Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.
Torcer para um time fantasma faz chorar!
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Você que torce para algum time, seja ele qual for, da Série A, B, C ou D, que eventualmente vai aos estádios, assiste no sofá pela televisão, por algum aplicativo ou mesmo ouve pelo rádio, não faz a menor ideia do que é torcer por um time fantasma.
Não, você não sabe não! E nem queira saber!
Você grita gol muitas vezes, vibra, sorri, abraça os amigos, chora de alegria e de emoção. O que você não sabe, ainda bem, é o que é sofrer por um time fantasma.
E pior, por um time que te maltrata, te cospe na cara, pisa na sua história que vem de longe e vai embora para voltar meses depois com a mesma cara lavada de sempre, com uma desfaçatez absurda.
Assim tem acontecido com a gente, pobres torcedores do time que chamavam de "segundo de todos os cariocas". Os caras surgem, nos fazem sofrer, tripudiam, irritam, nos fazem passar vergonha, nos fazem chorar de tristeza e melancolia.
Há anos que é assim. E cada vez fica pior. Chico Anysio certa vez justificou a virada de casaca dele para o Vasco: "desisti, quero uma velhice mais tranquila e menos infeliz".
Na época do Chico o time ainda não era totalmente fantasma, dava as caras vez em quando proporcionando uma alegriazinha aqui e outra ali. Mas ele, perspicaz e inteligente, sacou pelo andar da carruagem o que viria mais tarde.
Ontem, 17 de agosto, fomos eliminados da Copa Rio, goleados em casa pelo Paduano por 3 a 0. Já havíamos sido eliminados do Campeonato Carioca da Série B. Agora, o time fantasma só voltará a jogar daqui a alguns meses, se é que voltará.
O Paduano é time da 5ª divisão, da pequena cidade de Santo Antônio de Pádua, nordeste do Estado do Rio, lá pelos lados de Miracema, Itaocara e Itaperuna, com uma população de menos de 50 mil almas. E onde nasceu Amaro, jogador campeão pelo America em 1960, no primeiro campeonato do Estado da Guanabara.
O time fantasma nem clube tem mais. Faz oito anos que a sede tijucana foi fechada, e o gramado do estádio Giulite Coutinho, em Mesquita, virou um pasto.
Alguns dos 26 empregados não recebem salários há meses, e os jogadores nem sei como fazem para se manter. A maioria será mandada embora e irá lutar pela sobrevivência em outros lugares. Enfim, uma tragédia.
Assisti ao jogo contra o Paduano, transmitido pelo YouTube, sozinho, diante do meu laptop instalado em uma mesa na sala de casa, olhando junto com a partida a vida lá fora, bem distante de tudo, aqui da Vila Madalena. E definhando a cada gol do pequeno Paduano.
À noite, ainda arrasado e triste, vi as torcidas encherem os estádios no Maracanã, em Itaquera e na Arena da Baixada, fazendo lindas festas com balões, fumaças, bandeiras e gritos de incentivo. Torcedores se abraçavam, sorriam, posavam para as câmeras, casais se beijavam, crianças davam tchau.
Fiquei com inveja, olhos cheios d'água, e me voltei para a triste imagem do jogo da tarde lá no pequeno estádio encravado na Baixada Fluminense.
Havia um ou outro na arquibancada com a camisa do time fantasma, dois ou três torcedores com um bumbo cada um, algumas bandeiras amarradas na grade e um bandeirão da AnarcomunAmerica, "uma torcida fundada por anarquistas e comunistas, mas que possui integrantes de todo o campo progressista, que luta contra a censura nos estádios, contra qualquer tipo de injustiça e a favor do America."
Se não estivesse tão descrente, com vontade de virar casaca como o saudoso Chico Anysio, e tivesse pelo menos uns 30 anos, confesso que me juntava a eles.
Como já estou prestes a completar 76 ... Deixa pra lá!
(O texto de hoje é dedicado aos jovens da torcida AnarcomunAmerica, grupo de 49 participantes, que apesar de todos os pesares, ainda acredita).
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