Helio de La Peña

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Opinião

Como previ, mulheres dominaram as Olimpíadas com 12 das nossas 20 medalhas

Fazendo um balanço da Olimpíada, vejo uma vantagem do Brasil em relação aos Estados Unidos. Os yankees não podem fazer uma crônica com a devida menção a todos os seus medalhistas de ouro. Sinceramente, eu também preferiria não poder, mas vamos olhar o copo meio cheio. Portanto, obrigado, Bia Souza, Rebeca Andrade, Ana Patrícia e Duda Lisboa.

A Olimpíada é como uma viagem. É muito bom conhecer novos lugares, experimentar novos sabores, conhecer novas pessoas. Mas voltar para casa cheio de boas lembranças é sensacional. Estava sentindo falta da minha rotina. O trabalho não parou; pelo contrário, até intensificou. Mas minha forma física foi para o ralo. Abandonei a natação e a ginástica funcional e passei a praticar o revezamento de telas: televisão, tablet, celular e notebook. Só assim para ficar por dentro de tudo nessa Olimpíada, que trouxe a democratização total do acesso aos jogos. Foram 20 dias de sedentarismo, acordando cedo, me plantando no sofá da sala até o fim da tarde e pondo o despertador para as 4 da manhã para ver se tinha alguém disputando medalha. Agora, o sono que se vire para entrar na linha.

Como tinha previsto em uma de minhas colunas recentes, as atletas brasileiras dominaram o espetáculo. Foram em maior número e trouxeram 12 das 20 medalhas conquistadas.

O primeiro ouro a gente não esquece. Quando Bia Souza venceu a final do judô na categoria acima de 78 kg, superou uma série de dores do passado, sendo a maior delas o preconceito que enfrentou por ser preta e ter um corpo fora do padrão. O esporte salva; o segredo é descobrir a atividade que combina com sua forma física. Bia acertou no alvo. Ou melhor, no ippon. Com 28 medalhas, o judô é o esporte em que o Brasil mais conquistou medalhas. Subiram ao pódio em todas as edições desde 1984. 2024 não foi diferente. O judô nos deu também uma prata e dois bronzes. Um deles, por equipe, teve um sabor especial para Rafaela Silva. Cotada para subir no pódio, se frustrou ao perder sua luta, mas veio a revanche. Voltou ao tatame com sangue nos olhos e garantiu a vitória do grupo, sem dar chances para sua adversária italiana.

Logo atrás vem o vôlei, com 13 medalhas na quadra e 14 na praia.

Cansei de ver Anthony Ammirati derrubar a vara do sarrafo com sua própria vara, dando vazão à quinta série que habita em mim.

Confesso que fiquei aliviado ao perceber que eu não tinha sido o único a notar os atletas com duplo sentido no nome. Os colegas do UOL Esporte, Eduardo Tironi e Domitila Becker, fizeram uma lista de nomes hilários.

E o melhor de todos: Emmanouil Karalís, que pratica salto com vara. Note que não foi o Emmanouil que usou seu sobrenome Karalís para derrubar o sarrafo!

A ginástica artística foi apoteótica. Conquistamos medalhas por equipe e individuais, enchemos os olhos do planeta com apresentações deslumbrantes, coroadas pela performance impecável da Rebeca Andrade no solo. Não consegui anotar as receitas da Rebeca. Se você tiver aí, mande nos comentários que eu vou testar.

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Iemanjá guardou uma prata e um bronze para nós. Ela teria nos dado mais medalhas se, no meio das oferendas, não tivessem colocado um vidrinho de Rivotril gotas. Medina e Tati passaram mais tempo sentados na prancha do que tentando fisgar uma onda, aguardando que Teahupoo deixasse de fingir que era uma lagoa. Talvez a belíssima foto de Medina flutuando com sua prancha tenha sido um presente de Poseidon.

Vendo aquele mar verde-mar do Taiti, com suas calmas águas cristalinas, eu me pergunto: por que não foi ali a maratona aquática? Além de um belíssimo espetáculo esportivo, a França teria economizado cerca de um bilhão e meio de euros nessa tentativa visivelmente frustrada de despoluir o Sena.

Foi revoltante ver minha ídola, Ana Marcela, sendo obrigada a trocar a natação de águas abertas pela natação de esgoto a céu aberto. Dava muito nojo ver as atletas nadando rente a um muro cinzento com os buracos de onde saem os restos de croissants e camemberts dos parisienses. Ainda bem que a TV não transmite cheiro.

Você pode imaginar o que o mundo estaria falando se essa cena fosse numa cidade do terceiro mundo? Mas não podem falar nada! O Brasil fez bonito nas Olimpíadas do Rio de Janeiro.

Impossível falar de todo mundo, mas somos gratos a todos e todas que disputaram e criaram memes divertidíssimos. Quem não viu a Ana Sátila encharcada, descendo a toda hora as corredeiras com sua canoa? Tive que concordar com o cartaz que dizia que Foz do Iguaçu é melhor que Niagara Falls, mesmo sem nunca ter visto as cataratas canadenses.

Outra vitória que empolgou muito foi a prata de Isaquias. Ele estava em quinto na canoagem. Já tínhamos aceitado que nem sempre é possível "medalhar". Quando o baiano começou sua arrancada, atropelou o quarto, o terceiro, o segundo e, se tivesse mais uns 100 metros, teria trazido o ouro.

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O futebol feminino chegou à final e conquistou uma prata no mesmo estádio onde há 26 anos amargamos um vice na Copa do Mundo. Esse lugar definitivamente não dá sorte pra gente! Marta se despediu das Olimpíadas com uma medalha e o reconhecimento de ter chamado atenção para o esporte, que antes dela era exclusivamente masculino. Obrigado, Marta.

Temos que agradecer toda a delegação que fez de Paris uma grande festa para o planeta. Com certeza, todo mundo voltou para casa transformado pela experiência de representar seu país fazendo o que mais ama. É uma sensação realizadora. Quer dizer, deve ser, né? Nunca tive.

Alguns se despedem em 2024; outros terão mais oportunidades. Mas cada um tem muitas histórias divertidas, curiosas e emocionantes para contar. E não vão faltar chopadas e plateias para ouvir os relatos. Aliás, já está combinado como será o rateio para o churrasco. É isso, né?

Agora é olhar para frente. Los Angeles é logo ali. A empolgação dos jogos contagiou até um menino do interior do Piauí que viralizou treinando salto com vara não pelos trocadilhos, mas porque é uma forma de sonhar em ser um dia um super-herói.

Em 2028 ainda não vai dar, mas quem sabe dentro de algumas edições não estaremos aqui falando das medalhas do pequeno saltador Moisés?

A Olimpíada acabou. A coluna não. Semana que vem eu tô de volta. Quer sugerir um tema? Deixe aqui nos comentários.

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Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL.

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