Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.
Os ídolos e os companheiros de barro
![Reprodução](https://conteudo.imguol.com.br/c/esporte/d5/2022/02/16/newsletter-jose-trajano---ex-goleiro-gylmar-dos-santos-neves-1645045238682_v2_900x506.jpg)
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A gente idolatrou certas figuras por quase toda uma vida. Como nos fizeram felizes! Uma delas chegou a pegar no gol no meu histórico time de botão, barrando inclusive Pompéia, o goleiro voador, que eu endeusava. E quando se descobre quem realmente elas eram, ou são, e o quanto demos com os burros n'água, só resta chorar.
É o caso, na opinião de muitos, do maior goleiro brasileiro de todos os tempos, o lendário Gylmar dos Santos Neves. Bicampeão mundial pela seleção (1958 e 1962) e pelo Santos (1962 e 1963), campeão do Centenário pelo Corinthians (1954). O elegantérrimo goalkeeper, o homem que não se deixava abater nem pelos frangos que levava. Um gentleman!
O goleiro, que fez 103 partidas pela seleção brasileira, continuará como campeão, com o nome dele publicado nos livros, aparecerá nas cenas dos jogos históricos, nas fotos e flâmulas penduradas nos museus e salas de troféus dos clubes por onde andou. E até nas paredes do querido bar São Cristóvão, na Vila Madalena, que tem o futebol como decoração nas paredes e até no teto.
O homem Gylmar, porém, entra para a história pela porta dos fundos.
Ao saber pela coluna do Juca Kfouri, leia aqui no UOL, que o ex-goleiro era despachante do departamento do DOI-COI, local onde foram assassinados e torturados muitos oponentes à ditadura, e que vendia carros apreendidos dos ativistas e fazia negócios com militares e policiais, além de ter recebido uma concessionária GM no Tatuapé pelos bons serviços prestados, fiquei horrorizado. E senti a mesma sensação revelada por Helvidio Mattos em sua coluna em Ultrajano.com.br:
"A imagem do goleiro elegante... se desfaz. No lugar dele surge a figura de um homem de preto assombrando as crianças nos porões da ditadura."
Poderia falar ainda de Nelson Piquet, motorista de cerimônias do Capitão Corona (quase saí no tapa várias ao defendê-lo contra o Senna); do excelente goleiro Andrada, argentino do milésimo gol do Pelé e alcaguete da ditadura de seu país; do Didi Pedalada, ídolo do Internacional, que sequestrou casal uruguaio na operação Condor ao lado dos militares; de John Wayne, meu mocinho favorito dos faroestes e dedo duro dos colegas comunistas na época do macartismo
E até de Leda Nagle, Augusto Nunes e Márcio Guedes, só para citar alguns, ex-companheiros de profissão que respeitava, que viraram negacionistas e defensores raiz do que há de mais sórdido neste país. Mas deixo isso para uma próxima.
P.S.: eu sempre achei o Castilho melhor do que o Gylmar.
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Na newsletter desta semana, José Trajano também comenta sobre o novo CD da cantora Alaíde Costa, de 86 anos, com produção do rapper Emicida. Na opinião do colunista, o impactante álbum "O que meus calos dizem sobre mim" pode inspirar o controverso presidente da Fundação Palmares na nobre missão de preservar a cultura negra no país.
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