Helio de La Peña

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Opinião

Clitorito brilha, Rayssa não estuda e Medina voa: o importante é competir*

* O importante é competir. Mas se rolar uma medalha, a gente não reclama?

A olimpíada tá comendo solta. Ninguém nem lembra mais da abertura, onde mal deu pra ver nossos atletas de chinelo entulhados dentro do barquinho desfilando pelo rio Sena. Agora eles assumiram o protagonismo. E cá estamos nós, na frente da tevê torcendo por medalha brasileira, seja lá em que esporte for. E, na falta de medalhas, o que não falta é confusão e fofoca.

Helio de la Peña: se Medina voa, eu também vou voar
Helio de la Peña: se Medina voa, eu também vou voar Imagem: Reprodução

No primeiro domingo do Jogos, o Brasil comemorou suas primeiras medalhas. E foram logo três. Em apenas vinte minutos somamos uma prata e dois bronzes. Não tinha terminado o almoço, faltando 4 minutinhos pra uma da tarde, Willian Lima trouxe a prata. A uma e quinze, Larissa Pimenta saiu bronzeada do tatame. Judô saiu na frente. Nem pude levantar do sofá pra ir ao banheiro. Um minuto depois, Rayssa Leal, a fadinha do skate street, conquistou sua segunda medalha olímpica, um bronze. Haja coração! Galvão Bueno foi flagrado em Paris vibrando com a conquista. Nos velhos tempos, Galvão teria narrado "Olha o gol, olha o gol, olha o gol?Rrrrrrrrrayssa!

Ela se tornou a mais jovem atleta brasileira a ganhar medalhas em duas edições diferentes. Em 2021, tinha 13 anos quando trouxe a prata de Tóquio.

Rayssa estava radiante com sua medalha , quando um repórter teve a pachorra de lembrá-la que depois de Paris, tem aula. Pô. Fala sério! A fadinha deve ter pensado na pilha de dever de casa que deve estar acumulada na sua escrivaninha, em Imperatriz, no Maranhão.

Além dessa lembrança inoportuna, Rayssa tomou um susto. Antes de entrar na pista, ela expôs sua religiosidade de forma sutil, com uma mensagem na Língua Brasileira de Sinais. A olimpíada é um evento pagão e apolítico, não permite manifestações ideológicas nem de cunho religioso. Minha Nossa Senhora da Medalha Milagrosa!

Nossa medalhista podia ter sido advertida e, pelo regulamento, corria o risco de perder a medalha.

1968, ano de grandes turbulências sociais pelo mundo, foi marcado pelo assassinato de Martin Luther King, em 4 de abril. Seis meses depois, nos Jogos da Cidade do México, dois atletas negros americanos fizeram um protesto anti-racista histórico ao receberem suas medalhas no atletismo. John Carlos recebeu o bronze e Tommie Smith ganhou ouro nos 200 metros rasos. No pódio, durante a execução do hino norte americano, fizeram o gesto dos Panteras Negras, o punho cerrado. Os dois atletas foram expulsos da Vila Olímpica e nunca mais puderam competir.

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Mas não perderam suas medalhas. Portanto, Rayssa, relaxa. Pode voltar pra casa e mostrar sua medalha no colégio.

No começo dos jogos o Japão foi nosso pesadelo. Domingo, a própria Rayssa ficou atrás de duas japonesas. No futebol, nossas meninas levaram uma virada nipônica: 1x2. Willian Lima trouxe a prata do judô, porque o ouro foi pra Tóquio. Nosso rugby feminino também levou uma surra das japonesas: 12 x 39.

E na segunda, o fantasma oriental continuou nos assombrando. Nossa judoca de ouro, Rafaela Silva, chorou ao perder a vaga na final para Haruko Funakubo. No skate, Kelvin Hoefler ficou em sexto, enquanto Horigome foi pro alto do pódio. No Taiti, Filipe Toledo viu Reo Inaba se classificar pegando onda montado numa zebra.

Mas ali demos a forra. Nas oitavas, Gabriel Medina enfrentou seu algoz dos Jogos de 2020, o japonês Kanoa Igarashi, que tirou o brasileiro da final num julgamento maroto. Dessa vez não teve conversa, Medina surfou com a faca nos dentes e furou a canoa de Igarashi. Me desculpem o trocadilho, foi mais forte que eu.

Muito antes da final, Medina ganhou medalha de ouro de melhor foto da Olimpíada, levitando sobre as ondas ao lado da sua prancha.

A imagem fez tanto sucesso que virou meme. Até eu surfei nessa onda.

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Outra imagem bombou nas redes. Foi a do nadador Guilherme Costa, o Cachorrão. Sempre brincalhão desabou no choro quando ficou em quinto nos 400 metros, nado livre. Não era pra menos. Com o tempo obtido, Cachorrão teria levado medalha em qualquer edição olímpica, tirando 2024. Inevitável passar pela cabeça dele: por que o sarrafo subiu justamente na minha vez?

Cachorrão, você não está sozinho. Imagina a situação do sérvio Milorad Cavic. Em 2008, ele bateu o recorde mundial na final dos 100 metros borboleta. E foi pra casa com a medalha? de prata. Levou o azar de ser contemporâneo de Michael Phelps. O sérvio nadou para 58 segundos e 59 centésimos. Seria o recorde mundial, se não fosse superado por Phelps que cravou 58 e 58 e registrou a nova marca.

Pela primeira vez a marcha atlética teve um Bonfim: foi o Caio chegando ao segundo lugar do pódio.

Um bronze que vale ouro é o das meninas da ginástica artística. Rebeca, Jade, Flavia, Lorrane e Julia garantiram nosso primeiro pódio por equipe.

E na individual geral, Rebeca Andrade brigou sem medo com Simone Biles e conquistou uma prata indiscutível. Mas se trilha sonora contasse pontos, nossa Rebeca seria ouro fácil.

Gente, e o que é o mascote dessa olimpíada? O nome dele é Frígio, mas já ganhou um apelido curioso no Brasil: é o Clitorito. Ele representa o gorro frígio, típico da França. Foi criado há 3 mil anos na Frígia, um reino antigo localizado na atual Turquia. Ou seja, é tipicamente francês, mas foi inventado na Turquia. É como o pão francês que é uma invenção brasileira. Ainda assim, pra mim, o melhor símbolo da França é a baguete carregada debaixo do sovaco, com ou sem banho. De preferência, sem..

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É o Baguetito!

Outra fofoca de bastidores é a reclamação geral entre os atletas em relação às acomodações na Vila Olímpica.

Nosso canoísta Isaquias Queiroz postou um vídeo reclamando que foi difícil descansar na cama da vila olímpica. O colchão é mais duro que a vida no sertão nordestino. E não foi por falta de verba ma sim pra evitar o vuco-vuco olímpico. A ironia disso tudo é que, apesar de inibir o sexo entre os atletas, o Comitê Olímpico Internacional vai distribuir cerca de 300 mil camisinhas para os competidores.

Ou seja, vale tudo, desde que você não seja flagrado pelas câmeras do VAR.

E você, o que mais tá curtindo nessa olimpíada: as competições ou as fofocas? Sabe de alguma quente? Conta aqui pra gente!

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Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL.

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