Helio de La Peña

Helio de La Peña

Siga nas redes
Só para assinantesAssine UOL
Opinião

'Salve a seleção' está mais para um pedido de socorro

Foi-se o tempo em que o Brasil era a pátria de chuteiras.

E aquela saudosa música?

Todos juntos, vamos. Pra frente, Brasil. Brasil. Salve a seleção?

Hoje em dia, esse "Salve a seleção" está mais pra um pedido de socorro.

Alguns dizem que perdemos o amor à seleção brasileira. Acho que é ainda pior. Perdemos o interesse. Já dizia o poeta. O amor é eterno enquanto dura. No futebol, esse amor durou até muito, diante de tantas decepções.

Convidei Gerson, o Canhotinha de Ouro da seleção canarinho, pra saber se esse divórcio pode voltar atrás.

De uns anos pra cá, o amor virou desilusão. Será que esse amor morreu?

Vem comigo nesse flashback relembrar a paixão e o orgulho que nós tínhamos pela seleção canarinho.

Em 1950, o Maracanã foi inaugurado às pressas para receber a final da Copa do Mundo. O Brasil vinha arrasando com goleadas que empolgavam a torcida. Em 16 de junho, a final contra o Uruguai frente a 200 mil torcedores. Não cabia mais nem um fio de cabelo no estádio. Brasil 1 a 0. Uma festa linda. Mas de repente, o Uruguai vira pra 2 a 1. Um silêncio ensurdecedor. O Maracanazo nunca mais foi esquecido. Mas o nosso amor pela seleção não diminuiu.

Em 1958, Pelé, Garrincha, Nilton Santos, Didi e cia. põem o Brasil no mapa-múndi, conquistando a Copa na Suécia. Segundo o jornalista Nelson Rodrigues ali o orgulho de ser brasileiro supera o complexo de vira-lata.

Em 1970, a consagração. Pelé comanda a melhor seleção de todos os tempos. Conquistamos o tricampeonato e o direito de trazer definitivamente o caneco da Taça Jules Rimet.

Continua após a publicidade

Em 1982, a seleção partiu para a Espanha encantando todo mundo, com um futebol vistoso. Estávamos confiantes, mas não passamos da segunda fase de grupos. Caímos diante da Itália. Muitos ainda consideram o escrete o campeão moral. A Itália, com um futebol retranqueiro e sem graça, conquista o título e se iguala a nós, sagrando-se tricampeã mundial.

A vingança veio em 94. Estávamos quase fora da Copa dos Estados Unidos. Parreira é forçado a convocar o marrento Romário, que promete trazer a Copa pra nós. E cumpre. Taí um caso de casamento perfeito, Bebeto e Romário. Esse relacionamento nos inspirou a manter o nosso próprio casório com a seleção.

Em 2002, Ronaldo Fenômeno supera o apagão na final de 1998. Com o corte de cabelo à la Cebolinha, da turma da Mônica, conquista o penta, junto com Ronaldinho Gaúcho e Rivaldo, sob o comando de um técnico tão questionável que ganhou o apelido no Casseta & Planeta de Felipão pré-Scolari.

Até que em 2014, jogando em casa, nosso trauma do Maracanazo de 50 foi superado. Só que por outro ainda maior. Nas semifinais, tomamos uma surra de 7 a 1 dos alemães e inauguramos a era do Mineirazo. Os gols se acumulavam, os erros grotescos davam a impressão de que eram reprises, mesmo pra quem estava no estádio, como eu. Felizmente não tenho nenhuma foto desse dia fatídico.

O torcedor foi se afastando aos poucos da seleção. Diversos motivos justificam. A saída precoce de nossos jogadores pro exterior causa um distanciamento do brasileiro. A gente não reconhece mais os jogadores da seleção que construíram suas carreiras no exterior.

Outro fator é o jejum de títulos. Em julho, fomos mal na Copa América. Ficamos atrás de Canadá e Venezuela, amargando um pífio sexto lugar. Estamos fazendo uma campanha medíocre nas eliminatórias e aguardamos a volta de Neymar, que em 2026 terá 34 anos. Depois de um ano afastado dos gramados, muita gente ainda acredita que ele é a grande esperança de redenção.

Continua após a publicidade

Desde o penta, o Brasil teve duas alegrias: a medalha de ouro no futebol na Olimpíada de 2016 e o hexa no mundial de futsal agora em outubro. Longe de serem uma Copa do Mundo. A seleção não nos empolga mais. Até a convocação de jogadores do nosso time mais nos preocupa que nos anima. O Botafogo, por exemplo, tem 3 jogadores convocados pelo Brasil: Luiz Henrique, Igor Jesus e Alex Telles. É uma conquista pra eles, dá moral? mas eu torço mesmo pra eles não se machucarem.

A própria "Data Fifa" é vista com antipatia pelo torcedor, que prefere focar na reta final do Brasileirão, da Libertadores, da Copa do Brasil e da Sul-Americana.

O que aconteceu com a gente? Desaprendemos a jogar bola? Por que fomos superados? Voltaremos a reinar como no passado?

Uma coisa podemos ter certeza. Se a gente surpreende o mundo e traz o tão esperado hexa, a paixão do brasileiro pela seleção canarinho se reacende, como se nada tivesse acontecido.

E você, acredita nisso? Conta aqui nos comentários como tá o seu relacionamento com a seleção.

Opinião

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL.

Deixe seu comentário

Só para assinantes