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OPINIÃO

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O "piti" de John Textor escancara o verdadeiro e maior risco da SAF

Novo dono do Botafogo, John Textor posa no Estádio Nilton Santos - Divulgação/Instagram Botafogo
Novo dono do Botafogo, John Textor posa no Estádio Nilton Santos Imagem: Divulgação/Instagram Botafogo

25/01/2023 20h43

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POR JOSÉ FRANCISCO C. MANSSUR

Foi como se o bilionário norte-americano tivesse tirado uma "venda" dos olhos de nós outros, os "ingênuos que acreditaram que estaria em curso uma mudança verdadeira na estrutura no sentido da modernização do futebol brasileiro."

Com uma frase "A Lei da SAF está quebrada", Mr. Textor deu uma lufada de esperança aos "abutres", aqueles que, atropelados pela realidade do resultado das SAFs em 2022, esperavam uma oportunidade para voltar sua luta em prol do velho, do obsoleto, do antigo e - não deve ser mera coincidência - da defesa dos interesses da "cartoligarquia" brasileira.

A par do lide espalhafatoso, típico do comportamento de alguém que veio ao Brasil para fazer um negócio promissor com uma das marcas mais tradicionais do nosso futebol, mas, logo se perdeu na busca dos holofotes, parecendo mais ambicionar se tornar uma subcelebridade tropical do que um dirigente esportivo de sucesso , John está reclamando de algumas decisões do Poder Judiciário que deram - como já dito em textos anteriores - interpretação à Lei da SAF diferente do que o texto legal realmente diz e, em especial, que foi a intenção do legislador.

Faz parecer que de onde veio não há Poder Judiciário sério e independente, com a prerrogativa constitucional de dar sua interpretação à lei, elemento fundamental ao sistema de freios e contrapesos essencial para a construção do Estado Democrático de Direito.

Todas as leis estão sujeitas e submetidas à interpretação do Judiciário. E isso se dá em um sistema que não é estanque.

Faltou ao Investidor do Glorioso Botafogo examinar como essa mesma situação se deu em relação ao Cruzeiro SAF.

Primeiro, o clube - para o último gáudio dos "abutres", sofreu com os entendimentos que pretenderam responsabilizar a SAF pelas dívidas dos clubes. Porém, a essa altura, o Cruzeiro SAF trabalhou e demonstrou nas instâncias superiores que não é isso que diz a Lei da SAF. Hoje, o Cruzeiro SAF está virando o jogo e muito próximo de consolidar o entendimento correto: a responsabilidade da SAF pelas dívidas do clube existe, porém é mitigada no tempo e na forma.

A consolidação da jurisprudência em torno do argumento, como se dá de forma mais bela em Direito, devolverá a segurança jurídica derivada da correta interpretação legal.

As decisões obtidas pelo Cruzeiro SAF logo irão beneficiar - por extensão de jurisprudência - as outras SAF, logicamente, o Botafogo inclusive. E seu acionista não terá, ao menos esse, motivo para dar "piti".

Todavia, superada a questão, restará escancarada o verdadeiro e maior problema da forma da organização esportiva pretendida pela SAF.

É preciso escolher bem o parceiro para o qual será dada a prerrogativa, quase sagrada, de gerir as grandes marcas dos clubes brasileiros com seus milhões de torcedores e sua rica história.

Porque, até o momento, a gestão John Textor no Botafogo tem se mostrado muito ruim. Investimentos errados, comportamento infantil, decisões intempestivas, megalomania. O Botafogo tem tudo para ser uma SAF de enorme sucesso, mas parece ter recebido investimentos da pessoa errada.

Nada que não possa ser corrigido, ou pela mudança de comportamento do investidor, ou pela sua troca, o que for melhor, mais rápido e mais eficiente. O Botafogo é grande demais para ser gerido por alguém que acha graça passar pulando atrás de um atleta que está se apresentando ao Clube, como uma criança diante de um brinquedo novo. E, agora, constituído como SAF pode encontrar novos investimentos que venham acompanhadas de gestores mais bem preparados.

Então, muito longe de ter colocado em xeque o processo de melhoria do futebol brasileiro, o caso "John Textor x Botafogo" parece ter desnudado o que realmente é perigoso para todo e qualquer clube que estiver pensando em constituir SAF: escolher bem os gestores, porque entregar clubes gigantes aos cuidados de idiotas pode ser realmente a receita do fracasso.


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