois são 153 contra 124 homens.

E de fato nossas maiores chances são femininas.

Numa competição o Brasil já saiu atrás. Foi na disputa do melhor uniforme. Definitivamente, o Brasil abriu mão de concorrer.

Enquanto a Itália vai de Giorgio Armani, os Estados Unidos vestem Ralph Lauren e a Mongólia apresenta um traje de luxo, o Brasil se apresenta de jaqueta jeans, havaianas e saia modelo evangélico.

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Talvez a intenção seja expor humildade, mas no desfile das delegações, parece que nosso pessoal foi na esquina comprar um pão. Tomara que o foco esteja todo nas provas e a gente arrebente.

A grande ausência é o nosso futebol masculino. Perdemos pra Argentina e ficamos de fora da festa pela quinta vez desde que estreamos, em 1952. Mais um sinal de que estamos vivendo nossa pior fase na bola. Justamente depois de conquistarmos duas medalhas de ouro — no Rio, em 2016 e em Tóquio, em 2020. Na verdade 2021, por conta da pandemia.

As meninas vão nos representar no futebol, mas, estamos mais otimistas nas provas individuais.

Rayssa Leal no skate e Gabriel Medina no surf podem voltar dourados. Isaquias Queiroz na canoagem e Rebeca Andrade na ginástica artística também estão bem cotados. Vamos ficar de olho em Alison dos Santos, no atletismo, principalmente nos 400 metros com barreira, sua prova principal.

Marcus d'Almeida no tiro com arco, ou arco e flecha pros leigos, e Hugo Calderano no tênis de mesa, ping pong pro povão, também podem nos dar alegria. Assim como Rafaela Silva no judô, Ana Patrícia e Duda no vôlei de praia e a equipe de vôlei feminino. O vôlei mascuino não está no seu melhor momento, mas vou estar torcendo porque o meu amigo Bernardinho sabe das coisas e é capaz de fazer milagres.

Certamente tô esquecendo alguém nessa lista. Mas não se preocupe, caro atleta, cara atleta. Estarei colado na TV quando você competir. Eu sou desses. Afinal, já até carreguei a tocha olímpica!

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Imagem: Divulgação

Vou estar focado mesmo é na natação de águas abertas, um esporte que tenho interesse particular por ser praticante. Nado no mar desde 2009.

Não obtive índice para Paris, mas estou qualificado para torcer. Em 2016, empolgado com a medalha de bronze da Poliana Okimoto, a primeira feminina a conquistar em natação, escrevi com Daniel Takata a biografia da nossa medalhista.

Dessa vez vou acompanhar essa baiana de quem sou muito fã - Ana Marcela Cunha. É a maior nadadora de águas abertas que eu já vi. Tenho orgulho de conhecê-la desde quando era garotinha. Atleta completa, integralmente dedicada ao esporte, Ana Marcela tem uma estratégia inteligente nas provas - nunca sai disparada. Se mantém discreta no pelotão da frente e quando chega perto do final, dá o bote e janta as outras.

Espero que ela ganhe este ano e consolide a imagem de uma das maiores atletas da história no esporte, independente de gênero.

Ana Marcela terá uma adversária indigesta: as águas do rio Sena, onde vão acontecer as provas. O Sena era impróprio para banho desde 1923. Por conta dos jogos, a França investiu na despoluição e garante que a coisa mudou. Para provar que o rio agora é limpeza, a ministra do Esporte e a prefeita de Paris se jogaram nas águas e, até o fechamento dessa coluna, continuavam vivas.

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Os parisienses não botam suas mãos no fogo, ou melhor, na água. O francês, que já não é o povo mais simpático com turistas, está bufando com o enorme fluxo de visitantes na cidade luz. E aproveitou para convocar um "cagadaço" no Sena, se contrapondo às afirmações das autoridades que juram que o rio está limpo.

A pessoa nem precisa sair de casa para participar da manifestação #EuCagueinoSena. Um aplicativo calcula, de acordo com a localização da privada do cidadão, quanto tempo leva pra seu cocô passear sob as românticas águas do rio Sena.

Eu, que já me identificava com a natação de águas abertas, me senti mais em casa quando essa notícia veio à tona. Lembrei de uma matéria que fiz na praia de Copacabana.

Havia também a imagem de que o mar de Copa era muito sujo. É uma informação polêmica, pois normalmente as condições são ok.

Em 2010, competi com um forte concorrente. O cocô.

*Errei, a escalada esportiva estreou em 2020, mas decidi manter a piada.

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Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL.

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