Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.
Venho de longe, e a nova linguagem do futebol me chateia
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Algum tempinho atrás, o time entrava em campo e era dividido em defesa, meio-campo e ataque. A formação começava assim:
Castilho, Píndaro e Pinheiro, Jair, Edson e Bigode; Pompeia, Rubens e Edson, Ivan, Osvaldinho e Hélio; Garcia, Tomires e Pavão, Jadir, Dequinha e Jordan.
Os ataques tinham cinco jogadores: Dorval, Mengálvio, Coutinho, Pelé e Pepe; Garrincha, Didi, Quarentinha, Amarildo e Zagalo; Maurinho, Amauri, Gino, Zizinho e Canhoteiro; Sabará, Almir, Vavá, Valdemar e Pinga.
Os estádios recebiam muita gente. Muita gente mesmo. No velho Maraca, então, clássico com 60 mil pagantes, como hoje em dia, era fracasso de bilheteria.
A introdução acima vai, de propósito, ao encontro de um tuíte do querido Luiz Antonio Simas, historiador, professor, conhecedor como poucos das encruzilhadas das ruas e autor do maravilhoso "Maracanã, quando a cidade era terreiro".
Estamos criando uma linguagem analítica no futebol que parece economês. Ou você é iniciado ou vai boiar. Futebol é popular e essa desconexão entre estudiosos e massa torcedora é péssima. A arte da filosofia é falar das coisas complexas de forma acessível. O inverso é enrolação."
A tentativa de "modernização" e alteração da linguagem do futebol acredito que começou com Cláudio Coutinho, capitão do Exército, formado em educação física (fez parte da turma de preparação da seleção brasileira campeã do mundo de 1970) e treinador criativo, competente e vitorioso do Flamengo.
Ele inventou o overlapping (quando o jogador se desloca sem a bola), o ponto futuro (lançamento sei lá pra onde) e a polivalência. Quis inserir o futebol brasileiro no Primeiro Mundo. Como se não soubéssemos o que é futebol. Morreu cedo, aos 42 anos, e apesar da linguagem futebolística rebuscada, não era um sujeito pedante.
Alguns locutores e comentaristas adoraram o novo linguajar, mas não durou muito a esquisitice.
Passaram-se anos até que veio Adenor Leonardo Bachi, o Tite. E aí surgiu o Titês.
Antes dele, melhor de três já tinha virado play-off; jogador coringa, polivalente; ponta em ala; Segunda Divisão em Série B; bandeirinha em "auxiliar que levanta instrumento de trabalho"; passe em assistência; e cera em posse de bola.
Se o técnico da seleção fala em sinapses, performar, treinabilidade, extremos desequilibrantes, jogador terminal e muito mais, o problema é dele. Acho às vezes engraçado, às vezes meras bobagens. Tite é educado, trabalhador e merece elogios. Mas é muito chato quando nas coletivas usa o Titês ao extremo.
O que me causa espécie, como diria o outro, e também me deixa irritado, é a repetição por parte de coleguinhas ou de ex-jogadores, hoje comentaristas (alguns muito bons), de termos que mais parecem economês e pedantismos. Como lembrou o Simas, "futebol é popular e essa desconexão entre estudiosos e massa torcedora é péssima".
Tenho saudades do "Velho Marinheiro" Gentil Cardoso, que dizia que '"vai dar zebra"; "jogador tem que chamar a bola de você, não de excelência"; "quem desloca, recebe, quem pede, tem preferência", e que chamava de cobra o craque do time.
Tenho saudades também do velho Elba de Pádua Lima, o Tim, que explicava suas táticas com botões e tampinhas de garrafa.
Enfim é isso!
E só mais uma coisa pra encerrar: "último terço do campo" é a vovozinha.
Observação importante: quem ainda não assinou a carta às brasileiras e aos brasileiros em favor da democracia, que o faça agora! Já somos mais de 200 mil assinaturas. O link está aí: www.estadodedireitosempre.com
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